A demanda por investimentos de longo prazo tem crescido, mas o financiamento seguirá diminuindo, inquietando governos e setor privado representados em seminário paralelo ao encontro do G-20, ontem, em Moscou.
Em entrevista ao Valor, o vice-ministro de finanças da Rússia, Sergei Storchak, insistiu na importância de o G-20 – grupo que reúne ministros de finanças e chefes de bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia – ter tomado decisões para estimular novas fontes de financiamento para investimentos de longo prazo, na cúpula de agosto. Ele reclamou, porém, que há resistências no grupo das maiores economias.
“Tem um país que continua achando que o G-20 não precisa propor nada, porque pensa que o mercado pode resolver os problemas”, disse, confirmando depois tratar-se dos Estados Unidos.
Stephen Cecchetti, economista-chefe do Banco Internacional de Compensações (BIS), banco dos bancos centrais, estimou que o gap nos investimentos em infraestrutura é de US$ 2 trilhões por ano em média, globalmente.
Esta semana, o Grupo dos 30, reunindo presidentes e ex-presidentes de bancos centrais, publicou relatório mostrando que o Brasil precisará praticamente dobrar os investimentos de longo prazo até 2020 para manter um crescimento mesmo moderado.
O Brasil, Índia e México podem precisar levantar financiamentos de US$ 2,6 trilhões por ano para investimentos de longo prazo dentro de sete anos, comparado ao US$ 1,3 trilhão de 2010 (US$ 400 bilhões por ano no Brasil, US$ 600 bilhões no caso da Índia e US$ 300 bilhões no México).
Ocorre que o capital para projetos de longo prazo tem sido amplamente reduzido pelas turbulências na economia global, que impuseram consolidação fiscal, desalavancagem do setor privado e nova regulação bancária que limita o crédito.
Levantamento apresentado no seminário em Moscou revela que as operações de “project finance” em infraestrutura globalmente caíram dramaticamente, de US$ 300 bilhões em 2007, quando começou a crise, para US$ 100 bilhões no ano passado.
A demanda por investimentos públicos e privados continua crescendo tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, impulsionada pela alta do padrão de vida, urbanização ou até pelas mudanças climáticas.
Já a oferta de capital para esses projetos continuará declinando, conforme os participantes. Uma das razões é o envelhecimento da população nos países ricos, de um lado, e maior consumo nos emergentes, de outro. Tal combinação reduzirá a disposição de poupar em nível global, fazendo o capital se tornar mais custoso nos próximos anos, diz Giovanni Tempini, presidente do Fondo Stretico Italiano.
Boa parte dos analistas defende uma reforma no sistema financeiro internacional, para evitar que o fluxo de financiamento para investimentos de longo prazo nos próximos anos caia ainda mais.
Existem inúmeras propostas para a criação de novos instrumentos para reforçar a base de poupança. São recursos que podem ser direcionados para investimentos em infraestrutura, educação, pesquisa e desenvolvimento, habitação e expansão de negócios, a fim de permitir, ao menos, um crescimento econômico moderado no futuro.
Mas o vice-ministro russo Storchak admitiu que pouco ou nada vai aparecer no comunicado dos ministros de finanças no sábado. “A realidade está aí, mas é preciso superar muitas divergências ainda”, disse.
A Rússia engajou também o setor privado nas discussões, por meio do B-20 (Business-20, que reúne a comunidade corporativa). Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), é um dos representantes do Brasil. Ele coloca ênfase no exame de financiamento, garantias de projetos, identificação de marcos regulatórios, casos de sucesso e unificação de padrão contábil das empresas que participam de concessões e de Parceria Publico Privada (PPP).
Segundo Godoy, o Brasil está investindo em infraestrutura cerca de US$ 90 bilhões por ano, mas o volume é ainda insuficiente.