Esteves levará fundos soberanos a Eike

  • 07/03/2013

O empresário Eike Batista poderá, finalmente, respirar aliviado, depois de chegar muito próximo de esgotar o fôlego financeiro de seu grupo, o EBX, de ver o valor de suas empresas em bolsa definhar e, por consequência, perder o acalentado posto de homem mais rico do país. O empresário fechou ontem um acordo com o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, que ajudará a injetar crédito e capital nos projetos do grupo.

O acordo, chamado de “cooperação estratégica de negócios”, prevê ainda que o BTG prestará assessoria financeira ao grupo EBX, e irá além, envolvendo-se na administração propriamente do negócio, por meio de um comitê de gestão e estratégia financeira, que se reunirá semanalmente. O grupo como um todo precisa melhorar sua estrutura de capital.

“O BTG poderá adicionar capacidade de execução e algum capital à grande capacidade de formulação de projetos de Eike Batista”, disse um executivo que participou da costura do acordo.

A proposta de iniciar as conversas para um acordo partiu de Esteves e, embora o empresário e o banqueiro conversassem há mais tempo, o desenho do acordo tomou corpo nas últimas três semanas. Foi costurado pessoalmente por Batista e Esteves, que se encontraram diversas vezes nas últimas semanas, inclusive para visitar projetos do grupo EBX.

O Valor apurou que, no curtíssimo prazo, a ideia é que o BTG ajude o grupo EBX a reestruturar e vender alguns ativos. Um dos primeiros candidatos a venda é a elétrica MPX, que está sendo negociada com a alemã E.ON. Ontem, a EBX e a BP Products North America, do grupo BP, fecharam contrato para a formação de uma companhia para distribuição de combustíveis marítimos. A empresa será instalada no Porto do Açu, da LLX.

Pelo acordo com o BTG, a ideia, a princípio, é que as injeções de capital pelo banco não sejam feitas nas empresas do grupo mas sim em projetos específicos. Nesses casos, além de usar capital do banco, Esteves pretende trazer também investimentos de fundos soberanos que já são sócios do BTG, como os de Cingapura, China e Abu Dabi.

Esses investidores têm grande interesse em projetos de infraestrutura no país, mas costumam preferir que um sócio local também injete algum dinheiro no negócio.
De qualquer forma, as empresas de Batista pretendem manter o relacionamento bancário com outras instituições, até porque o BTG não teria condições de suprir sozinho a necessidade de crédito do grupo.
A remuneração do BTG será atrelada à performance das ações do grupo EBX. As ações da OGX, de petróleo, estão próximas da mínima histórica. E fenômeno semelhante se repete com LLX (logística), MMX (mineração), OSX (construção naval) e MPX.

Há uma avaliação interna de que com investimentos bem menores do que os já feitos pelo grupo será possível concluir projetos e recuperar o valor das empresas. “Nesse tipo de projeto, não adianta você investir 90%, se faltar aqueles últimos 10%, o projeto vale zero”, diz um executivo próximo. “É claro que no caso da OGX tudo vai depender de quanto petróleo haverá. Mas em outros projetos, é uma questão de finalizar investimentos”, completou.

Para hoje, é esperada uma recuperação forte dos papéis das empresas do grupo (ver texto na página C2). E isso representará fortes perdas para investidores que vinham apostando suas fichas contra as empresas de Batista na bolsa, especialmente fundos multimercado com estratégia “long short” (comprada e vendida). O volume de aluguel de ações da OGX, por exemplo, está na máxima histórica, o que dá uma ideia do tamanho da aposta na queda dos papéis da empresa. Para montar uma posição vendida, que aposta na baixa, o investidor precisa alugar os papéis detidos por outros investidores. Ontem, depois de subirem durante o dia, as ações da OGX, MMX e LLX bateram o limite de oscilação permitido de 2% no after market da bolsa.

Já há alguns meses, o mercado questionava as condições de liquidez do grupo EBX. Embora a holding tenha capital fechado, o fato de quatro grandes empresas do grupo terem capital aberto as obrigava a dar um pouco mais de transparência a sua condição financeira. As informações mais recentes foram de aportes, no ano passado, de US$ 2 bilhões feito pelo Mubadala Development Company, empresa de investimento de Abu Dabi, e de outros US$ 300 milhões da GE. Ao mesmo tempo, Batista, que já vinha se configurando como um grande financiador de suas empresas, tinha se comprometido a colocar recursos na OGX (US$ 1 bilhão) e OSX (US$ 1 bilhão), além de ter, praticamente sozinho, suportado um aumento de capital de R$ 1,37 bilhão na MMX.

Desde que, em meados de janeiro, houve o anúncio do fechamento de capital da CCX Carvão da Colômbia, com pagamento em ações e não em dinheiro, as dúvidas sobre o caixa da holding se acentuaram.

Investidores questionavam a falta de resultados em seus projetos e mostravam a desconfiança penalizando as ações. Os aumentos de capital anunciados por Batista eram interpretados como iniciativas do empresário para equilibrar as estruturas de capital das companhias. O empresário, de certa forma, garantia o capital para que as empresas pudessem pegar mais dívida.

Assim, o BNDES passou a ser um parceiro mais frequente. No momento, a MMX aguarda aprovação de financiamento de R$ 3 bilhões por parte do banco para a expansão das minas de Serra Azul (MG). A OSX também entrou com pedido de empréstimo no BNDES para a construção de uma plataforma de petróleo.

A partida dos projetos de Batista foi dada com o dinheiro dos investidores da bolsa. Por meio de ofertas de ações, desde 2006, suas empresas captaram R$ 13,6 bilhões dos investidores. Mas a fonte secou por causa da mudança das condições do mercado e, principalmente, pela crescente desconfiança dos investidores em relação ao grupo.
No BNDES, o grupo já levantou quase R$ 10 bilhões desde 2005.

Nas últimas semanas, voltaram a circular informações sobre as negociações de Batista para vender ativos. Ele encontrou-se com executivos da Petronas, da Malásia, para vender uma fatia na OGX.

Enquanto finalizava o acordo que lhe trará alívio, Batista teve ontem uma baixa em seu time. Eduardo Eugênio Gouvea Vieira, que desde 14 de janeiro ocupava a vice-presidência do grupo EBX, deixou o cargo. Sua saída, segundo pessoas próximas, não teve relação com a chegada do BTG. Estaria relacionada a divergências de visão empresarial em relação a Batista.

Fonte: Vanessa Adachi, Ana Paula Ragazzi e Heloisa Magalhães – Valor Econômico – São Paulo e Rio de Janeiro.
07/03/2013|Seção: Notícias da Semana|Tags: , , |