A aquisição de máquinas e equipamentos no exterior tem sido a principal rota da inovação no Brasil, levando a um crescimento acelerado das importações e, consequentemente, redução do superávit comercial do país. Em 2012, o saldo foi positivo foi de US$ 19,43 bilhões entre importações e exportações. Foi o menor superávit em dez anos. Boa parte desse resultado pode ser atribuída à indústria de transformação, na qual se inserem as máquinas e equipamentos importados pelas empresas para seus processos de inovação.
De acordo com estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a balança comercial de bens tipicamente produzidos pela indústria de transformação registrou em 2012 um déficit recorde de US$ 50,6 bilhões, comparado a um resultado negativo de US$ 48,7 bilhões no ano anterior. Dez anos atrás, em 2002, o intercâmbio comercial do setor havia sido superavitário em US$ 7 bilhões.
Abertura mais detalhada dos números revela que os maiores déficits estão centrados nos bens de média e alta intensidade tecnológica como máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos, produtos químicos e materiais de transportes. “Não apenas aumentamos as importações de bens de capital como diminuímos as exportações de bens manufaturados”, destaca Daniel Keller de Almeida, consultor do Iedi.
De acordo com a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a compra de máquinas e equipamentos responde por 78,1% dos investimentos em inovação das empresas, enquanto o percentual dedicado à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) recebe a menor parcela (cerca de 15%).
A Pintec é de 2008, mas o cenário pouco mudou, segundo Almeida: “Grande parte da inovação que resulta em ganhos de produtividade tem a ver com aquisição de máquinas e equipamentos.” A necessidade das empresas em acelerar a inovação para enfrentar a acirrada competição com produtos de outros países mais adiantados em termos tecnológicos está por trás desse movimento.
Em outro estudo, no qual compara o estágio de desenvolvimento tecnológico do Brasil ao da China – hoje o maior concorrente no comércio mundial – o Iedi aponta as desvantagens do Brasil. Entre 2000 e 2009, o gasto da China em P&D passou de 0,9% do PIB para 1,7%, enquanto o Brasil foi de 1,0% para 1,2% do PIB. “Mas, esse número conta apenas parte da história. Como o PIB da China multiplicou-se por três naquele período e o do Brasil cresceu pouco mais de 60%, o crescimento do gasto da China foi, de fato, muito maior”, aponta o estudo do Iedi.
As estatísticas mostram, porém, que tem havido um investimento crescente em P&D, porém ainda não suficiente para encarar a concorrência. “Estamos em um processo de acirramento grande do ambiente de competitividade como reflexo da crise [financeira internacional]”, diz Rafael Lucchesi, diretor de educação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A ampliação da P&D como instrumento de inovação poderia reduzir a necessidade de compra de máquinas e o governo tem feito um esforço nesse sentido, com programas de incentivo cujo exemplo mais recente é o Inova Empresa. José Alfredo Delgado, diretor de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) reitera: “Importar máquinas não é inovação”. Para o representante dos fabricantes de máquinas, as empresas deveriam investir em P&D tendo o maquinário como acessório. Delgado afirma que as aquisições de máquinas e equipamentos que afetam a balança comercial não têm tanto a ver com inovação, mas sim com o câmbio favorável (à importação).
O executivo da Abimaq garante que o setor não é contra a importação de equipamentos sem similar nacional para estimular o processo inovador no país. Mas no longo prazo, a importação generalizada, sem um foco preciso em inovação, provoca a desindustrialização do país. “A aquisição de máquinas e equipamentos sempre será maior que o investimento em P&D [quando se trata de inovação] em qualquer país”, completa Lucchesi. No entanto, diz o especialista, os investimentos em P&D, que deveriam ser a base da inovação tecnológica nas empresas brasileiras, ainda são muito baixos, tanto em relação aos países industrializados quanto em comparação com aqueles que estão no mesmo estágio de desenvolvimento do Brasil, especialmente os chamados BRICs. Só estamos na frente dos vizinhos latino-americanos.
Almeida não vê saída: “Temos de aceitar o déficit acentuado na balança de bens de capital”, diz, lembrando que o investimento em P&D ainda é muito baixo.
A solução para esse dilema, concordam Keller de Almeida e Rafael Lucchesi, é o desenvolvimento da indústria nacional de bens de capital, com o estímulo às exportações. “Do lado das importações, é preciso pensar em reduzir as compras de bens não associados ao desenvolvimento tecnológico”, sugere o consultor do Iedi. Os especialistas também cobram do governo uma agenda que inclua a política cambial.