O comércio entre Brasil e países africanos, em sua quase totalidade, é feito por via marítima. Mesmo assim, em que pesem a proximidade física, os laços culturais e os esforços governamentais, não existem conexões diretas e regulares entre as duas regiões. A carga pesada, composta sobretudo por commodities transita em petroleiros e graneleiros contratados para esse fim, por viagem ou tempo. Os demais produtos, transportáveis em navios porta-contêineres, seguem roteiro caótico. Em geral, se o destino é a costa oeste africana, o trajeto envolve transbordo em algum porto europeu.
“É um transporte caro e demorado que trava o crescimento dos negócios entre as regiões”, diz Altair Maia, pesquisador e consultor internacional. Segundo ele, a costa Leste africana é mais bem servida por navios que saem do Brasil para a Ásia e Oceania e fazem escala em países como África do Sul, Moçambique e Tanzânia. Já a costa Oeste, mais próxima do Brasil, permanece isolada. “Porta-contêineres que partem do Brasil para a Europa passam a menos de 500 milhas da costa africana mas não fazem escalas porque o volume de carga por viagem não compensa”, diz.
Como consequência, um transporte que poderia ser feito em cinco a sete dias demora de 35 a 100 dias, dependendo do destino. O importador africano ainda tem de enfrentar a multiplicação dos custos do frete decorrente das baldeações. “Um contêiner não refrigerado custa mais de US$ 4 mil para países como Guiné-Bissau, Serra Leoa, Libéria e Congo, e para a Europa custa a metade disso”, diz Maia.
O especialista defende a transformação de portos do Nordeste em hubs a partir dos quais mercadorias de todo o país seriam enviadas a algum porto africano, por rotas já existentes.
As conexões incipientes, tanto marítimas quanto aéreas, implicam desperdício de oportunidades sobretudo para a manufatura brasileira, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “A África tem tudo para ser um grande mercado consumidor de nossos produtos manufaturados, e no entanto é muito pequeno”, diz Castro.
Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Wagner Ferreira Cardoso, secretário-executivo do conselho de infraestrutura, defende a geração de um círculo virtuoso em que a ampliação dos transportes resulte em mais volumes e economia de escala. “O aumento da escala é decisivo para a redução do custo e atração de novas empresas de navegação para o tráfego”, diz Cardoso.
Ele diz que a ligação entre países melhorou com a aproximação comercial entre Brasil a África, e destaca iniciativas como o Fórum IBAS, que promove a cooperação entre Índia, Brasil e África do Sul. “O esforço do IBAS trouxe benefícios como o acordo de transporte aéreo de passageiros e de cargas entre Brasil e África do Sul que define quantidade de voos, tipos de aeronaves, número de empresas aéreas que podem prestar serviços e definição das tarifas, entre outros aspectos”, diz.
Nenhuma companhia brasileira tem voos para a África. Segundo a Embratur, 92,3 mil turistas africanos visitaram o Brasil em 2012 (97% por via aérea), ou 1,6% do total de turistas recebidos no país, naquele ano. A Anac calcula em 300 mil passageiros a participação da África no tráfego aéreo internacional do Brasil, 1,7% do total.