Superávit de grandes exportadores encolhe 65%

  • 20/05/2013

As empresas de manufaturados que mais exportavam em 2007, antes da crise, perderam espaço no exterior e aumentaram as importações cinco anos depois. Somado o desempenho das 25 maiores exportadoras daquele ano, o Brasil “perdeu” US$ 9 bilhões da balança comercial, considerando as duas pontas. Levantamento feito com essas companhias mostra que apenas quatro delas aumentaram o superávit, enquanto o total de embarques caiu 11,8% e as compras subiram 36,8%.

Foco maior no consumo doméstico, desaceleração de mercados maduros e dificuldade de competição com os estrangeiros são os motivos apontados por analistas e empresas para a redução do superávit do grupo, de US$ 13,7 bilhões, há cinco anos, para US$ 4,7 bilhões em 2012, 65% a menos.

O encolhimento de dois terços no saldo positivo foi mais severo do que a contração do resultado do comércio exterior brasileiro na mesma comparação, que passou de superávit de US$ 40 bilhões para US$ 19,4 bilhões.

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A queda, contudo, não foi generalizada entre as 25 empresas. Embraer – maior exportadora de manufaturados do país – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, Gerdau e Suzano Celulose conseguiram aumentar seus saldos comerciais. Ao mesmo tempo, entre as 25 companhias, seis ou se fundiram com outros grupos de seu setor ou pararam de produzir no Brasil.

O movimento de baixa foi puxado pelas quatro maiores montadoras do país, que passaram do azul para o vermelho na balança comercial. Há seis anos, Volkswagen, GM, Ford e Fiat fizeram um saldo positivo de US$ 3,1 bilhões para o comércio exterior. No ano passado, o resultado ficou deficitário em US$ 1,8 bilhão, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Procuradas, GM e Volkswagen não comentaram os números.

A Renault também não ficou de fora. Apesar de as exportações crescerem 74%, as importações aumentaram 218% e alcançaram US$ 1,59 bilhão, valor maior do que os US$ 1,2 bilhão em vendas ao exterior.

A Motorola registrou fenômeno inverso, mas também transformou um superávit em déficit. Sem exportar nem um dólar no ano passado, as importações foram da ordem de US$ 488 milhões. A multinacional americana informou que “praticamente toda a produção brasileira da empresa tem sido absorvida pelo mercado interno nos últimos anos”. O resultado se deve ao crescimento da demanda doméstica, considerado significativo, e “ao aumento de barreiras comerciais de alguns países da América Latina, como Argentina e Venezuela”, principais mercados consumidores da produção brasileira.

Scania e Whirpool, por exemplo, dos setores automobilístico e de eletrodomésticos, diminuíram os embarques e aumentaram os desembarques. Procuradas, as empresas também não se pronunciaram sobre o assunto.

Houve também quem conseguiu aumentar as vendas ao exterior em 40%, mas mesmo assim viu o superávit encolher drasticamente. De 2007 a 2012 a Braskem importou 214% a mais, e o saldo positivo não passou de US$ 5 milhões no ano passado.

O movimento geral das maiores exportadoras mostra “um sinal claro de que a indústria perdeu muita competitividade no período pós-crise”, analisa Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp. Como as micros, pequenas e médias empresas brasileiras exportam pouco, o resultado das 25 maiores revela um quadro geral da indústria manufatureira do país. “Temos uma dependência forte da empresa grande. Se elas vão mal, a balança vai mal”, diz.

Os dados apontam para três movimentos das manufaturas depois da crise de 2008. Importação maior para abastecer o mercado interno, “como é o modelo das automobilísticas”, orientação maior da produção para o consumo doméstico em função da dificuldade em aumentar a presença em mercados em desaceleração ou com forte concorrência com asiáticos, ou “simplesmente diminuição da exportação por falta de competitividade”, de acordo com Gomes de Almeida.

As empresas que conseguiram atrair mais divisas externas foram aquelas que tiveram êxito em acompanhar o avanço técnico da indústria global, segundo José Tavares Araujo Junior, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes).
Um exemplo do aumento nos níveis de comércio exterior é a Caterpillar, que elevou as exportações em 62% e as importações em 11%, fazendo o saldo positivo ir a US$ 904 milhões. De acordo com Luiz Carlos Calil, presidente da empresa no Brasil, a companhia traçou uma estratégia para se posicionar melhor no mercado de exportação, investindo na modernização do processo produtivo e aumentando o mix de máquinas oferecidas ao mercado. “Isso deu um impacto muito positivo no nosso posicionamento externo. Procuramos também desenvolver mais nossa base de fornecimento, diminuindo a dependência de importações”, diz. Atualmente, a Caterpillar exporta para mais de 120 países.

Olhando o quadro geral, Araujo Junior diz que a indústria atualmente enfrenta dois grandes fatores que limitam o aumento do nível de produção e exportação: as barreiras tarifárias para bens de capital e insumos importados, que aumentam o custo de produção de toda a cadeia produtiva, e a ineficiência da infraestrutura, que encarece os produtos.

“Há empresas que podem ter se voltado mais ao mercado interno ou passado a comprar componentes mais sofisticados, o que indica uma melhora na qualidade e competitividade. O que precisamos mesmo é de uma política industrial que se desvincule da ideia de que o comércio exterior serve para atrair divisas internacionais. Isso permeia a política industrial brasileira desde sempre”, afirma.

Para o diretor, um aumento no nível de importação “não é necessariamente ruim”. Se as empresas estão obtendo no exterior produtos mais baratos que ajudam em uma produção mais competitiva, o ganho delas vai se espraiar para outros setores da economia. “A ideia de que a indústria é para fechar balança comercial precisa ser revista.”

Fonte: Valor Econômico / Rodrigo Pedroso
20/05/2013|Seção: Notícias da Semana|Tags: |