“Está ruim.” Com duas palavras e sem rodeios, o CEO da ArcelorMittal Aços Longos Américas, Jefferson De Paula, resumiu, nesta quinta-feira, em Porto Alegre, o humor do setor siderúrgico brasileiro na metade de 2013. O quadro é agravado por três componentes – protestos nas ruas e estradas, que estariam gerando incertezas sobre o nível de consumo futuro, importações de bens finais e ocupação de 70% da capacidade instalada das plantas brasileiras, nível mais baixo nos últimos anos. O setor vinha operando com ocupação de 85% a 89%. Para piorar a equação de executivos como De Paula, os dados recentes da atividade industrial brasileira, com recuo de 2% em maio, significaram um balde de água fria.
O indicador de preocupação subiu, porque o freio foi puxado exatamente pelo maior comprador de aço, a indústria automotiva local. De Paula apontou que os próximos meses também sinalizam ritmo mais lento da produção de bens. “É a instabilidade da economia, que se alimenta de expectativas. As manifestações geraram redução de consumo”, identificou De Paula. Sobre menor ritmo, a avaliação do executivo é que muitos setores podem estar operando com estoques, adiando encomendas. A carteira de pedidos de junho da ArcellorMittal na área do CEO no País registrou queda de 5% a 8% no volume contratado pelos clientes, com impacto generalizado dos setores. “Começamos o ano projetando crescimento de 4,5%, revisamos para 3% e podemos ficar abaixo de 2%”, disse o executivo, que traçou panorama no setor e situação mundial e local em evento da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS).
Crescimento comedido ou baixo virou marca do segmento na última década. A média de expansão anual do consumo em 10 anos ficou abaixo de 2%, enquanto o mundo avançou 3,5%. “Crescemos 30% menos que o mundo”, contrastou o executivo. Com capacidade de produção de 35,5 milhões de toneladas para 2013, a indústria siderúrgica local projeta consumo de pouco mais de 22 milhões de toneladas neste ano. Desse total, pelo menos 9 milhões serão abastecidos por importações – 6 milhões de toneladas de aço embarcadas em produtos prontos (carros, geladeiras e outros itens que usam a matéria-prima) e outros 3 milhões em material para transformação interna.
Mesmo o ajuste do câmbio em andamento não deve amenizar o que De Paula frisou como perda de competitividade do produto nacional. A conta do setor é que a desvantagem de preço chegue a 40% frente aos maiores players – o que inclui custo de infraestrutura, tributação e câmbio. O pacote adverso seria responsável por rebaixar o Brasil a sexto mercado mundial de aço. “O câmbio deveria ser de R$ 2,50 a R$ 2,55. A redução de alíquotas da conta de energia teve efeito nulo”, ponderou o CEO. Neste último caso, o que atrapalhou foi o aumento da despesa com a injeção de energia de fonte térmica – mais cara – no sistema.
Operar com baixa ocupação da capacidade implica adiar reposição de investimentos. De Paula exemplificou que a companhia pode processar 8,5 milhões de toneladas anuais de aço, mas deve chegar a 4,5 milhões de toneladas neste ano. A saída para amenizar o retorno menor é elevar a eficiência das unidades.