Encontrar um novo emprego já demora mais

  • 11/10/2013

O menor ritmo de criação de vagas de emprego neste ano provocou um aumento no tempo de procura por uma vaga. Embora a geração de postos de trabalho ainda seja suficiente para manter a taxa de desocupação estável, a parcela da população desempregada em busca de um emprego entre 31 dias e seis meses aumentou de 51,3% nos oito primeiros meses de 2012 para 56% em igual período de 2013.

Ao mesmo tempo, uma rápida recolocação ficou mais difícil. Entre janeiro e agosto do ano passado, em média 27% dos desocupados relataram que demoraram menos de 30 dias para encontrar um novo emprego, porcentagem que caiu para 23,1% em igual período deste ano. Os dados são da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A situação, no entanto, ainda está longe de mostrar piora acentuada do mercado de trabalho. Ainda é raro, por exemplo, que o tempo de busca por emprego seja superior a um ano, segundo o IBGE. Na média dos oito primeiros meses do ano, 13,8% dos empregados estavam em busca de uma vaga há mais de um ano, percentual que era de 14,5% no ano passado.

Para José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o tempo um pouco maior de procura por um emprego neste ano está relacionado ao fato de que, apesar da melhora do ritmo de atividade econômica, a geração de vagas está em trajetória de desaceleração. Até agosto, a população ocupada cresceu 1,2% sobre igual período de 2012. Se o avanço da ocupação tivesse mantido o mesmo ritmo observado no ano passado, quando o aumento foi de 1,8%, 135 mil vagas a mais teriam sido criadas no período. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mensura o emprego formal, mostra retrato parecido. Até agosto, o saldo entre admitidos e desligados foi de 827 mil, 25% menor do que no mesmo período de 2012.

No entanto, ainda que a oferta de vagas de trabalho tenha avançado a um ritmo mais lento, não houve aumento da taxa de desemprego porque a população economicamente ativa (PEA) também mostrou expansão modesta no período, diz Camargo – 1,1% nos oito primeiros meses deste ano -, o que explica a redução de pouco menos de 0,1 ponto percentual da taxa de desemprego na média de 2013. “O problema, neste cenário, é que quem acaba demitido tem mais dificuldade para se recolocar”.

Para Roberto Picino, diretor da empresa de recrutamento Page Personnel, há de fato moderação no ímpeto com que as empresas têm contratado novos funcionários. Picino, que se concentra na seleção de analistas com salário entre R$ 4 mil e R$ 9 mil, avalia que o momento não é de desaquecimento do mercado de trabalho, e sim de estabilidade. “Como ainda temos algumas incertezas na economia, as empresas estão mais cautelosas e avaliam com mais cuidado a real necessidade de contratar um novo profissional”.

Um dos reflexos dessa nova dinâmica no mercado de trabalho, afirma, são que os processos seletivos estão mais rígidos e criteriosos. “É um processo quase cirúrgico, as empresas procuram profissionais com formação, experiência e perfil bastante específicos”. Com menos pressa, as companhias passaram a ceder menos na busca pelo profissional desejado, o que trava mais o mercado de trabalho. A demanda menor por profissionais, diz, também reflete sobre os salários oferecidos, que deixaram de ser “astronômicos”, qualifica.

Fabio Romão, economista da LCA Consultores, projeta que neste ano o crescimento médio da renda real dos trabalhadores será significativamente menor do que o do ano passado. Em sua avaliação, essa forte desaceleração é reflexo da criação bem menor de empregos neste ano e também da inflação mais alta observada no primeiro semestre do ano, que tirou poder de compra dos salários. Romão diz que o avanço do rendimento deve se estabilizar, mas avalia que, de fato, “o melhor momento do mercado de trabalho ficou para trás”.

Ana Carolina, que preferiu não ter o sobrenome divulgado, encontrou em 2010 um emprego em um grande banco logo após ter se formado em administração de empresas pela Universidade Paulista (Unip). Em meados de 2012, por causa de problemas familiares, Ana Carolina deixou a instituição e aproveitou o tempo vago para iniciar uma especialização em inovação e projetos na Universidade de São Paulo (USP) e só voltou a procurar trabalho no começo de 2013. A surpresa, conta, é que apesar de hoje falar inglês avançado e ter melhorado sua qualificação, está mais difícil encontrar uma vaga compatível com suas aspirações.

Os dados do IBGE também evidenciam que profissionais mais qualificados encontram mais dificuldades para se recolocar no mercado. O levantamento mensal do IBGE mostra que do total de desocupados, 57,8% têm mais de 11 anos de estudo, enquanto apenas 16,6% dos desempregados passou menos de 8 anos na escola. Há, ainda, maior contingente de desocupados entre as mulheres (56,2%).

Ana Carolina afirma que, apesar de enviar currículos quase diariamente, as vagas ofertadas ofereciam remuneração inadequada, na sua avaliação. Após seis meses de procura, ela aceitou ganhar 30% menos do que na ocupação anterior para ser assistente financeira em uma empresa de pequeno porte que oferece serviços estéticos. No atual cargo, Ana Carolina também não tem os mesmos benefícios que eram disponibilizados pela empresa anterior, como plano de saúde. “Minhas exigências diminuíram porque o pior é ficar parada”, afirma.

Não são apenas os profissionais com pouca experiência que enfrentam alguma dificuldade para voltar a trabalhar. Um executivo da área de tecnologia de informação com cerca de 20 anos de experiência, formado em engenharia pelo Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), perdeu o emprego numa empresa de manufatura há um ano e três meses e ainda não conseguiu se reposicionar no mercado de trabalho. “Participei de várias entrevistas e o tempo de busca está mais longo”, relata o executivo, que conta ter colegas na mesma situação que encontram dificuldades semelhantes.

O executivo relata que, em alguns casos, as empresas decidiram, no meio do caminho, promover internamente outro profissional da empresa ou suspender o processo de contratação, ou contratar o serviço de uma empresa terceirizada. “O momento atual está deixando as empresas em uma maior indefinição”, diz. O próprio executivo foi, de alguma forma, “beneficiado” por esse processo, já que atualmente presta consultoria para uma start-up. “Embora não seja um contrato por prazo definitivo como eu gostaria, é uma oportunidade interessante. Mas continuo com um olho aqui e outro fora do mercado”, afirma.

Para Camargo, mesmo um avanço modesto, de cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, tende a manter a taxa de desemprego praticamente estável, por causa de questões demográficas como a redução da taxa de participação (a população em idade ativa que trabalha ou está em busca de emprego).

Romão também avalia que após a piora do mercado de trabalho na passagem de 2012 para 2013, a tendência é de manutenção do ritmo atual.

Fonte: Valor | Tainara Machado | De São Paulo
11/10/2013|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |