O Instituto Aço Brasil (IABr), que representa as siderúrgicas brasileiras, pediu ao governo que pressione a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para tomar uma atitude em âmbito global para reduzir a capacidade de produção de aço no mundo, atualmente em uma situação de excedente de 542 milhões de toneladas.
Segundo o presidente do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, o excedente previsto para o ano que vem é de 600 milhões de toneladas e, por muito menos que isso, quando o excesso de capacidade era de 150 milhões de toneladas, os países da OCDE já se reuniram no passado para exigir a redução de capacidade global de aço.
A questão foi um dos principais problemas citados pelos empresários do setor durante evento da Worldsteel, associação que representa 170 siderúrgicas em todo o mundo, que aconteceu em São Paulo ontem e na segunda-feira. Em breve balanço sobre o evento, André Gerdau, presidente da Gerdau, destacou as discussões sobre a capacidade de produção global e afirmou que a perspectiva de crescimento do setor é grande, “mas a capacidade instalada também”.
Apesar de discordarem das soluções para o problema, os participantes concordaram que a questão é a mais preocupante da indústria no momento. Uma das saídas apresentadas foi a redução de 300 milhões de capacidade, sugerida pelo diretor da McKinsey, Sigurd Mareels, que afirmou que 60% das siderúrgicas globais operam hoje com Ebitda negativo. Já Peter Marcus, analista da consultoria World Steel Dynamics, defendeu que o próprio mercado e a habilidade de gestão das empresas podem ser suficientes para um bom desempenho da siderurgia global.
Segundo o presidente do IABr, há previsões de que empresas da China, do Oriente Médio e do Norte da África adicionem 190 milhões de toneladas de capacidade nos próximos três anos.
Para que exista um movimento de redução de capacidade global, afirma Lopes, é preciso que sejam tomadas medidas em esferas governamentais e não privadas. Caso contrário, eventuais indicações de procedimento para as companhias poderiam ser caracterizadas como atitudes anticompetitivas.
Hoje, existe uma restrição à Wordsteel para que decisões não sejam tomadas a partir de discussões entre as associações e companhias. O que pode ser feito, segundo Lopes, são debates sobre a situação global, com sugestões de possíveis soluções e tendências, como aconteceu em São Paulo nesta semana.
Em defesa das empresas brasileiras, o presidente do IABr disse que já transmitiu ao governo a necessidade de que a OCDE seja pressionada a buscar soluções para a questão do excedente global de capacidade do setor. Na opinião dele, outras associações provavelmente farão o mesmo. Na Europa, a principal associação siderúrgica, a Eurofer, afirmou no início deste ano que a região precisaria cortar 25% de sua capacidade total, de 210 milhões de toneladas, para poder ser competitiva globalmente.
Entre as possibilidades de contrapartidas para as companhias que tivessem de cortar sua capacidade de produção, caso a OCDE chegasse a uma decisão neste sentido, poderiam ser pagas indenizações, diz Lopes. “É possível buscar soluções criativas.”
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, esteve no evento na segunda-feira e mostrou sensibilidade ao tema. Ele afirmou que o governo brasileiro vem agindo para estimular o crescimento do consumo de aço no Brasil, o que deu algum conforto ao empresário Lakshmi Mittal, presidente global da ArcelorMittal. “O ministro mostrou intenção de dar apoio à indústria brasileira do aço e queremos participar deste crescimento”, disse.
Na opinião da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, a tendência é que o consumo de aço cresça no Brasil e a indústria de óleo e gás vai contribuir para isso. Ela indicou que a Petrobras terá grande necessidade do insumo e citou como exemplos uso de aço para os cascos de navios petroleiros e para estruturas em condições diferenciadas, como em águas profundas, o que pode exigir produtos especiais. “Temos diversas atividades contratadas e o aço faz toda a diferença para nós.” Segundo Graça, a Petrobras caminha para terminar o ano com investimentos de US$ 50 bilhões, após ter investido US$ 45 bilhões no ano passado e terá 800 poços para perfurar nos próximos seis anos.
Sobre descobertas recentes da empresa em águas profundas, em Sergipe, Graça Foster disse ter sido uma “bela descoberta”, “excepcional”. Questionada sobre se o desenvolvimento de projetos no local poderia ser uma pressão para a companhia, ela afirmou que “uma nova descoberta é tudo que uma empresa de petróleo quer”. A quantidade de barris de óleo equivalente (BOE) da nova descoberta ainda não pode ser divulgada, segundo a executiva, pois a Petrobras está fazendo testes.