Empresas de petróleo inovam para explorar mais fundo

  • 14/11/2013

Depois do vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010, o maior da história dos Estados Unidos, muito se falou sobre a possibilidade de a exploração marítima diminuir.

Em vez disso, aconteceu o oposto. Desde outubro de 2010, quando foi cancelada a suspensão da perfuração em águas profundas nos EUA imposta em maio daquele ano, a exploração no Golfo do México continuou sem interrupção e ainda ganhou um novo impulso, como no resto do mundo. Hoje, a perfuração em águas profundas – 150 metros ou mais abaixo da superfície do mar – permanece sendo a próxima grande fronteira da produção de petróleo e gás natural.

Alguns ambientalistas já se mostraram receosos de que o aumento da exploração marítima traga novos riscos de vazamentos ou outros danos ao meio ambiente. “Não sabemos qual é o impacto total do vazamento da Deepwater Horizon [a plataforma que explodiu no Golfo do México] sobre o ecossistema”, diz Sean Dixon, um advogado especializado do grupo de proteção ambiental Ação Oceano Limpo, do Estado americano de Nova Jersey. “E todas as outras opções, como eficiência e conservação da energia, não foram totalmente exploradas.” Então, diz ele, não é inteligente “procurar mais combustíveis fósseis através da perfuração em águas profundas quando ela pode ter consequências graves para o meio ambiente”.

Mas as petrolíferas afirmam que novas tecnologias estão tornando a perfuração mais segura tanto para o meio ambiente como para os trabalhadores, e elas estão gastando milhões de dólares no desenvolvimento de novas técnicas de produção destinadas a aumentar a eficiência da perfuração em águas profundas e abrir novas áreas à produção.

A perfuração em águas profundas vem sendo incentivada em parte pela crescente incerteza política nas regiões produtoras da África e do Oriente Médio.

“À medida que o acesso a novas reservas convencionais fica mais difícil, [as petrolíferas internacionais] estão se voltando para explorações mais complexas, como a de águas profundas”, afirmou num relatório do ano passado o IFP Énergies nouvelles, um instituto francês de pesquisa sobre petróleo. “O preço do barril de petróleo consistentemente mais alto permite aos produtores justificar as mais avançadas, e portanto as mais caras, tecno-logias necessárias para fazer os campos produzirem.”

Segundo a consultoria norueguesa de petróleo e gás Rystad Energy AS, os campos de águas profundas devem responder, até 2020, por 13% da produção mundial total de petróleo cru e condensados de gás natural, comparado com 10% no ano passado.

A produção de petróleo dos 48 Estados da parte baixa dos EUA, proveniente em grande parte do Golfo do México, deve crescer 18% até 2020 em relação aos níveis de 2011, graças à exploração em campos com lâminas d’água de até 1.500 metros, segundo o Departamento de Energia dos EUA.

Grandes empresas de petróleo como Chevron Corp., Statoil ASA e BP PLC estão investindo pesadamente em novas tecnologias, juntamente com empresas de menor porte. Uma destas, a companhia de serviços norueguesa WeST Drilling Products AS, uma unidade da WeST Group, criou uma plataforma robotizada que ela afirma vai reduzir o tempo de perfuração em até 50% e diminuir drasticamente os riscos de segurança ao retirar do processo a maioria das pessoas.

À medida que perfuram mais fundo, as empresas de petróleo desenvolvem tecnologias novas para procurar petróleo e gás abaixo de barreiras como as grossas camadas de sal encontradas em alguns dos campos marítimos mais promissores do mundo, como os do pré-sal no Brasil. A Petrobras, especialista em exploração em águas profundas, tem cerca de 65% dos seus blocos exploratórios no mar em profundidades superiores a 400 metros.

A BP estima que 80% da área das futuras reservas de petróleo e gás no Golfo do México podem estar sob uma camada de sal. A Chevron desenvolveu uma tecnologia patenteada de imagens sísmicas, baseada nos últimos avanços em software analítico e investimentos num imenso poder de computação. Ela afirma que a tecnologia permitirá uma visão muito mais clara do que está abaixo do fundo do mar.

A BP está desenvolvendo um conjunto de novas tecnologias para águas profundas chamado Projeto 20KTM, que ela pretende implementar até 2020. O objetivo é permitir a exploração segura em poços de alta pressão, que podem chegar a 20.000 psi (libra-força por polegada quadrada) e temperaturas de quase 180 graus Celsius, o que permitiria à empresa realizar perfurações em áreas muito mais profundas que as de agora. A pressão e a temperatura aumentam com a profundidade, e as técnicas de hoje limitam a perfuração a pressões de até 15.000 psi e temperaturas de cerca de 120 graus Celsius.

A BP prevê que a nova tecnologia possa dar a ela acesso a uma produção adicional equivalente a algo entre 10 bilhões e 20 bilhões de barris de petróleo nos Estados Unidos, Azerbajão e Egito. A tecnologia também vai incluir recursos avançados de segurança como o monitoramento contínuo, em tempo real do BOP, ou “blowout preventer”, como é chamado o sistema de válvulas que previne o vazamento acidental de gás ou petróleo durante a perfuração. A falha nesse equipamento contribuiu para o desastre provocado pela Deepwater Horizon.

Enquanto isso, a Statoil está construindo um compressor submarino para aumentar sua produção de gás natural. Os compressores mantêm a pressão necessária para bombear o gás do seu reservatório na rocha. A companhia afirma que o novo compressor protegerá mais o meio ambiente e será mais seguro que os compressores usados atualmente na superfície. Além disso, vai permitir que ela explore reservas que hoje não podem ser alcançadas.

Efetuar a compressão mais perto do reservatório aumenta a produção e reduz as emissões de carbono praticamente pela metade, de acordo com a Statoil. E os compressores submarinos não tripulados serão mais seguros do que os compressores de superfície, que têm que ser operados por pessoas.

A compressão em águas profundas também vai permitir a produção sob a camada de gelo do Ártico, segundo a Staoil, já que não exige nenhuma plataforma na superfície.

Fonte: Valor Ecobômico | The Wall Street Journal | por Benoît Faucon
14/11/2013|Seção: Notícias da Semana|Tags: |