Após um período de desconfianças, vai ser anunciada hoje uma nova etapa da Companhia Siderúrgica de Suape (CSS), laminadora de aço com capacidade para mais de 1 milhão de toneladas anuais que será construída próximo ao Porto de Suape, no Litoral sul de Pernambuco. Em uma solenidade em Seul, capital da Coreia do Sul, a gigante siderúrgica sul-coreana Posco vai anunciar sua entrada no projeto, orçado em cerca de US$ 860 milhões.
A companhia sul-coreana vai se juntar ao grupo brasileiro Cone SA, braço da construtora pernambucana Moura Dubeux no ramo de empreendimentos industriais. Também é sócio na CSS Fábrica Participações, fundo de investimento nacional comandado por ex-executivos da Vale. A fabricante italiana de equipamentos Daniele era outra acionista.
A Posco é a quinta maior fabricante de aço do mundo, com produção de 39,9 milhões de toneladas no ano passado, segundo dados da World Steel Association. Ficou atrás apenas da indo-europeia ArcelorMittal, da japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation e dos grupos chineses Hebei e Baosteel.
Anunciada em dezembro de 2010, a CSS passou por alguns contratempos operacionais e financeiros e seu futuro chegou a ser questionado no meio siderúrgico. O principal revés foi a saída do negócio do grupo suíço Trasteel International, que atuava como trading e concentra suas operações na China e na África do Sul e era considerado o sócio estratégico do projeto.
Os sócios brasileiros passaram, desde então, a buscar novos parceiros com expertise no setor. Presidente da Cone SA, o empresário pernambucano Marcos Roberto Dubeux encontra-se em Seul para o anúncio da sociedade com a Posco. As participações de cada sócio no negócio ainda estão sob sigilo.
Segundo apurou o Valor, a siderúrgica sul-coreana vai ser fornecedora de tecnologia e equipamentos da unidade de laminação de bobinas a quente da CSS. Além disso, se tornará sócia minoritária no negócio, com participação entre 10% e 20%. “Faltava a equação do sócio estratégico para a laminadora para retomada do projeto”, disse uma fonte.
De acordo com pessoas envolvidas nas negociações, as características originais do projeto devem ser mantidas. Planejada para ocupar uma área de 250 hectares, a CSS foi pensada para produzir laminados a quente, laminados a frio e galvanizados. A Cone SA pretende ainda montar nos arredores uma Zona de Processamento de Aço (ZPA).
A laminadora viabiliza em seu entorno uma cadeia de consumidores de aços laminados planos, que têm aplicações no setor automotivo, da construção civil e outros ramos industriais.
A expectativa é que a ZPA seja composta tanto por unidades da própria CSS quanto de terceiros, voltadas ao processamento do aço fornecido pela laminadora. Nesse caso enquadram-se os chamados centros de serviços. Segundo a direção da CSS, serão implantadas, por exemplo, fábricas de tubos, de contêineres e de equipamentos de movimentação, entre outras.
Pelas projeções iniciais, a zona produzirá até 125 mil toneladas por ano no início da operação, atingindo o pico de 250 mil toneladas na fase de expansão. Entre os clientes potenciais estão as indústrias já instaladas na região de Suape: de navios e plataformas de petróleo, e de equipamentos para energia eólica.
Com a entrada na CSS, a Posco põe os pés no segundo Estado do Nordeste. A gigante sul-coreana, com 20%, faz parte da joint venture que controla a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que está sendo construída no município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Também são sócias deste empreendimento a sul-coreana Dongkuk (30%) e a brasileira Vale, líder com 50%.
Durante passagem por Fortaleza, na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff foi informada pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), sobre o andamento das obras do projeto, orçado em US$ 5,1 bilhões. Segundo Cid, a siderúrgica já está em processo de montagem. As estimativas mais recentes dão conta de que a planta, com capacidade para 3 milhões de toneladas anuais de placas, ficará pronta no final de 2015.
Os sócios preveem uma segunda fase para a CSP, dobrando a capacidade para 6 milhões de toneladas. Segundo a fonte, a Posco poderá ser fornecedora de parte ou totalmente da matéria-prima para a CSS, em Suape, enviando as placas de aço via cabotagem. (Colaborou Ivo Ribeiro, de São Paulo)