Dependência de capital volátil é a maior desde 1998

  • 02/12/2013

As necessidades de financiamento externo, que representam o volume de capitais estrangeiros mais voláteis que o país é obrigado a atrair para cobrir o seu déficit em conta corrente, chegaram a 1,03% do Produto Interno Bruto (PIB) nos 12 meses encerrados em outubro. É o maior percentual desde junho de 1998, quando o Brasil sofria os efeitos da crise asiática.

O indicador, calculado pelo Banco Central, nada mais é do que a parte do déficit em conta corrente que não é financiada pelos investimentos estrangeiros diretos, um tipo de capital de melhor qualidade porque está menos sujeito a fugas ou paradas súbitas durante as crises internacionais.

Até fevereiro, o Brasil tinha uma posição bem mais confortável, com necessidade de financiamento negativa, que em alguns momentos superaram 4% do PIB. Os investimentos diretos, até então, superavam o déficit em conta corrente e proporcionavam uma “sobra” de capitais de boa qualidade que permitia ao BC e aos agentes privados acumularem ativos em moeda estrangeira no exterior.

O Brasil sofreu uma rápida deterioração nas necessidades de financiamento externo. Nos 12 meses até outubro, elas aumentaram US$ 37 bilhões, ou 1,63% do PIB, comparando o período equivalente encerrado em outubro de 2012. A necessidade de financiamento externa era negativa em 0,6% do PIB nos 12 meses encerrados em outubro de 2012 e ficou positiva em 1,03% do PIB nos 12 meses encerrados em outubro de 2013.

Dessa piora, 85% se deve ao aumento do déficit em conta corrente, que passou de 2,28% do PIB para 3,67% do PIB, nos dados acumulados em 12 meses entre outubro de 2012 e de 2013. O resto decorre da redução dos investimentos diretos, que encolheram de 2,88% do PIB para 2,64% do PIB no período.

Para fechar as contas, o Brasil teve que recorrer a capitais de menor qualidade. O principal deles foram os investimentos estrangeiros em títulos públicos negociados no mercado doméstico. O fluxo foi positivo em US$ 28 bilhões nos 12 meses até outubro, graças à isenção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) feita pelo governo para atrair esse tipo de capital.

Os investimentos em títulos públicos têm se mostrado bastante voláteis, mesmo quando as aplicações são dirigidas a papéis do governo de prazos mais longos. O giro é bastante alto, com investidores entrando e saindo do país a todo momento. Nos 12 meses até outubro, ingressaram por uma porta US$ 53 bilhões desse tipo de capital no país, mas saíram US$ 25 bilhões por outra porta.

Outro tipo de capital volátil que ajudou o Brasil a cobrir o déficit externo foram os investimentos em ações. Liquidamente, entraram US$ 13 bilhões, incluindo apenas os papéis negociados no país. O giro também foi alto, com ingresso de US$ 148 bilhões e saída de US$ 135 bilhões. No período, os capitais voláteis foram mais do que suficientes para cobrir as necessidades de financiamento externo.

Não há consenso sobre qual é o patamar ideal para as necessidades de financiamento externo. Em geral, admite-se que países em desenvolvimento tenham déficit em conta corrente, que significa importar capitais para financiar investimentos, mas a recomendação é que não abusem da dependência de capitais voláteis.

Desde que o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante, a regra foi o país não precisar de capitais voláteis para financiar seu déficit externo, salvo em breves períodos. A necessidade de financiamento externo só alcançou patamares mais elevados, geralmente entre 1% e 2% do PIB, na época do sistema de câmbio administrado que vigorou após o Plano Real, de 1994.

Questionado se a dependência de capitais mais voláteis deixava o Brasil mais vulnerável a paradas súbitas, como acontecia na década de 1990, o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, diz que os períodos são diferentes entre si. O câmbio hoje é flutuante, funcionando como primeira linha de defesa, e os indicadores de solvência são mais favoráveis, como menor endividamento e maior volume de reservas cambiais.

O Valor apurou que, na visão do Banco Central, essa dependência de capitais mais voláteis tende a se reduzir em 2014, já que a projeção é que o déficit em conta corrente fique igual ou menor do que os US$ 75 bilhões esperados para 2013. Caso se confirme, será um recuo em relação ao déficit de US$ 82,2 bilhões registrado nos 12 meses até outubro. Os investimentos diretos tendem a permanecer no patamar de US$ 60 bilhões.

Fonte Valor Econômico – Alex Ribeiro | De Brasília
02/12/2013|Seção: Notícias da Semana|Tags: |