Quando se fala em estatísticas sobre cabotagem, há números distintos entre as companhias, entidades e os diversos agentes envolvidos com esse setor. No entanto, em um ponto os levantamentos convergem: o segmento está evoluindo e continuará crescendo nos próximos anos. Mesmo com a decisão da companhia Maestra, pertencente ao grupo Triunfo, de abandonar as atividades nessa área, os empreendedores estão otimistas com as perspectivas da cabotagem.
O diretor de consultoria do Instituto Ilos, João Guilherme Araujo, informa que a expectativa é de um aumento na movimentação de contêineres pela cabotagem na ordem de 8% ao ano, até o horizonte de 2021. Entre as vantagens que o Brasil apresenta para essa iniciativa, estão a ampla costa navegável e a concentração do PIB no litoral. O especialista salienta que existe uma demanda reprimida, em clara expansão, mas há muitos pontos que ainda precisam ser resolvidos como, por exemplo, o aprimoramento da estrutura portuária.
O dirigente informa que pesquisa realizada com empresas que buscam a cabotagem aponta que essas companhias exigem confiabilidade, segurança e frequência de embarcações. Conforme o levantamento, entre as dificuldades que precisam ser superadas, estão o elevado tempo de trânsito das cargas e a falta de interação entre os modais (ferroviário e rodoviário). Ainda de acordo com o trabalho, 36% das empresas que embarcam cargas pela cabotagem manifestaram a intenção de aumentar o transporte por esse meio em 2014. Entre os segmentos que demonstraram o maior interesse, estão os de higiene, limpeza, cosméticos, farmacêutico, automotivo, químico, petroquímico, alimentos, bebidas, entre outros.
Apesar dessas perspectivas positivas, o setor foi surpreendido na semana passada com o anúncio de que a Maestra interromperá as atividades dentro da cabotagem. No caso específico dessa empresa, Araujo diz que é difícil avaliar externamente, mas o analista comenta que a companhia faz parte de um grupo que está realizando vários investimentos em infraestrutura e logística, em diferentes frentes. Ou seja, a motivação de sair da cabotagem pode ter sido provocada por uma decisão de gestão de portfólio. O integrante do Ilos não considera a saída da companhia como um sinal de fraqueza do segmento, até porque outras empresas do setor, como a Aliança Navegação e Logística (controlada pelo grupo Hamburg Süd) e a Log-In Logística, estão investindo em ativos.
O diretor comercial da Log-In Logística, Fabio Siccherino, que participou na sexta-feira de seminário sobre cabotagem promovido pelo Terminal de Contêineres (Tecon) Rio Grande, na Fiergs, questionado pelo público, atribuiu parte dos problemas enfrentados pela Maestra aos baixos preços praticados pela companhia. O dirigente acredita que dificilmente as empresas que absorverão a fatia de mercado deixada acompanharão patamares similares.
O diretor-superintendente da Hamburg Süd, Julian Thomas, adianta que os players remanescentes deverão absorver a nova demanda. No entanto, o dirigente argumenta que o lado negativo da decisão da Maestra é a possibilidade de assustar algumas empresas que pensam em ser clientes das companhias de cabotagem. Por outra visão, o executivo argumenta que demonstra que os grupos do setor precisam ter uma estrutura adequada ao negócio. Thomas frisa que a Aliança teve que investir para acompanhar o crescimento desse modal. Nesse sentido, a empresa fez há pouco tempo um aporte de cerca de R$ 450 milhões na construção de quatro novos navios de cabotagem.
Em 1998, a Aliança contava com duas embarcações, que somavam capacidade para movimentar cerca de 3 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Atualmente, tem oito navios que totalizam capacidade de aproximadamente 21,4 mil TEUs. Conforme o dirigente, a perspectiva para o fechamento de 2013 é que o segmento de cabotagem registre um enorme crescimento em relação a 2012, atingindo patamares de 45%.
Modal é fundamental para escoar a produção gaúcha
O diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti, enfatiza que a cabotagem, assim como é importante para a matriz logística nacional, é fundamental para escoar a produção gaúcha, principalmente para mercados no Norte e Nordeste, que representam distâncias mais longas. Uma ferramenta que deve contribuir para o desenvolvimento dessa ação, destaca o diretor comercial do Tecon Rio Grande, Thierry Rios, foi criada em novembro no Tecon: um departamento especial para tratar da área de cabotagem. Esse tipo de transporte representa cerca de 15% da movimentação total do terminal gaúcho. Hoje, a carga mais deslocada via cabotagem pelo complexo é o arroz, contudo há outros itens como resinas sintéticas e móveis. O Tecon também começou o transporte de cargas fracionadas por cabotagem.
Debate entre Argentina e Uruguai já transfere cargas
A Argentina proibiu recentemente o transbordo de exportações pelos portos uruguaios. A interrogação que ficou no ar era que portos iriam assumir essa movimentação. O diretor-superintendente da Hamburg Süd, Julian Thomas, admite que a situação afetou a operação da companhia naqueles países. E, devido ao cenário, a empresa transferiu alguns transbordos que eram feitos em Montevidéu para Rio Grande. O dirigente comenta que foram deslocadas diversas cargas de exportação, como frutas, amendoim, entre outras. Thomas acrescenta que, no momento, não é possível fazer uma previsão de quando a situação irá se estabilizar. O diretor comercial do Tecon Rio Grande, Thierry Rios, revela que está conversando muito com os armadores sobre o problema vivido entre a Argentina e o Uruguai. “Somos o porto mais próximo a eles e estruturado para fazer transbordo, e esse assunto continuará intenso neste ano e em 2014”, projeta. Rios não arrisca uma estimativa de quanto tempo a questão irá se manter em pauta, até porque se trata de um debate político. Porém, enquanto esse panorama continuar, ele adianta que o Tecon tentará conquistar clientes e consolidar algumas operações para que fiquem permanentemente em Rio Grande.