O aumento do consumo doméstico de bens de capital por empresas já instaladas no país, verificado neste ano, não foi abastecido prioritariamente por importações. Levantamento realizado pelo professor Otto Nogami, do Insper, mostra que, embora as importações desse segmento estejam crescendo 6,3% em valor, no ano até outubro, o desembarque do “núcleo duro” de maquinário para a indústria registrou nível mais modesto de crescimento em relação ao ano passado.
Nogami descontou das importações totais de bens de capital registradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) algumas classes de produtos, como autopeças, bens de transporte e maquinário agrícola e a importação de plantas fechadas de fábricas (como uma indústria nova que se instala no país), onde muitos itens acoplados não são considerados bens de capital. A intenção foi achar os bens de capitais que reflitam máquinas direcionadas à modernização ou ao aumento da produção industrial de empresas já em operação.
O recorte, que usou as classes de maquinaria industrial, acessórios, ferramentas e equipamentos móveis, representou 53% do total das importações de bens de capital no acumulado de janeiro a outubro e somou 4% a mais que os US$ 22 bilhões registrados em igual período de 2012. “Esses são os itens dentro de bens de capital que podem ser considerados como utilizados para a indústria aumentar sua capacidade produtiva”, diz Nogami.
Enquanto a importação, em valor, cresceu 4%, a produção doméstica de bens de capital para uso industrial aumentou 10% até outubro em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o volume importado de bens de capital (total) cresceu 3,5% este ano, enquanto no grupo “máquinas e equipamentos”, essa alta foi de 1,8%, indicando um crescimento menor em proporção do total, e também menor do que a produção doméstica.
Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica, faz contas um pouco diferentes das do Mdic. A importação de máquinas e equipamentos mecânicos, em seus cálculos, está com crescimento de 3,4% neste ano. Para ele, os dados da indústria mostram que está em curso uma modernização da produção abastecida por fornecedores nacionais ao invés de importações.
De acordo com o IBGE, em outubro a produção de bens de capital para a indústria cresceu 20% em relação ao mesmo mês de 2012. Antes, o instituto de pesquisa havia registrado aumento na produção de 15,5% no segundo trimestre e de 12,7% no terceiro trimestre, sempre na comparação com mesmo período do ano anterior. O principal fator para o incremento, para Gomes de Almeida, são os juros subsidiados pelo BNDES através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), hoje com empréstimos de 3,5% ao ano.
A desvalorização cambial teve influência muito menor no incremento da produção do que o PSI, avalia Almeida. “A atuação do BNDES levou à troca de fornecedores”, acrescenta o ex-secretário.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) discorda dessa avaliação. Nas contas da entidade, a importação de bens de capital neste ano está em 6% e o consumo aparente destes bens deve encerrar 2013 com alta de 5%, diante de um faturamento no mesmo nível de 2012. Os dados da Abimaq representam o total de bens de capital.
Mário Bernardini, assessor econômico da entidade, observa que, apesar de o montante emprestado pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI) ter aumentado neste ano, não houve incremento de faturamento por parte das empresas. “Isso significa que o PSI serviu para sustentar o investimento no patamar do ano passado e não aumentá-lo. Se não fosse o PSI, o resultado seria pior”, diz.
Para Bernardini, “a maior parte das importações possui similar nacional. Claramente estava ocorrendo um efeito de substituição em função de preço. Mas a desaceleração das importações não é uma boa notícia, pois mostra que a demanda está mais fraca”, afirma.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 63,8 bilhões até novembro deste ano pelo Finame – programa que financia a produção e a comercialização de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional. O montante é 65% superior ao desembolsado pelo banco de fomento em igual período do ano passado, de R$ 38,4 bilhões. Para a indústria, o aumento foi menor, de apenas 5%.
Para o presidente da Abimei, associação dos importadores do setor, Ennio Crispino, a diferença dos números se dá porque a metodologia do Mdic é mais abrangente. “O que aparece nas contas do governo não são necessariamente maquinários produtivos. Autopeças aparece como bens de capital, por exemplo”, disse. Os importadores da Abimei estimam que este ano terminará com uma redução de 20% no volume de negócios em relação a 2012.
Neste ano, o crescimento das importações totais de bens de capital foi puxado pelas compras externas de partes e peças, que cresceram 17%. A importação de máquinas e ferramentas caiu 24,9%, também no acumulado de janeiro a outubro ante 2012.
De acordo com Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), os dados sugerem a importância maior de outros produtos que não maquinários no crescimento registrado pelo Mdic. No entanto, ela afirma que as classificações sobre o que pode ser considerado bens de capital variam. “Cada país adota sua metodologia de classificação, mais adequada à sua realidade. Não é fácil fazer essa classificação”.
O IBGE também mostra crescimento em todos os setores de bens de capital, não somente na indústria, onde chega a cobertura do PSI. No entanto, o estímulo não deve ser prolongado. “Essa é um condição passageira. A notícia para este ano é boa, mas não deve ser vista como um ganho de competitividade da produção nacional de bens de capital”, diz Gomes de Almeida.