Cabotagem volta a ter espaço merecido no transporte

  • 15/01/2014

O movimento de mercadorias em embarcações no país deve crescer a um ritmo anual de 10% até o fim desta década, bem acima da média de expansão do PIB.

O agronegócio transformou o interior do Brasil, com a criação de polos de dinamismo. Ainda assim, as áreas mais habitadas do país (e, em consequência, os principais mercados consumidores) se concentram próximas à costa. Cerca de 70% da população brasileira vivem a uma distância máxima de 100 quilômetros do litoral. Várias capitais devem a sua existência a condições geográficas que permitiam a atracação de embarcações. Até meados do século XX, o transporte de cargas — e mesmo de passageiros — entre essas cidades litorâneas era feito pelo mar.

A abertura de estradas interestaduais, pavimentadas, mudou esse quadro, com o transporte por caminhões substituindo paulatinamente os navios. Embora pareça um contrassenso, pois um navio tem uma capacidade de transporte equivalente a mais de dois mil caminhões, em média, o frete rodoviário passou a dominar o mercado, independentemente das distâncias, por ser bem mais ágil. A chamada cabotagem se manteve apenas entre Manaus e os portos do Sul e Sudeste pela falta de acesso rodoviário à capital do Amazonas, que abriga um importante distrito industrial. Mesmo assim, não raramente o transbordo de cargas é feito no primeiro bom acesso rodoviário.

Esse quadro felizmente está mudando. O transporte de cargas por navios dentro do território nacional (o conceito de cabotagem é mais amplo, incluindo a Argentina, por exemplo, e, em certos casos, o Chile) tem crescido bem acima da média da economia. No ano passado, estima-se que houve um incremento da ordem de 8%, bem acima da evolução do PIB. A previsão é que ao longo desta década este crescimento se acelere para 10% ao ano. A burocracia e a ineficiência dos portos afastaram por muito tempo as cargas que naturalmente deveriam utilizar a cabotagem. Muitos dos entraves burocráticas persistem (cargas são inspecionadas, quando embarcadas ou desembarcadas, mesmo sem sair do país, como se fossem de longo curso), mas o uso crescente de contêineres no transporte, incluindo cargas a granel, vem agilizando o funcionamento dos terminais. Navios com mais capacidade de carga estão substituindo os antigos, e isso contribui para redução do custo de transporte. Além do mais, o transporte rodoviário tornou-se imprevisível, pelo saturamento das estradas brasileiras. O ideal é que haja mais integração e equilíbrio entre os diferentes modais de transporte. A ferrovia e a navegação deveriam estar mais presentes nas longas distâncias, ficando o modal rodoviário com a capilarização, a distribuição das cargas. Há espaço para todas essas modalidades e certamente todas tenderão a ganhar se houver satisfatória integração entre elas. Vale frisar que o Brasil voltou a ter uma indústria de construção naval ativa. Assim, construir navios no país deixou de ser um dos obstáculos para a cabotagem.

 

Fonte: O GLOBO – Editorial

 

15/01/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: , , , |