Apesar da desvalorização do real frente ao dólar, a rentabilidade do total das exportações teve crescimento praticamente irrelevante no ano passado, com alta de apenas 0,2% em relação a 2012, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Com redução de rentabilidade, o comportamento do segmento de produtos alimentícios e de setores não industriais – como agricultura e pecuária e extração de petróleo e gás natural – neutralizou os ganhos de alguns segmentos fabricantes de manufaturados, como veículos e couro e calçados. A margem de lucro na exportação de produtos alimentícios caiu 1,3% no ano passado enquanto no de agricultura/pecuária e de extração de petróleo recuou em patamares iguais, de 4,4%. Esses três segmentos responderam por 38% do valor total exportado em 2013.
Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da UERJ (Cedes/UERJ), destaca que o efeito do câmbio na rentabilidade é mais imediato nos setores de mão de obra intensiva, como calçados, têxtil e vestuário. Os três segmentos, segundo cálculo da Funcex, fecharam 2013 com ganho de margem de 5,3%, 1% e 3%, respectivamente.
Isso acontece, explica, porque a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar reduz o custo relativo da mão de obra, o que torna o produto mais competitivo. Além disso, são segmentos menos dependentes de insumos importados e por isso o câmbio não faz pressão sobre os custos, como acontece para os exportadores de manufaturados com maior valor agregado. Entre os setores de manufaturados que sofreram perdas de rentabilidade estão os farmoquímicos e farmacêuticos, com queda de 9,2%, e o de equipamentos de informática, com redução de 2,6%.
Branco lembra que apesar do câmbio ter favorecido a margem na venda ao exterior, no agregado essa vantagem foi neutralizado pelos demais componentes que compõem a rentabilidade. Segundo os cálculos da Funcex, a elevação de 6,6% do custo de produção dos bens exportados e o recuo de 3,2% do preço médio das exportações acabaram tirando parte importante do benefício que a valorização cambial nominal de 10,4% propiciou ao exportador.
“A queda de preços foi maior que a esperada e a variação do custo de produção, embora em patamar menor que o de períodos anteriores, ainda continua alta”, diz Branco. Em 2012, o custo de produção subiu 5,9% em relação ao ano anterior. Em 2011, a alta foi de 8,8% na comparação com 2010.
Daiane Rodrigues, economista da Funcex, destaca que o custo de produção no ano passado subiu acima da inflação. A tendência de maior desvalorização do real frente ao dólar, porém, diz ela, pode fazer com que o ganho de rentabilidade torne-se mais pulverizado entre os setores em 2014. Ela lembra que em dezembro, quando a desvalorização cambial foi de 12,9% em relação ao mesmo mês de 2012, o ganho de rentabilidade total foi de 3,4%. Isso porque, com variação maior, o efeito do câmbio mais favorável ao exportador não foi totalmente neutralizado pela elevação de 6,8% no custo de produção e pela redução média de 2,2% no preço de venda ao exterior. “Tudo depende de como caminham as variáveis de preços e custo em cada um dos setores, mas uma variação maior do câmbio costuma ter efeito mais generalizado nos setores.”
A elevação de custo de produção é um dos elementos mais preocupantes quando se olha a rentabilidade da exportação, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A maior desvalorização neste ano, diz ele, com certeza trará vantagem para o exportador e um eventual ganho mais generalizado nas margens.
O problema, porém, é que se o custo de produção continua em elevação, esse ganho de rentabilidade não se traduz em aumento de volume de embarque. Ou seja, também não haverá aumento do número de operações de venda ao exterior e nem elevação de produção. “O dólar mais alto trará vantagens para alguns setores, certamente, mas em termos macroeconômicos a rentabilidade obtida não contribuirá na mesma proporção para o desempenho da balança comercial ou mesmo para a diversificação da pauta de exportação brasileira ou de uma participação maior dos manufaturados.” Outra pergunta a ser feita, diz Castro, é se o ganho de rentabilidade e o aumento de competitividade realmente proporcionam ganho de mercado no país de destino.
Segundo dados da Funcex, a queda de preços de exportação no ano passado atingiu todas as classes de produtos. Os preços médios dos básicos tiveram queda de 1,4% em 2013, contra o ano anterior, enquanto os preços dos manufaturados caíram 2,8% e os dos semimanufaturados amargaram recuo de 10,1%.
A queda de preços de manufaturados é um fenômeno esperado com a desvalorização do real frente ao dólar, destaca Branco. O ganho de margem para o exportador costuma ser usado para reduzir os preços dos bens vendidos ao exterior para ganhar competitividade. Ao mesmo tempo, na outra ponta, o importador também tenta negociar redução de preços em dólares porque sabe que há desvalorização cambial.
Castro chama a atenção para a queda de preço das commodities, que podem continuar fazendo pressão sobre a rentabilidade de alguns setores. Para ele, isso foi um fator importante que afetou a margem na exportação do setor agrícola e também no segmento da indústria de alimentos no ano passado. Ele lembra que enquanto a queda de preços dos manufaturados fica no controle do exportador, que negocia esses valores com o comprador, nos produtos básicos o produtor brasileiro é um tomador de preços que são definidos no mercado internacional.
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo