Há duas semanas, a consultoria de gestão Performa Partners concluiu o processo de aquisição da empresa de serviços Facility, com sede no Rio, pelo fundo Rise International. A transação é o ponto de partida de um projeto que visa criar um grupo de prestadoras de serviços diversos – de limpeza e segurança a gestão de centros de distribuição, entre outros – com faturamento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) em 2016.
Para colocar o plano em prática, outras aquisições estão a caminho. Duas estão em fase de negociação e pelo menos uma delas deve ser fechada ainda este ano, segundo Marcelo França, sócio da Performa.“Buscamos negócios com escala competitiva relevante, a partir de R$ 1 bilhão de faturamento”, disse.
A consultoria paulista, especializada em gestão e reorganização empresarial, é que buscou os investidores e estruturou o fundo Rise, por ver grandes perspectivas para o mercado de serviços no Brasil. O fundo tem dezenas de cotistas, todos estrangeiros – muitos, segundo França, estão fazendo seu primeiro investimento no país. Os sócios da Performa também têm participação no negócio e representam o novo controlador na gestão da Facility, com assento no conselho de administração da companhia.
A desaceleração da economia brasileira não foi empecilho para convencer os investidores a apoiar o projeto. “É preciso ter cautela com esses movimentos de excesso de otimismo e de excesso de pessimismo [em relação ao Brasil]. Vemos uma clara tendência de melhoria no país. Há uma demanda reprimida por serviços de qualidade”, afirma França. “Olhamos o longo prazo”, acrescenta André Pimentel (ex-Galeazzi), sócio e CEO da Performa.
Para eles, há oportunidades tanto em contratos com governos, que vêm sendo pressionados pela população a melhorar os serviços públicos, quanto com a iniciativa privada, principalmente concessionárias de grandes negócios de infraestrutura, como aeroportos e portos. “Essas empresas vão demandar ‘players’ de serviços de apoio [limpeza, manutenção, logística interna, alimentação], que ofereçam tecnologia e eficiência”, afirma França.
Um campo de interesse é o de serviços para a área de saúde. A Facility, por exemplo, é parceira da Secretaria de Estado da Saúde do Rio de Janeiro na gestão do centro de diagnósticos Rio Imagem, cuidando do agendamento centralizado de exames, entre outras atividades.
Com 25 mil funcionários, a Facility pertencia ao empresário Artur César de Menezes Soares Filho, que se desfez de 100% do negócio. O valor da transação não foi divulgado. Recebíveis e endividamento entraram no acordo.
Grande fornecedora do governo do Rio, a Facility foi alvo de investigações do Ministério Público (MP) estadual por seus contratos de serviços com o Detran-RJ. Em dezembro de 2010, o MP denunciou Soares à Justiça por formação de cartel para burlar licitações do órgão. A denúncia foi rejeitada em fevereiro de 2013 pela 37ª Vara Criminal do Rio por falta de provas. Procurado, Artur Soares preferiu não se pronunciar sobre o assunto, nem a respeito da venda do negócio.
Os novos sócios afirmam confiar em seu modelo de gestão para dirimir qualquer desgaste na imagem da companhia decorrente de episódios passados. Para evidenciar a nova fase, o nome Facility deixará de existir. O grupo passa a se chamar Prol e terá novo comando. A executiva Tereza Porto assume como CEO a partir de hoje. Ela será a principal executiva da nova empresa e das outras que serão adquiridas.
Nos últimos anos atuando na iniciativa privada como consultora de gestão e tecnologia, Tereza passou a maior parte de sua carreira na área pública. Presidiu o Proderj (Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio de Janeiro) de 2003 a 2008 e foi secretária estadual da Educação do Rio de 2008 a 2010. Conhecer e transitar tanto pelo setor público como o empresarial contou pontos na escolha de seu nome para presidir o Prol. “Não há grande grupo de serviços no mundo que não tenha o governo como cliente”, afirmou França.
A Performa já vinha participando da gestão da Facility há cinco meses, quando a negociação com o controlador se aprofundou. Outra empresa em que a consultoria tem sociedade, a Toutatis, que terceiriza processos de finanças, contabilidade, compras e recursos humanos, assumiu parte dessas atividades na Facility. O trabalho ajudou na “due diligence” (auditoria financeira) e deu aos futuros gestores mais conhecimento da operação. No período, cerca de 150 pessoas foram demitidas. Por outro lado, segundo França, perto 2 mil foram contratadas, atendendo ao crescimento da demanda dos clientes.
Fonte: Valor Econômico – Luciana Marinelli