RIO – Caminhões carregados com pedras transitam de um lado a outro, homens trabalham na construção de quebra-mares e o cais para atracação de navios vai ganhando a forma final. Nas águas calmas do porto, as dragas não param. Ali perto, mais de uma centena de torres de transmissão se espalha em fila à espera da conexão com o sistema elétrico nacional. Esse conjunto de obras no porto do Açu, no norte fluminense, vai consumir quase todo o investimento de R$ 1,72 bilhão previsto para este ano pela Prumo Logística Global, antiga LLX, controlada, desde outubro de 2013, pela gestora americana EIG Global Energy Partners.
O investimento da Prumo em 2014 é quase o dobro dos R$ 885,1 milhões aplicados em 2013, quando as obras no porto foram paralisadas como resultado das dificuldades financeiras do empresário Eike Batista, o antigo controlador. Foi um período de incertezas em que o porto correu risco de ficar inacabado. Sob nova administração e com novo presidente, o engenheiro Eduardo Parente (ex-MRS), a Prumo está acelerando investimentos para concluir obras prioritárias no Açu, complexo portuário idealizado por Eike no município de São João da Barra (RJ). “O Açu é um projeto visionário de Eike [Batista]”, disse Parente.
Um dos objetivos de Parente é atrair a Petrobras para o porto: “Tentamos entender as necessidades da Petrobras e mostrar o potencial do porto”, disse o executivo. O uso do Açu pela estatal terá o efeito de atrair para o porto uma segunda onda de fornecedores da indústria de petróleo depois da chegada de empresas como Technip, NOV e Intermoor. A Petrobras disse que abriu processo licitatório para contratar dois berços para atracação de embarcações de apoio que fazem o transporte de carga para a Bacia de Campos e o Espírito Santo. “Para essa licitação, que tem previsão de conclusão nos próximos meses, a Petrobras convidou operadores logísticos especializados, alguns dos quais apresentaram o Porto do Açu, pertencente à Prumo, como alternativa”, disse a Petrobras em nota.
A Prumo divulgou nesta quarta-feira os resultados de 2013, quando registrou prejuízo de R$ 135,8 milhões, 271% acima dos R$ 36,6 milhões de perda de 2012. O que mais pesou para o aumento do prejuízo no ano passado foi a provisão R$ 45,9 milhões para perdas de ativos da LLX Brasil. Dessa forma, a empresa baixou como prejuízo opções de compra de um terreno em Peruíbe (SP), onde Eike tinha planos de desenvolver o Porto Brasil. A Prumo não tem interesse de levar esse projeto adiante. A companhia está concentrada em entregar o Açu.
Parente disse que o orçamento de investimentos de 2014 inclui a realização de obras necessárias para o escopo atual do porto e iniciativas capazes de permitir que o Açu gere caixa rapidamente. Em 2013, a Prumo teve receita líquida de R$ 56 milhões com o aluguel de áreas para seis empresas no Açu: Technip, NOV, Intermoor, Wartsilla, OSX e Eneva. A receita líquida caiu 18,4% em relação aos R$ 68,7 milhões registrados em 2012.
A fábrica da Technip no Terminal 2 do Açu (T2) deve começar em abril a primeira fase de produção comercial de tubos flexíveis usados em poços de petróleo. Breno Barcellos, superintendente de projetos da Technip Brasil, disse que a empresa escolheu o Açu em função da proximidade geográfica com a Bacia de Campos (RJ) e pela possibilidade de expandir a fábrica no futuro. Também pesou a existência de um canal no T2 com saída direta para o mar. O T2 tem áreas em terra para instalação de empresas e nasce com vocação para atender a indústria de petróleo. Esse canal, com 300 metros de largura, terá 6,5 quilômetros de extensão e 13 quilômetros de cais, mas ainda precisa ser sinalizado e ter a profundidade homologada pela Marinha para permitir a navegação de embarcações offshore.
Parente disse ao Valor que existem três áreas com potencial de geração de caixa para a empresa no Açu. Essas atividades representam uma fatia pequena em termos de aluguel de áreas, negócio que vem garantindo a receita da Prumo até agora. No total, o Açu está pensado como um complexo de 130 quilômetros quadrados, dos quais 40 quilômetros quadrados correspondem à uma reserva.
As três áreas com potencial de aumentar a geração de caixa da Prumo são: um terminal de transbordo de petróleo, um centro de reparo naval para plataformas que poderão ser ancoradas a 18 metros de profundidade e o desenvolvimento do negócio de energia via instalação de termelétricas no porto ou mediante um terminal de gás natural liquefeito (GNL).
O terminal de transbordo foi pensado para o Terminal 1 (T1) do Açu, onde até o fim do ano a Anglo American começará a embarcar minério de ferro, operação que vai garantir receita de US$ 95 milhões por ano à Prumo. Mas no T1 a Prumo vai aproveitar o quebra-mar que protege o berço do minério para criar um píer para receber petroleiros que precisam fazer transbordo para barcos maiores. Esse terminal terá capacidade de se interligar a uma unidade de tratamento de petróleo com capacidade de 1,2 milhão de barris/dia.
Parente disse que há discussões entre a Prumo e operadores de petróleo interessados em dispor de áreas para fazer transbordo, mas ainda não há acordos e nem se chegou a uma fase de detalhar os projetos. Na área de energia, a prioridade é atrair um parque térmico. No mercado comenta-se que a Eneva, antiga MPX, poderia desistir dos dois projetos que tem no Açu, mas a empresa negou. Em nota, reiterou o interesse em desenvolver os projetos térmicos a carvão e a gás no Açu, tão logo as condições apresentadas para os leilões de energia sejam favoráveis. A empresa recorreu contra o indeferimento da renovação da licença de instalação do projeto a carvão. A Eneva confirmou que renegocia preços com a Prumo no contrato de aluguel de uma área no Açu. Hoje o porto recebe energia elétrica de geradores a diesel, mas ainda este ano terá uma subestação ligada ao sistema elétrico nacional.
(Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes)