Ganhos de eficiência e aumento de preços impediram que o lucro das empresas caísse em 2013, em meio ao cenário de custos pressionados e atividade fraca.
Segundo levantamento realizado com informações do Valor Empresas, base de dados de balanços do Valor PRO, o resultado líquido das companhias abertas subiu 1,6% no ano passado, para R$ 54,2 bilhões. Não bateu a inflação de quase 6%, mas pode ser considerado uma vitória em um ano difícil.
Foram considerados os dados de 234 empresas de capital aberto não financeiras e excluídos os resultados de Petrobras, Eletrobras e Vale – empresas que, por seu tamanho, tendem a distorcer os resultados. O Valor optou também por desconsiderar a petroleira OGPar (ex-OGX), já que seu enorme prejuízo anual de R$ 17 bilhões também imporia viés significativo aos números.
O avanço de quase 15% na cotação do dólar no ano desempenhou papel relevante no período, impulsionando o faturamento das exportadoras, que têm peso expressivo no perfil das companhias que atuam no país.
Na outra ponta, o câmbio pesou fortemente sobre o resultado financeiro, já que as dívidas em moeda estrangeira também são corrigidas pela cotação do fim de cada período. As despesas financeiras subiram 33,9% em relação a 2012, tirando R$ 44,7 bilhões do resultado final das empresas.
No fim das contas, o processo de contenção de gastos das companhias atuou como fiel da balança. Após uma queda de 2,7% nos lucros em 2012, os empresários pisaram no freio e passaram a enxugar os excessos, com cortes de custos e venda de ativos considerados menos rentáveis.
Nesse cenário, o lucro operacional calculado sem considerar o pagamento de juros, os impostos, a depreciação e a amortização (Ebitda, em inglês) subiu 12,2% no ano passado, para R$ 192,2 bilhões, acima do aumento de 11,3% na receita líquida, que atingiu R$ 1,06 trilhão.
Para as empresas que vendem para o exterior, a alta no faturamento foi ocasionada sobretudo pelo preço e variação da moeda. A fabricante de celulose Fibria, por exemplo, viu suas receitas crescerem 12%, mesmo em meio à queda de 3% no volume de vendas no ano. Da mesma forma, a processadora de carnes JBS, que envia para fora a maior parte da produção, faturou 22,7% mais.
Sem o câmbio para dar fôlego ao faturamento, as companhias que atuam no mercado interno apostaram no aumento de preços para compensar a demanda fraca, afirma Karina Freitas, da corretora Concórdia. De fato, os estoques das empresas brasileiras aumentaram bastante no ano passado, cerca de 10%, mostrando que há alguma resistência do mercado em absorver volumes.
Esse ponto foi bastante sensível para o setor de consumo, afirma a analista. “A estratégia de segurar o repasse de custos para ganhar em volume não surtiu tanto efeito. Diante disso, os empresários começaram a aumentar os preços para ganhar nas margens no fim do ano”, ressalta.
Essa foi a estratégia adotada pela fabricante de alimentos BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, que vende 56% da produção no mercado interno. Com aumento de preços e foco em produtos de maior valor agregado, a receita líquida da companhia subiu 2,8%, apesar da queda expressiva de 16% no volume de vendas no mercado doméstico.
A Ambev também viu o volume de vendas de cervejas e refrigerantes recuar no ano passado (3,2%), mas, ainda assim, a receita subiu 6,4%, para R$ 32 bilhões. “A realidade que encaramos desde o começo do ano passado provou ser ainda mais difícil do que o previsto. As condições climáticas desfavoráveis e a inflação de alimentos de dois dígitos tiveram impacto significativo nos volumes”, informou a direção da fabricante de bebidas no relatório que acompanha o balanço.
Se a indústria tem alguma facilidade para queimar gordura, com revisão nas linhas produtivas, o varejo sofre um pouco mais para gerar eficiências, diz Daniela Martins, da Concórdia. “O grosso dos custos de uma varejista diz respeito à mão de obra. É mais difícil ganhar margens”, ressalta a analista.
As varejistas têxteis denotam essa realidade. Com demanda fraca e dificuldade em emplacar aumento de preços sem perder muito em volume, o crescimento das empresas listadas do setor ocorreu principalmente via abertura de novas lojas. O desempenho das unidades abertas há mais de um ano ficou na casa de um dígito baixo, muito próximo da inflação no período. No caso da Hering, chegou a cair 0,6%. E as perspectivas não são muito melhores. Na semana passada, em evento realizado pelo Valor, o presidente da companhia, Fabio Hering, disse que o “primeiro trimestre foi difícil para crescer, mas nada fora das perspectivas”. Ele afirmou ainda que a expectativa é que 2014 seja um ano “morno”.