Atuação do governo é o maior foco de empresários

  • 14/05/2014

A incerteza sobre como a atuação do governo influenciará os negócios é a principal preocupação dos empresários brasileiros, conforme mostra estudo realizado pela Ernst & Young (EY) e obtido com exclusividade pelo Valor. Na pesquisa, os executivos veem as políticas do governo como o fator que pode ter o maior impacto sobre os negócios nos próximos 12 meses.

A preocupação com as políticas a serem adotadas pelo governo foi apontada por 68% dos executivos brasileiros consultados pela EY, que entrevistou mais de 1600 profissionais em 54 países.

Grafico-Cautela-Negocios

 

Para a EY, o receio dos empresários se explica pela necessidade de amplos investimentos em infraestrutura no Brasil e a forte interferência do governo no setor privado, segundo o sócio de transações corporativas da EY, Fabio Pires. “É o governo quem dita as regras e define as condições de concessão”. Pires, no entanto, ressalta que a avaliação dos executivos nacionais pode estar sob a influência do ano eleitoral.

“Há muitas dúvidas sobre quem assumirá a Presidência e como ficará a administração pública a partir de 2015. Teremos reformas e mudanças macroeconômicas?”
Para os estrangeiros, no entanto, essa questão é secundária, de acordo com a pesquisa. Apenas 28% dos executivos de outros países indicaram que eventuais alterações nas políticas públicas poderiam influenciar suas operações a curto prazo. Fora do Brasil, o principal temor está no mercado de trabalho – 54% veem desafios na obtenção de mão de obra qualificada nos próximos 12 meses.

A confiança dos empresários brasileiros diminuiu no último ano. Em abril de 2013, 60% dos entrevistados viam tendência de melhora na economia, percentual que foi reduzido a 51% no mesmo mês de 2014. Já as avaliações que viam piora no cenário econômico doméstico subiram de 15% em 2013 para 20% neste ano, enquanto a fatia dos que veem estabilidade avançou de 25% para 29%.

“Esse quadro já foi pior. A entrada de dinheiro no país, as concessões e as mudanças na política monetária melhoraram a confiança dos empresários a partir de outubro”, pondera Pires. Naquele momento, o percentual de executivos que viam avanços na economia havia caído a 42% e a parcela dos que percebiam piora chegou a 22%.

Apesar da relativa melhora desde então, o sócio da EY diz que dificilmente a confiança voltará ao nível de abril de 2013 antes das eleições.

Os ânimos contidos também transparecem quando o assunto é a economia internacional. Os brasileiros demonstram menor confiança na recuperação mundial que os estrangeiros – 52% contra 60%. A cautela, diz Pires, é a atitude predominante nos negócios no Brasil atualmente. “Isso alterou o foco da estratégia de negócios, que antes era voltada para o crescimento e agora visa a estabilidade. O estrangeiro passou por essa etapa meses atrás e, neste momento, está entrando na fase de investimentos”, diz o sócio da EY.

No ano passado, 37% das companhias brasileiras consultadas tinham o crescimento como meta para os 12 meses seguintes, percentual que foi reduzido a 21% neste ano. A manutenção da estabilidade, por sua vez, que era o objetivo de apenas 15% delas em 2013, passou a ser compartilhado por 31% das empresas.

Ao mesmo tempo, o apetite por aquisições minguou. Somente 21% das companhias brasileiras ouvidas afirmaram ter em seus planos a compra de outras empresas nos próximos 12 meses, muito abaixo dos 45% verificados no ano passado. “Ninguém está interessado em tomar qualquer atitude que possa representar riscos adicionais. Os empresários brasileiros preferem manter a estabilidade dos negócios e esperar o período de incertezas passar”, comenta Pires. “Mas a estratégia de cortar custos e aumentar a eficiência tem limite. Aos poucos o Brasil vai se voltar para a internacionalização”, diz o sócio da EY, ressaltando que pela primeira vez as companhias de médio porte estão olhando os EUA como possível destino de investimentos.

Embora continue entre os dez principais receptores de capital externo, o Brasil tem perdido espaço na preferência dos investidores para Alemanha e Reino Unido, que têm reagido à crise na Europa. Entre as companhias estrangeiras, 31% pretendem fazer aquisições nos próximos 12 meses, um avanço frente aos 29% de 2013, sendo que 39% disseram ter como alvo emergentes dos BRICs (sigla que identifica o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China) e 33% apostam nos países desenvolvidos.

Para os estrangeiros ouvidos na pesquisa, está mais fácil acessar o mercado de crédito global. A disponibilidade está aumentando na avaliação de 54% dos entrevistados, percentual que supera os 49% contabilizados um ano atrás. Ao mesmo tempo, a fatia dos que percebem uma piora na oferta de financiamentos caiu de 14% para 12% no período.

Entre os empresários brasileiros o quadro é oposto – cresce a percepção de piora na disponibilidade de crédito (de 18% para 21%) e cai a perspectiva de melhora (de 47% para 28%). No mercado doméstico, a confiança no acesso ao crédito é ainda menor. A parcela dos que veem piora saltou de 6% em 2013 para 32% neste ano, enquanto a dos que vislumbram melhora diminuiu de 54% para 26% no período. “Esse cenário está atrelado à alta dos juros. As empresas não estão interessadas em aumentar suas dívidas neste momento”, diz Pires.

Fonte: Valor Econômico – Francine De Lorenzo | De São Paulo

 

14/05/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: |