Uma movimentação intensa de pessoas, empresas e máquinas agita a região de Maragojipe, no Recôncavo Baiano, localizado na Baía de Todos os Santos, a pouco menos de 200 quilômetros de Salvador. Cerca de 450 caminhões, carretas e caçambas trafegam, diária e ininterruptamente, na BA-534, estrada que liga a BA-001, na Ilha de Itaparica, até Salinas da Margarida, transportando pedras, cimentos, tubulações e estruturas de ferro para o canteiro de obras do estaleiro Enseada, que está sendo construído por mais de quatro mil operários, na baía do Iguape, confluência dos rios Baetantã e Paraguaçu.
Orçado em R$ 2,6 bilhões, é o maior investimento privado atualmente em execução no Estado da Bahia, informa Humberto Rangel, diretor de relações institucionais da Enseada Indústria Naval, formado pelas empresas Odebrecht, OAS, UTC e a Kawasaki Heavy Industries (KHI), do Japão. O principal financiamento vem do Fundo de Marinha Mercante, no valor de R$ 1 bilhão, com um empréstimo adicional, negociado este ano, de mais R$ 400 milhões.
Quando estiver em operação plena, a partir de março do ano que vem, produzirá navios, sondas de perfuração e plataformas, processando até 36 mil toneladas de aço por ano. E proporcionará cerca de dez mil empregos diretos e indiretos. “Trata-se de um empreendimento que abre imenso leque de oportunidades em diferentes áreas de negócio”, destaca Rangel.
Construído numa área de 1,8 milhão de metros quadrados, dos quais 400 mil destinados à preservação ambiental, o estaleiro Enseada impacta, direta ou indiretamente, pelo menos 15 municípios em seu entorno, tanto pela absorção de mão de obra, como pela criação de novos serviços e de empresas. No pico de sua implantação, em fevereiro deste ano, o canteiro de obras chegou a contar com quase seis mil trabalhadores, a maioria, moradores da região.
Mas a grande expectativa é com os quatro mil postos de trabalho, diretos, de alta qualificação, que o empreendimento vai gerar em sua fase de operação. Afinal, a primeira incumbência do estaleiro será construir seis navios sondas, parte de uma encomenda de 29 barcos desse tipo feito pela Petrobras aos estaleiros brasileiros.
Segundo Rangel, a construção dos navios-sonda é uma tarefa complexa, que envolve procedimentos e rotinas bem diferentes das que acontecem atualmente no canteiro de obras. “O esforço que está sendo feito agora é de treinamento e de formação de pessoas”, diz ele. A construção do casco do primeiro navio-sonda, o Ondina, que será entregue pelo Enseada em julho de 2016, está sendo feita no estaleiro da sócia Kawasaki, especializada nesta tecnologia, em Sakaide, no Japão.
Para lá, foram enviadas duas turmas de engenheiros e técnicos brasileiros para ser treinados na tecnologia, e a construção do casco do segundo navio-sonda da encomenda da Petrobras, o Pituba, previsto para ser entregue em maio de 2017, já será realizada no estaleiro da Bahia. O treinamento no Japão faz parte de um pacote de transferência de tecnologia da Kawasaki, que representa um investimento de US$ 80 milhões feito pelo Enseada Indústria Naval.
Outro grande benefício é o desenvolvimento de uma rede de fornecedores para atender à demanda do estaleiro, especialmente na parte de engenharia, suprimento do projeto de sondas e pessoal qualificado. Desde fins do ano passado, a Enseada, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), desenvolve um programa de seleção e capacitação de empresas para ser fornecedoras das cadeias de óleo, gás e naval. Pelo menos cem empresas passam, no momento, pelo processo de avaliação, devendo ser selecionadas cerca de 30.
No canteiro de obras de Maragojipe, o ritmo de trabalho é intenso. Em maio, 65% das edificações do estaleiro já estavam concluídas. A tarefa não é fácil, segundo André Frias, engenheiro coordenador dos projetos de engenharia. São obras de grandes dimensões.
A Oficina de Estruturas, por exemplo, que vai transformar chapas e perfis metálicos em blocos utilizados na montagem dos navios, tem 74 mil metros quadrados de área e 40 metros de altura. É a maior edificação do estaleiro e fica pronta em junho. O Cais I, com área de 5,2 mil metros quadrados e capacidade para atracar embarcações de até 210 metros de comprimento, recebeu em fevereiro a primeira parte do Goliath, um superguindaste de 150 metros, altura equivalente a um prédio de 50 andares, pesando sete mil toneladas e que pode içar cargas de 1,8 mil toneladas.