Historicamente, a construção naval viveu em ciclos. Há mais de 100 anos, estaleiros como Mauá, Caneco e a Costeira – esta última misto de armador e construtor – brilhavam. Em seguida, vieram décadas de pouco trabalho. O grande presidente Juscelino Kubitschek, atento à importância estratégica da atividade, criou o Grupo Executivo da Construção Naval (Geicon) e o Fundo de Marinha Mercante (FMM), mas o pleno ressurgimento só se deu nas décadas de 70 e 80.
Nesse período, chegou-se ao quarto lugar no mundo e aqui – com nova safra de estaleiros – foram produzidos navios de 313 mil toneladas, os maiores já fabricados no Hemisfério Sul. Em seguida, voltaram as teias de aranha a essas unidades fabris – com o agravante de que o setor é intensivo de mão de obra.
Em 2003, iniciou-se outro ciclo de ouro, graças ao trinômio crédito, demanda e condições técnicas. O Fundo de Marinha Mercante (FMM) não só teve suas dotações preservadas – que não vêm do orçamento, mas de captação sobre importações – como ganhou repasses do Ministério da Fazenda, sob o comando de Guido Mantega.
A capacidade técnica sempre existiu, mas as mudanças tecnológicas obrigaram à obtenção de tecnologia no exterior – muitas vezes acompanhada de capital. Quanto à demanda, está concentrada em óleo e gás, com destaque para a Petrobras. Graças ao convencimento dos governos, de lá para cá, navios-sonda, plataformas, petroleiros e barcos de apoio são construídos no Brasil.
Muitos falam nos males do conteúdo local, como preço mais alto e reserva de mercado. Mas essa política também tem seus benefícios, como o fortalecimento de empresas instaladas no país – tanto estaleiros como indústria subsidiária. No momento são gerados 80 mil empregos diretos, devendo-se atingir a emblemática marca de 100 mil em meados de 2015.
A questão foi muito bem colocada, em recente palestra, pelo assessor da presidente da Petrobras, Graça Foster, para conteúdo local e coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), Paulo Sergio Rodrigues Alonso. Ele ressaltou que essa diretriz não deve gerar protecionismo, mas incentivo.
Acentuou Paulo Alonso: “O poder de compra de uma grande companhia nacional de petróleo, a exemplo da Petrobras, é um poderoso instrumento para o desenvolvimento local, de fabricantes e de prestadores de serviços. Um plano amplo deve ser concebido para criar uma massa crítica de engenheiros, administradores e técnicos para alimentar a indústria de petróleo e gás em uma base sustentável”, disse. Ele citou como exemplo o Prominp, que desde 2006 qualificou mais de 95 mil pessoas no Brasil, a exemplo de soldadores, mecânicos, eletricistas, administradores, técnicos de automação e controle e engenheiros para trabalhar na indústria do petróleo.
Em breve, o Sinaval irá distribuir um documento aos presidenciáveis, mostrando o que foi feito de 2003 para cá. Se outros partidos, em outros momentos, adotaram políticas diversas, isso não se aplicaria, agora. O Brasil tem à sua frente uma riqueza de trilhões de dólares, o pré-sal. Dificilmente algum governante iria abrir mão de manter os benefícios gerados por essa benção da natureza no país. Será mostrado aos candidatos que hoje, o Brasil conta com uma construção naval forte, eficiente e bem distribuída por todo o território nacional. Os milhares de empregos vêm com carteira assinada, vale-refeição, plano de saúde e outros benefícios.
No passado, o setor viveu em altos e baixos. O que se espera é que, agora, como no Reino Unido e na Noruega, a indústria do petróleo gere não só a produção de equipamentos, mas implique a formação de centros de alta tecnologia. Reino Unido e Noruega não têm mais tanto petróleo, mas continuam a exportar tecnologia, produtos e serviços de óleo, gás e construção naval para todo o planeta. Não teria o Brasil o mesmo direito?
Assim, o presidenciável que assumir em janeiro encontrará uma indústria forte, buscando cada dia mais competitividade, para não só suprir o mercado interno como um dia voltar a exportar, gerando divisas para a nação, em vez de dívidas. Graças ao FMM, de JK, os estaleiros são competitivos ante Estados Unidos, Europa e Japão e apenas não podem concorrer com os preços da China, pois nenhum economista ocidental sabe como são formados os preços por lá. Também não há imprensa livre para mostrar problemas ecológicos e trabalhistas.
Portanto, nossa aposta e torcida é a de que, em vez de uma gangorra, a construção naval mantenha sua trajetória ascendente, em 2015, pois, antes de adotar julgamentos apressados, todo mandatário tem de pensar na grandeza de seus país e na felicidade dos filhos desta terra.
Ariovaldo Rocha
Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval e Offshore (Sinaval), escreve no Monitor Mercantil toda primeira sexta-feira do mês