Receita das mil maiores desacelera em 2013

  • 31/07/2014

O ano de 2013 confirmou a tendência de desaceleração no ritmo de crescimento dos negócios das mil maiores empresas do país, observada desde 2011. O faturamento líquido desse grupo de empresas, que inclui tanto as de capital aberto como SAs fechadas e limitadas, marcou o quarto ano seguido de crescimento, tendo alcançado R$ 2,9 trilhões no ano passado. O ritmo de expansão, porém, tem sido menor a cada ano.

Em termos nominais, o avanço da receita foi de 13% na comparação com 2012, ou de 6,7% reais, quando descontada a inflação pelo IPCA. O número se compara, entretanto, a um crescimento nominal de 18,8%, e real de 12,2%, verificado entre 2009 e 2010. Desde então, os índices vem caindo. Os dados serão apresentados em detalhes na 14ª edição do anuário “Valor 1000”, a mais abrangente publicação do tipo no mercado brasileiro.

Em termos de resultado líquido, o lucro do conjunto das mil empresas foi novamente afetado pelo efeito da variação cambial na dívida em dólar e recuou 8%, para R$ 103 bilhões. A queda, entretanto, foi menor do que a verificada em 2012, de 32%.

Tanto a vencedora do grande prêmio anual do “Valor 1000”, como as empresas que apresentaram o melhor desempenho econômico e financeiro em cada um dos 26 setores identificados serão conhecidas em cerimônia marcada para o dia 25 de agosto, no Hotel Unique, em São Paulo. Já o anuário circulará junto com a edição do jornal do dia 26 e ficará à venda a partir de então.

Pelo quarto ano consecutivo, o “Valor 1000” terá como base preferencial os balanços consolidados das companhias, o que agrega capacidade informacional aos números, uma vez que se evita dupla contagem e que subsidiárias integrais de grandes corporações se concentrem nos primeiros lugares, como Petrobras e BR Distribuidora, por exemplo.

Por outro lado, se essa opção editorial melhora a qualidade dos dados apresentados aos leitores, representa um desafio adicional para a equipe responsável pela elaboração do ranking, já que a meta de encontrar as mil maiores se torna mais difícil.

Quando se tem em mente que o Brasil tem cerca de 400 companhias abertas listadas em bolsa obrigadas a divulgar seus balanços – e que nem todas estão entre as maiores do país -, nota-se a importância do trabalho de levantamento dos dados.

Na distribuição de tarefas entre os responsáveis pela publicação, cabe à Serasa Experian ir atrás dos balanços, em tarefa que começa no mês de março de cada ano, com envio de questionários a um mailing de cerca de 2,5 mil companhias do país, e que se encerra no início de junho, com a elaboração do ranking das mil maiores empresas.

Ainda que nem sempre se consiga o balanço completo de empresas limitadas, o anuário consegue apresentar ao menos o dado de receita de 80 grandes companhias relevantes em seus setores, a partir de estimativas capturadas com base em informações das próprias companhias.

William Volpato, pesquisador que coordena o Valor Data e lidera a produção do anuário dentro do Valor chama a atenção para o fato de que as vencedoras setoriais são determinadas a partir de métricas contábeis e financeiras, sem interferência da equipe que elabora a publicação. “É um ranking transparente e facilmente replicável. Quem tiver o balanço chega nos mesmos números”, afirma ele, que ressalta, contudo, que há critérios de eliminação, por exemplo, quando o balanço da companhia apresenta ressalvas relevantes no parecer do auditor que invalidam os números apresentados.

Uma novidade na metodologia neste ano foi a adoção de um critério ligado à gestão do endividamento por parte das empresas. A métrica escolhida foi a razão entre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) e a despesa financeira bruta da companhia.

“É um índice clássico de cobertura de juros, que revela como a empresa gere seus encargos onerosos, e que pode ser mais facilmente aplicado para empresas fechadas”, diz Volpato, ressaltando que muitas delas encerram o ano sem saldo de dívida financeira no balanço, o que impediria o uso da medida dívida líquida/Ebitda, bastante usada no mercado para avaliar companhias abertas.

Volpato lembra que a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EASP-FGV), em equipe liderada pelo professor William Eid Jr., coordenador do Centro de Estudos de Finanças da faculdade, é responsável pela validação técnica dos critérios usados para elaboração do “Valor 1000”.

Segundo Volpato, o conjunto das mil maiores empresas apresentou índice de cobertura de juros de 2 vezes em 2013, o que significa que a geração potencial de caixa das empresas – indicada pelo Ebitda – seria capaz de pagar duas vezes a despesa com juros das mesmas companhias.

Assim como ocorreu com a receita, contudo, houve uma piora nesse indicador desde o pico de 3,22 vezes alcançado em 2010, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 7,5%.

Além do endividamento, entram como critério de classificação nos rankings setoriais a receita líquida da companhia (com peso dois), a margem Ebitda, a liquidez e o retorno sobre o patrimônio líquido, entre outras medidas.

O gerente do Valor Data destaca que, apesar de o faturamento ter peso dois, uma vez que tamanho é considerado um fator relevante, as campeãs nem sempre são as maiores do setor. “Uma empresa menor, mas mais eficiente, pode ficar à frente de um grande conglomerado”, diz ele.

O “Valor 1000” também se adapta a mudanças da economia, com seus movimentos de fusões e aquisições e criação de novas empresas relevantes no país. Neste ano, por exemplo, aparecem como novidade os setores de Educação e Ensino e de Serviços Ambientais, por passarem a ter um número de empresas suficientemente grande no ranking para sua “emancipação”.

Na mesma linha, o segmento de Empreendimentos Imobiliários, que reúne incorporadoras e as administradoras de imóveis comerciais, foi segregado de Construção e Engenharia, que conserva aquelas empresas que se dedicam principalmente a grandes projetos de infraestrutura. Por outro lado, também por movimentos de mercado, o setor de telecomunicações foi aglutinado com Tecnologia da Informação, da mesma forma que Mineração se uniu a Metalurgia e Siderurgia.

Além da lista das mil maiores empresas não financeiras do país, o Valor 1000 traz também rankings específicos para os setores de bancos, seguros, previdência e planos de saúde, entre outros, que possuem planos de conta contábeis e indicadores financeiros diferentes dos demais.

Fonte: Valor Econômico – Fernando Torres | De São Paulo
31/07/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: |