Prestes a completar dois meses com as atividades paralisadas, o Estaleiro Ilha S.A. (EISA), do Rio, ainda busca soluções para a crise na qual se encontra. O retorno ao trabalho dos 3,2 mil empregados do EISA, colocados em licença, depende de o empresário German Efromovich, controlador do estaleiro, conseguir financiamento de cerca de R$ 200 milhões. O dinheiro será usado como capital de giro, para pagar salários atrasados e outras obrigações. O armador Log-In, que encomendou sete navios ao EISA por R$ 1 bilhão, espera o desfecho do caso e se movimenta estudando a estratégia a seguir com a ajuda de advogados e consultores.
“Efromovich tem responsabilidade não só com o estaleiro, mas com o mercado que acredita na construção naval”, disse o presidente da Log-In, Vital Lopes. Ele acredita que o estaleiro vai voltar a operar, mas não explicou como. O estaleiro tem dificuldades de liquidez. O EISA pertence ao Synergy Group, de Efromovich, grupo que, embora tenha ativos de US$ 3,5 bilhões no Brasil e no exterior, sobretudo na Colômbia, não está em condições hoje de capitalizar o estaleiro. Para fazê-lo, precisa vender alguns ativos, o que requer tempo.
O empresário Omar Peres, que conduz as discussões representando o Synergy, disse que o grupo tomou a decisão de sair da área naval, vendendo os ativos de estaleiros. Nesse segmento, o grupo é dono, além do EISA, das instalações industriais da Ponta D’Areia, em Niterói, onde hoje operam três estaleiros: Brasa, Mauá e Eisa Petro 1.
O grupo de Efromovich vem tentando vender outros ativos, como a Petro Synergy, prestadora de serviços para a indústria de petróleo, mas enquanto isso não ocorre o objetivo é contratar empréstimo de curto prazo para permitir ao EISA voltar a operar. Peres disse que o estaleiro reúne três condições que lhe asseguram a continuidade: tem parque industrial, mão de obra e demanda. A carteira do EISA é de mais de US$ 1 bilhão. Mas apesar das encomendas, que chegam a 24 embarcações, o estaleiro não investiu para trabalhar com melhores índices de produtividade. Enfrentou bloqueio de contas por processo trabalhista relacionado ao Mauá, do mesmo grupo econômico, não pagamento de alguns clientes, como PDVSA, e greves.
Omar Peres, do Synergy: Eisa tem parque industrial, mão de obra e demanda
Efromovich estava ontem em Nova York negociando empréstimo de US$ 100 milhões com um fundo de investimentos que poderia emprestar os recursos ao estaleiro. Parte desses recursos poderia ser transformada em ações do EISA em um segundo momento. Outra alternativa na qual o grupo trabalha é conseguir financiamento de R$ 200 milhões da Caixa Econômica Federal, com garantias reais e prazo de pagamento de seis anos, para permitir que o estaleiro volte a funcionar. Procurada, a Caixa disse que não iria falar por questões de sigilo bancário.
Com o empréstimo, seja do fundo ou da Caixa, o EISA teria condições de voltar a operar e dar lucro a partir de 2015, disse Peres. Ele afirmou que o aporte é importante para que o EISA possa definir a data de volta dos empregados ao trabalho. Alex Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, disse que o estaleiro divulgou comunicado indicando a volta ao trabalho na quinta, quando vence mais uma folha de pagamento, que seria a segunda em atraso. Santos não afastou, porém, a possibilidade de que os empregados sejam colocados em aviso prévio se o dinheiro do empréstimo não entrar. “Apesar da carteira robusta, ninguém bota dinheiro da noite para o dia”, disse Santos.
Marcelo Gomes, diretor da Alvarez & Marsal, que representa a Log-In no caso, disse esperar uma resposta do Synergy Group em 48 horas. ” A solução para o problema não passa mais pela Log-In. A empresa aguarda posição de Efromovich e de sua equipe para ver como eles vão capitalizar o EISA e honrar os contratos”, disse Gomes. Vital Lopes, o presidente da Log-In, afirmou que dos sete navios contratados ao EISA, três foram entregues. “São navios de boa qualidade, com engenharia equivalente a de referência internacional, o que prova que o estaleiro tem condições de entregar [encomendas], mas precisa de investimentos”, disse Vital. Os outros quatro navios da Log-In ainda em construção no EISA têm atraso médio de 30 meses considerando a data contratual prevista para a entrega, disse Vital.
Ele afirmou que o atraso prejudica o objetivo da Log-In de ter uma frota uniforme, com custos adequados, o que se relaciona com a idade dos navios. Hoje dos oito navios da frota da Log-In, quatro são próprios e quatro alugados. “O atraso posterga nosso sonho de empresa”, disse Vital. A Log-In financiou os sete navios no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com quem o armador está em dia nos pagamentos. Até junho, a Log-In pagou R$ 67 milhões ao BNDES pelos barcos em construção e em atraso no EISA. O Valor apurou que o armador quer que o BNDES alongue os prazos da dívida, mas o pedido ainda não foi atendido