Tendência de integração de relatórios ganha fôlego

  • 28/08/2014

Um novo modo de pensar e comunicar o desempenho das empresas – além dos aspectos financeiros – ganha espaço no mundo corporativo. Diante de um cenário de desconfiança nas corporações e nos mercados de capitais, o clamor é para que aprimorem a abordagem e divulguem resultados mais conectados, coerentes e relevantes, em um relato integrado (RI), aos públicos de relacionamento – a começar por investidores e outros provedores de capital.

Começam a ser testadas as diretrizes para integrar a parte não financeira aos relatos, lançadas para dez países em abril, na BM&FBovespa, desde o início engajadas no movimento conduzido pelo Conselho Internacional para o Relato Integrado. O IIRC (sigla em inglês para Proposta de Estrutura Conceitual para o Preparo de Relatórios Corporativos Integrados) reúne os principais responsáveis pelos standards dos balanços, a Global Reporting Initiative (GRI), auditorias globais e membros de companhias, analistas e investidores internacionais. Os resultados, que avaliam os agentes envolvidos nessa empreitada, poderão ser percebidos ao longo desta década.

Com o propósito de unificar o relato corporativo, o IIRC definiu seis capitais que, de alguma forma, já vêm sendo tratados nos relatórios de sustentabilidade: financeiro; manufaturado; humano; intelectual; social e de relacionamento; e natural. Além disso, detalhou a inter-relação e o fluxo de cada um deles, que devem ser considerados desde a tomada de decisão até a divulgação dos resultados.

Nesse período de transição, mas de grande convergência entre diferentes instituições, a lógica do relato integrado é clara e tem o mérito de destacar as conexões-chave entre estratégia, modelo de negócios e geração de valor, na perspectiva de longo prazo, inovando na forma como as empresas e os provedores de capital financeiro gerenciam e alocam recursos.

A definição da estrutura conceitual do RI, focada em princípios de boa governança, envolveu 130 empresas e investidores internacionais no programa piloto, desenvolvido por mais três anos, com intensos debates e consultas públicas. O documento cria um novo caminho que agora começa a ser trilhado por organizações líderes, tais como Fibria, Duratex, Votorantim e Banco do Brasil. As protagonistas na evolução do relato de sustentabilidade, a partir de 2001, quando começaram a adotar (no caso da Natura) as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), rede mundial multistakeholder e mentora do IIRC.

A agenda nacional de discussões do RI estimulou iniciativas inéditas, como a criação da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado, liderada pelo BNDES, que em pouco tempo atraiu membros da academia, empresas, organizações setoriais e consultorias, além de instituições como Abrasca, Anefac.

Na medida em que as empresas administrarem melhor as implicações previstas no plano de negócios, os impactos socioambientais poderão ser minimizados. “O RI deve influenciar a gestão e garantir avanços no relacionamento com as partes interessadas”, diz Sandra Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Para Francisco Bulhões, diretor de Comunicação e Sustentabilidade do Grupo CCR, que divulgou o primeiro RI este ano, “é uma questão de tempo para se tornar uma exigência formal do mercado. Em um mundo cada vez mais competitivo, a pergunta não deve ser o que ganho com isso, mas o quanto estou perdendo por adiar ou não fazer?”

Vânia Borgerth, assessora em Contabilidade e Transparência do Mercado do BNDES, diz que a metodologia proposta pelo relato integrado ajudará a “evitar que se escondam informações relevantes [à sociedade]”. Considerando o perfil do BNDES, é preciso assegurar que “os recursos destinados às empresas sejam bem utilizados”.

A transparência na comunicação também orienta a pesquisa “Relate ou Explique”, da BM&FBovespa, lançada em parceria com a GRI. A terceira edição anual da pesquisa listou as razões de 149 das 311 empresas ouvidas que ainda não divulgam informações socioambientais.

 

Fonte: Valor Econômico – Álvaro Penachioni, de São Paulo

 

28/08/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: |