A ArcelorMittal continua otimista em relação ao Brasil mesmo no cenário atual de baixo crescimento, disse o presidente-executivo da empresa para as Américas, Louis Schorsch, ressaltando, porém, a importância de o país ter um câmbio (dólar) mais desvalorizado e de realizar reformas estruturais para acelerar a expansão da economia. Segundo ele, um real mais fraco teria o maior impacto para melhorar a competitividade no curto prazo, ainda que não seja algo fácil de conseguir – há riscos de alta da inflação, por exemplo. A atual cotação do dólar, embora melhor que o cerca de R$ 1,60 observado em 2011, ainda está abaixo do que seria desejável.
Embora o grupo tenha adiado por mais um ano o projeto de gastar US$ 320 milhões na unidade Vega, em São Francisco do Sul (SC), numa nova linha de laminação de aço, Schorsch afirmou que a empresa continua a investir no país. Ele citou US$ 200 milhões destinados à expansão da laminação em João Monlevade, em Minas Gerais, que deve ficar pronta no segundo trimestre do ano que vem. Além disso, a ArcelorMittal vai investir US$ 30 milhões em Vega, num pequeno aumento de capacidade.
Schorsch também destacou a decisão, tomada em julho, de religar o terceiro alto-forno da usina de Tubarão, no Espírito Santo, para atender a demanda da planta de Calvert, no Alabama, nos EUA. Apta a produzir 7,5 milhões de toneladas de placas ao ano, Tubarão embarcar 2 milhões delas por ano com destino à fábrica nos EUA.
O executivo afirmou ainda que a empresa mantém os estudos para aumentar a produção de laminados a quente de 4,2 milhoes para 4,6 milhões de toneladas por ano em Tubarão, mas sem especificar prazos.“Nós continuamos positivos em relação ao Brasil. Nós ainda gostamos do Brasil, temos pessoas muito boas no país e temos bons ativos”, afirmou ontem ao Valor, em Calvert.
Ele afirmou que o grupo ainda planeja fazer o investimento na nova unidade de Vega. A questão é que não precisa fazê-lo tão rapidamente, num quadro em que a economia brasileira cresce pouco e há excesso de oferta de aço no mundo. Também pesa no adiamento o fato de o mercado brasileiro do produto não ser tão grande, segundo ele.
O de aços planos está na casa de 10 milhões a 12 milhões de toneladas por ano. Com isso, errar o timing do investimento tem um risco mais alto. A linha a ser construída, de aço galvanizado, deverá processar mais de 500 mil toneladas por ano de chapas a serem usadas na produção de carrocerias de automóveis. O mercado brasileiro é muito importante para a companhia, afirmou ele, observando que há no Brasil um crescimento muito rápido do setor automotivo.
Ao tratar do cenário econômico do país, Schorsch disse que “todo mundo está preocupado em relação às perspectivas para o Brasil”. Lembrou que o país estava indo extremamente bem há alguns anos, mas que a situação começou a ficar “mais difícil e desafiadora” em 2010 no setor de aços planos e um poco depois no de aços longos. “As pessoas com quem converso dizem que é necessário promover algumas reformas estruturais e fazer um esforço muito sério em infraestrutura – tendo usado alguns aeroportos, eu concordo”, brincou. Seria importante enfrentar os problemas do sistema tributário e da legislação trabalhista, assim como ter a moeda mais desvalorizada.
“A minha percepção é que esses problemas podem ser resolvidos. Talvez sejam difíceis, mas todos de algum modo sabem o que precisa ser feito”, disse ele. No caso do câmbio, ter uma moeda mais desvalorizada traz desafios, como o risco de inflação. Mas há questões importantes de competitividade e uma moeda mais desvalorizada poderia ter um impacto maior no curto prazo, afirmou. Reformar o sistema tributário ou a legislação trabalhista são tarefas mais complicadas, e gastos com infraestrutura levam tempo para surtir efeito. Há expectativa generalizada em relação ao que vai ocorrer com as eleições, disse Schorsch, enfatizando que a empresa não se envolve em política. “Acho que o que precisa ocorrer tem sido bastante debatido e discutido.”
Na conversa com o Valor, Schorsch também tratou do impacto do aumento das importações da China, que causa preocupações no Brasil, nos EUA e na Europa. Além da entrada do produto do país asiático no mercado brasileiro, o aço chinês tem um papel cada vez mais importante e crescente em países da América do Sul que são destinos naturais para as exportações do Brasil, como Peru e Chile, disse ele.
Ele lembrou que a China faz hoje mais da metade do aço global. “Se o Brasil exportar 5% da produção, isso equivale a 1 milhão de toneladas. Se a China exportar 5%, são 40 milhões de toneladas”, comparou, para dar uma ideia do potencial de impacto das vendas externas do país asiático. Segundo ele, há na China muita relutância para reduzir capacidade, e uma das respostas é elevar exportações.
Ao falar da situação nos EUA, Schorsch disse que a economia americana está num bom momento. O nível de demanda é bom, não havendo aquecimento excessivo, disse ele. Em agosto, houve grandes vendas para o setor automotivo. “A recuperação da economia é boa, com bom dinamismo. Uma exceção é o mercado de construção, que ainda está um pouco fraco”, afirmou. Segundo ele, a retomada no segmento tem menos força do que no resto da economia. “E construção é provavelmente o maior mercado individual para produtos de aço.”
A revolução do gás de xisto também beneficia a empresa nos EUA. O desenvolvimento de técnicas como a fratura hidráulica e a perfuração horizontal levaram a um forte aumento da produção de gás no país, derrubando preços. Para uma empresa intensiva em energia como a ArcelorMittal, isso ajuda a reduzir custos, além do aumento da demanda de produtos fabricados pela empresa.
Fonte: Valor Econômico – Sergio Lamucci, De Calvert, Alabama – o jornalista viajou a convite da empresa