O Brasil caiu no ranking mundial de competitividade elaborado pelo Forum Econômico Mundial. O tombo foi de apenas uma posição, para a 57ª, mas ratifica uma tendência declinante, pois já recuara oito degraus entre 2012 e 2013 (da 48ª para a 56ª). Na América Latina, o Chile, que ocupa o 33º lugar, continua na dianteira com larga vantagem sobre os demais países da região.
O ranking é um coquetel ponderado de requisitos básicos, fatores que potencialmente ampliam a eficiência e inovação e sofisticação. É difícil atribuir uma piora relevante nos indicadores brasileiros entre um ano e outro. Como toda classificação é relativa, basta que outros países evoluam com um pouco mais de rapidez para que o Brasil, mesmo parado, desça na escala. Erosão da posição competitiva brasileira já havia aparecido em outro ranking divulgado em 2014, o “World Competitiveness Report” do IMD.
As pragas que assolam a economia brasileira e conspiram contra a capacidade de o país concorrer são conhecidas e jogaram o país para baixo no ranking. Ele apontou deterioração nas condições macroeconômicas, falta de avanços significativos nos investimentos em infraestrutura, e na simplificação tributária e regulatória. “A queda é influenciada pelo progresso insuficiente na resolução da persistente fraqueza da infraestrutura de transportes e uma perceptível deterioração no funcionamento das instituições”, aponta o relatório do Forum Econômico. A avaliação da eficiência do governo e o grau de corrupção colocam o Brasil entre os 18 piores do mundo nesses quesitos.
O Brasil continua decaindo significativamente na comparação com os demais países por seu ambiente macroeconômico. Entre 2012 e 2013, já havia recuado da 62ª para a 75ª posição e agora está na 85ª. Está (mal) estacionado na avaliação da eficiência do mercado de bens (de onde havia caído de 104ª para 123ª no relatório anterior) e piorou bastante na eficiência do mercado de trabalho (da 69ª para a 92ª antes e na 109ª agora). Jogam contra o país o menor esforço fiscal e consequente aumento da dívida bruta, além da cadente taxa de poupança doméstica (14,7% do Produto Interno Bruto).
Chama mais atenção o contínuo desempenho ruim na eficiência do mercado de bens, onde, pelo ranking, o Brasil parece estar perto do fim da linha. A taxação total, pelo estudo, abocanha 68,3% dos lucros, um dado não obtido diretamente da pesquisa. Se verdadeiro, só 12 países no mundo tem um fisco mais voraz que o brasileiro. Desse nível de taxação decorre desestímulo forte aos investimentos e, de novo, os empresários do Brasil só tem mais 9 países em que seus congêneres estão em situação tão desfavorável.
Lugar comum de várias pesquisas, o Brasil se aproxima da lanterninha quando se trata do número de procedimentos necessários para se iniciar um negócio e do tempo necessário para que ele possa ser iniciado (107 dias, segundo o ranking). Menos divulgados – provavelmente muito exagerados, na verdade – são os indicadores que apontam a falta de abertura comercial do Brasil. A porcentagem das importações sobre o PIB – 14,9% – o colocaria entre os cinco países mais fechados do mundo, um dado pouco crível. Com uma tarifa média de 11,4% sobre os produtos importados, o Brasil também estaria, igualmente, entre o pelotão dos 30 países mais protecionistas do mundo.
A queda de posições no item eficiência do mercado de trabalho se deve ao que os empresários pesquisados apontam como falta de flexibilidade para determinar os salários pagos e nas práticas de contratação e demissão. Nos dois quesitos, o país está na companhia dos 23 mais engessados do mundo o que, de novo, parece um exagero.
Para completar a lista das desvantagens comparativas, o quadro institucional é péssimo, com o grau de corrupção e desperdício de recursos públicos entre os maiores do planeta. O peso da burocracia regulatória torna o Brasil um dos piores países do mundo no quesito – 143ª posição.
Visto com discernimento, rankings como o do Forum Econômico são menos úteis para apontar defeitos, a grosso modo conhecidos, e valiosos para aferir o grau de progresso geral do país em relação ao resto do mundo. Os resultados dos últimos rankings mostram que o Brasil, sob o peso da burocracia, dos impostos altos, da infraestrutura ruim e da baixa poupança, caminha bem devagar – e frequentemente para.
Fonte: Valor Econômico – Opinião