Nem tudo na produção nacional é notícia negativa. Em ritmo acelerado, a produção do pré-sal vem mostrando vigor suficiente para fazer com que a indústria extrativa tenha uma contribuição positiva crescente para a indústria em geral e também para o Produto Interno Bruto (PIB) deste e dos próximos anos.
Segundo analistas, o crescimento mais forte da indústria extrativa é também importante porque o setor, intensivo em capital, tem fôlego para responder por uma participação relevante na retomada do hoje modesto volume de investimentos na economia.
Após dois anos no negativo, a expectativa, segundo especialistas, é que a indústria extrativa devolva em 2014 toda a queda acumulada em 2012 e 2013, seguindo em alta nos próximos anos. Para a equipe econômica do Itaú Unibanco, a indústria extrativa deve encerrar 2014 em alta de pelo menos 5%. Nas contas do economista do Itaú Irineu de Carvalho Filho, da expansão de 0,6% para o PIB esperada para o ano, 0,2 ponto percentual deve vir exclusivamente da indústria extrativa, o que é um resultado relevante, tendo em vista que o setor tem participação pequena no PIB, inferior a 10%.
Para a indústria em geral, Carvalho Filho diz que a expectativa é de queda de 1% em 2014, mas o tombo poderia chegar a algo próximo de 2% se não fosse a contribuição positiva de 0,8 ponto do setor extrativo.“É importante ressaltar que quando se fala em indústria extrativa se fala basicamente de petróleo é gás, que vai indo muito bem”, afirma.
A indústria extrativa é formada basicamente pelos segmentos de minério de ferro (com fatia de cerca de 55% setor) e de petróleo e gás (35%), cuja produção é centralizada pela Petrobras. Os outros 10% estão distribuídos em outros minérios de menor importância. Embora o segmento de minério de ferro ande devagar e, segundo analistas, deva encerrar o ano com crescimento próximo de zero, a produção de petróleo vem se recuperando rapidamente, não só porque algumas plataformas fechadas para manutenção em 2013 estão voltando a operar, como também porque o pré-sal avança com força.
Carvalho Filho lembra que a produção do pré-sal saiu praticamente do zero em 2008 e chegou a 15% em 2013. Em junho deste ano, o pré-sal alcançava 20% da produção nacional de petróleo e, segundo o economista, deve acabar o ano além disso. Para a produção de óleo e gás como um todo, o economista do Itaú espera alta de 5,6% em 2014 e aceleração de 8% no próximo ano.
Vinícius Botelho, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que com a entrada de plataformas novas em seus primeiros meses de produção é possível esperar alta de pelo menos 5% na produção de petróleo em 2014. Botelho ressalta que embora o setor não seja relevante para a geração de empregos, já que não é intensivo em mão de obra, ele pode favorecer o saldo da balança comercial – como já pode ser observado nos números da balança de junho sobre junho do ano passado –, com impactos positivos para a conta de transações correntes, que atualmente apresenta déficit de cerca de US$ 80 bilhões.
“Tudo isso indica um cenário promissor para o futuro”, afirma Botelho, cuja expectativa é de alta de 4,3% para a indústria extrativa em 2014, com possibilidade de ser ainda mais forte. Botelho identifica impactos menos significativos da indústria extrativa sobre o PIB como um todo, justamente porque o setor tem peso pequeno nas contas nacionais.
O economista, no entanto, sublinha que a expansão do segmento extrativo tem importância crucial para os investimentos, por ser intensivo em capital e, portanto, ter força para impulsionar o setor de máquinas e equipamentos. “Logo, o sucesso na exploração de petróleo traz perspectivas positivas na ótica do investimento.”
Segundo Botelho, o impacto positivo da indústria extrativa sobre investimentos deve ficar para 2015, pois, ao menos por enquanto, a expectativa é que a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil), registre queda de 4% a 5% em 2014, puxada principalmente pelo setor de construção. Para 2015, diz Botelho, a projeção é de alta ao redor de 2% da FBCF, mas a indústria extrativa pode melhorar isso. “Esperamos mais dados para construir um cenário com bases mais sólidas”, diz. “Vemos impactos positivos no superávit primário e na confiança, mas também mais estrutural, de longo prazo.”
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, também destaca o impacto difuso da indústria extrativa em outras cadeias, devido à produção de estaleiros e plataformas, dentre outros. O economista não espera algo “muito brilhante”, para o setor extrativo nos próximos meses, mas avalia que“muita gente” parece ignorar os efeitos de uma produção mais robusta de pré-sal em 2016, com impactos significativos na balança comercial e no balanço de pagamentos.
Na comparação com a indústria de transformação, que passa por um período prolongado de baixa, as dificuldades da indústria extrativa são menores, diz Fabio Guerra, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele lembra que a produtividade do setor é melhor, já que a indústria de transformação está mais exposta à competição com a produção internacional. “A extrativa também, mas ela avançou em desenvolvimento de mão de obra e produtividade, além de ter mais mercado externo”, diz.
No curto prazo, diz Perfeito, levando-se em conta o peso relativamente pequeno da indústria extrativa, é preciso cautela nas projeções. “Mas o setor extrativo pode ser uma joia da coroa do próximo governo, embora ninguém pareça estar pensando nisso agora”, diz o economista da Gradual. “Pode ser algo que venha para alterar a nossa histórica de fragilidade externa.”
Fonte: Valor Econômico/Flavia Lima | De São Paulo