O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Franco Papini, afirmou que a entidade é contra a flexibilização da lei de conteúdo local. Em sua opinião, essa postura não é boa para o país, uma vez que a construção naval tem uma demanda concentrada nas encomendas da Petrobras, onde foram feitos, segundo ele, diversos investimentos de grande porte na construção e modernização de estaleiros para fazer frente às encomendas da estatal do petróleo. A declaração de Papini rebate algumas teses que foram defendidas na Rio Oil & Gas 2014, quando foi sugerido a flexibilização da lei de conteúdo local como forma de atender a demanda da Petrobras.
O executivo do Sinaval lembrou que nas décadas de 70 e 80 o Brasil chegou a ser o segundo do mundo no setor, só perdendo para o Japão. Por decisões políticas o setor perdeu tudo, principalmente na cabotagem, entre outros. – Com isso, também perdemos a indústria fornecedora. Só para ter uma idéia, de indústria de motor principal nós tínhamos três e todas nós perdemos. Com a nova política que começou em 2003, com o ex-presidente Lula, o setor ganhou prioridade, inclusive fazendo parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – disse, ressaltando que, agora, o segmento está se preparando para atingir o patamar que tinha no passado: a Ásia demorou 30 anos para chegar ao nível que está hoje, que são os maiores do mundo. A própria Europa perdeu e hoje só faz embarcações especiais, como é o caso da Noruega. Só com esse primeiro passo que foi dado, nós saímos de um patamar de 1.900 empregos para acima de 80 mil e, com o advento do pré-sal, devemos passar de 100 mil empregos diretos?, disse, estimando a geração de empregos indiretos deve girar em torno de 400 mil empregos no setor.
Franco Papini fez questão de explicar ao MONITOR MERCANTIL que, quando se fala em política de conteúdo local, está se falando de uma política para a indústria fornecedora. – Apoio veementemente a condução dessa política de conteúdo local, apesar de alguns percalços que nós temos porque, durante muitos anos, basicamente não houve investimentos. Falta tecnologia, inovação. Então, esse é o trabalho do Sinaval. Estamos acompanhando de perto a inserção de empresas internacionais para que haja troca de conhecimento, capacitação, como forma de atender a demanda grandiosa da Petrobras – disse, acrescentando que não há no mundo uma demanda como a da estatal: a demanda nos dá uma perenidade de 30 ou 40 anos. O trabalho do Sinaval está concentrado na tentativa de atrair empresas internacionais, que possuem tecnologia, que inovaram, e que estão cada vez mais se inserindo no mercado brasileiro, disse, informando que muitas empresas estrangeiras já vieram ao Brasil como, por exemplo, empresas japonesas e italianas, que vieram sozinhas ou se associaram com empresas brasileiras, em função do sistema tributário do país ser complicado.
O brasileiro já tem conhecimento desse sistema para poder instruir o novo sócio de como funciona. Hoje, nós temos o Fundo de Marinha Mercante (FMM) que é o financiador de recursos através de bancos conveniados (BB, CEF, Bndes, Basa, Banco do Nordeste, e outros), para financiar a indústria naval?
Papini disse ainda que o Sinaval está tentando, através de um projeto junto ao Bndes e do BB, criar um produto dentro do FMM para financiar as empresas fornecedoras. A entidade, segundo ele, fez um levantamento para saber o quanto tem de navios petroleiros, de apoio, plataformas de produção e perfuração (sondas) para saber quais são os gargalos.
– Temos que saber as dificuldades em materiais e equipamentos. O Sinaval foi o maior incentivador de um fornecimento que houve para o estaleiro Aliança, através da empresa de navegação CBO, que comprou 12 motores da Dayhatsu, japonesa com alternadores fabricados em Jaraguá do Sul. Saíram do Brasil e foram para o Japão fazer o acoplamento, teste e depois voltaram para Niterói. Isso é uma logística louca.
Neste cenário, de acordo com Papini, a indústria de fornecimento poderia ser inserida. Por isso, a entidade, diz, está fazendo um trabalho junto às associações de classe, mostrando quais são as demandas dos estaleiros a nível quantitativo, especificando tecnicamente, como forma de entender de que maneira se pode, cada vez mais, aumentar o investimento para a indústria de petróleo e gás.
– Existem alguns percalços nesse processo. Por exemplo, os preços praticados no Brasil são mais elevados de certa forma. Qualidade, nós temos em alguns produtos, temos prazo de entrega. Quando se fala de preço, nós esbarramos num outro ponto, que é a previsibilidade. Se pegarmos a Petrobras, que sabe o que acontece em seus poços, quando vai ser a data de seu primeiro óleo, nós colocamos a indústria de fornecedores já participando dos projetos porque o mercado lá fora é ofertante, com preços convidativos, diferente do mercado que cumpre o conteúdo local. É um caminho árduo que não devemos abandonar. Somos positivos e o Sinaval vai acompanhar de perto.
Outro ponto frisado por Papini em relação ao conteúdo local é que todos os navios que estão sendo construídos, petroleiros, tanque, de apoio, ou plataformas vão operar em águas brasileiras. Por isso, ele afirma que é muito mais prático para o armador ter o seu fornecedor brasileiro perto dele caso haja algum tipo de problema – manutenção, por exemplo, que pode ser resolvido no dia seguinte por um telefonema.
– Se o fornecedor for europeu, ele não pode vir no dia seguinte. Tem problema de largar a família, organizar passagens, largar compromissos da empresa para poder se liberar e vir para o Brasil. Isso é um incentivo para o conteúdo local.
Fonte: Monitor Mercantil/Marcelo Bernardes