O grupo Maersk, o maior conglomerado de navegação do mundo, quer investir até US$ 4 bilhões nos próximos sete anos no Brasil, que já figura no “top 5” no ranking de investimentos globais da holding de origem dinamarquesa. As oportunidades concentram-se em três áreas onde a empresa atua no país: novos navios para o tráfego de contêineres, com o armador Maersk Line; terminais portuários, com a operadora APM Terminals; e serviços de apoio offshore, com a Maersk Supply Service.
O Brasil já é alvo, hoje, de US$ 4 bilhões de investimentos do conglomerado – da navegação à exploração de petróleo. A fatia representa 8% dos investimentos totais do grupo, que fechou 2013 com faturamento de US$ 47,3 bilhões e está listado na Bolsa de Valores de Copenhague.
“Estamos ansiosos para continuar a investir. Não seria impossível investir de US$ 2 bilhões e US$ 4 bilhões no Brasil nos próximos cinco a sete anos, se houver oportunidades”, disse Nils Andersen, principal executivo do grupo, em passagem por São Paulo. Ele não detalhou qual volume seria destinado a cada segmento, mas mirou com claro interesse os portos – tanto os futuros arrendamentos, que estão travados no Tribunal de Contas da União (TCU), quanto os terminais privados, os TUPs, que não dependem de licitação por serem erguidos em terreno próprio.
Atualmente, a APM Terminals opera três terminais arrendados nos portos de Santos (SP), Itajaí (SC) e Pecém (CE). “Teremos o maior prazer em operar portos privados, que é onde estão as oportunidades”,afirmou.
Cada projeto, disse o executivo, consumiria “facilmente” US$ 500 milhões. Seriam pelo menos dois terminais, estimou Andersen preliminarmente. Ele não indicou locais, para depois confirmar que Suape (PE) é atrativo. Questionado, admitiu a possibilidade de esses futuros negócios operarem não somente contêineres – o foco da APM Terminals -, mas também carga como granéis líquidos e sólidos e cargas não conteinerizadas, a exemplo do terminal multipropóstio que explora no Peru.
Andersen conversou com o Valor antes de seguir para Santos, onde conheceu a Brasil Terminal Portuário (BTP), instalação inaugurada em 2013 da qual a APM Terminals é sócia em conjunto com a Terminal Investment Limited. Mais novo e maior dos terminais da APM Terminals no país, a BTP irá garantir “um crescimento importante” da empresa no Brasil, disse o executivo.
A vinda de Andersen à América do Sul incluiu ainda visitas a Argentina e Chile. O principal objetivo da viagem foi atender os clientes, conversar com os funcionários e falar sobre planos para o futuro, disse o executivo discreta e sucintamente.
Segundo ele, a aposta no Brasil não deve sofrer ajustes devido à previsão de crescimento fraco do PIB neste e no próximo ano – variável que tem menor relevância no investimento em ativos de longa maturação.
No ano passado o grupo concluiu a renovação da frota de embarcações que opera entre o Brasil e a Ásia. Foram investidos US$ 2,2 bilhões em 16 navios com capacidade nominal para até 8,6 mil Teus (contêiner de 20 pés), os “Sammax”. Dentre as embarcações que escalam regularmente os portos do país, a geração Sammax é menor apenas do que a família “Cap San”, da Hamburg Süd (9,6 mil Teus).
“Talvez em cinco ou dez anos nós traremos navios maiores para o Brasil”, afirmou Andersen, destacando, para tanto, a necessidade de portos bem dragados – um desafio constante que tem sido frustrado pela velocidade das obras de aprofundamento contratadas pelo governo. NO exterior, a Maersk Line comemora a entrega de mais três dos 20 navios da classe Triple-E, com capacidade nominal para 18 mil Teus. Quanto maior o navio, maior a economia de escala do armador, que pode repassar a redução de custo ao frete.
O terceiro grande interesse do grupo no Brasil é ampliar os contratos da Maersk Drilling e da Maersk Supply Service no fornecimento de sondas de perfuração e embarcações de apoio à indústria offshore, respectivamente. Neste ano, a Maersk Supply Service fechou contrato com a Petrobras para fornecer quatro navios de manuseio de âncoras, abastecimento e reboque, que vão apoiar as operações da petrolífera no Brasil. Futuramente, a Maersk Drilling deve abrir um escritório no Rio de Janeiro.
Apenas a Maersk Oil, braço de exploração de óleo e gás, não deve crescer proximamente no Brasil. A empresa amargou prejuízo no segundo trimestre devido à frustração quanto à estimativa de reservas em dois campos no pré-sal da Bacia de Campos no Brasil. “Compramos um campo de petróleo que tinha menos óleo do que o esperado. Foi culpa nossa”. Por conta disso, a Maersk Oil fez uma baixa contábil de US$ 1,7 bilhão em seu balanço e decidiu reduzir a presença no negócio de exploração no Brasil, por enquanto.