Se o Brasil não acelerar o ritmo da inovação, ficará defasado no contexto internacional. O alerta foi dado pela diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagazio, durante a primeira edição do Fórum Inovação Social, Eficiência e Produtividade Empresarial, realizado pelo Valor, no dia 5, em Porto Alegre e a segunda dia 11, em Belo Horizonte. Ela destacou que a inovação é um componente fundamental do Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, documento que estabelece metas para promover a competitividade do segmento. No evento na capital gaúcha, patrocinado pela Hitachi, em torno de 250 empresários, representantes do setor público e pesquisadores debateram modelos de negócios inovadores, agricultura, infraestrutura, educação, tecnologia da informação e fontes alternativas de energia.
“Nenhum outro setor da economia está mais envolvido com a causa da inovação que o industrial”, disse Gianna Sagazio. Ela mencionou várias iniciativas da organização nesse sentido, entre elas a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), principal espaço de diálogo institucional entre empresas e governo sobre o tema. Um dos objetivos estratégicos do MEI é reproduzir, na agenda da inovação, o mesmo êxito alcançado nos anos 1990 com a agenda da qualidade. Os outros dois objetivos são organizar as contribuições das empresas e dialogar com o governo para fortalecer políticas públicas na área.
A diretora da CNI lembrou que a produtividade nacional estagnada e o cenário externo desfavorável formam uma conjuntura desafiadora, que precisa ser enfrentada com redução da burocracia, qualificação dos recursos humanos e fortalecimento das parcerias de empresas com governo e academia.
Entre as iniciativas nesse sentido, Gianna Sagazio citou a ampliação da estrutura do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e a criação da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii), que nos próximos quatro anos irá alocar R$ 500 milhões para projetos inovadores. Treze instituições de pesquisa já estão credenciadas e esse número deve chegar a 23 no final de 2015. A Embrapii é uma parceria entre a CNI, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI).
O consultor norte-americano Benson Garner, um dos maiores especialistas mundiais em design de modelos de negócios, apontou os caminhos possíveis para buscar a inovação a partir de Business Model Generation (BMG), metodologia utilizada por corporações como 3M, Coca-Cola, IBM, Lego, Telefônica e Ericsson.
“Decidir entre escolhas existentes já não é o suficiente para as empresas, pois os modelos atuais já expiraram”, afirmou o consultor. Para ele, a atenção às necessidades dos clientes é fundamental: “A razão número um para o fracasso de muitas startups é investir em produtos e serviços que as pessoas não querem”. Benson explicou que as ferramentas Business Model Canvas e Value Proposition Design, focadas em criar valor para os clientes e para o negócio, podem ser aliadas estratégicas no processo de inovação.
O papel estratégico da inovação não se limita ao setor privado. O diretor de planejamento da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Jorge Ussan, apresentou no seminário a estratégia competitiva do Rio Grande do Sul para criar um ambiente propício a negócios da nova economia. Em torno de 50 ações especificamente voltadas para pesquisa e desenvolvimento têm sido aplicadas pelo governo, de forma articulada com três bancos públicos. Uma delas é o RS Tecnópole, programa focado no incentivo à interatividade entre parques de inovação, empresas e universidades.
Ussan mencionou, entre os resultados dessa política de incentivos, a construção do maior complexo de energia eólica da América Latina, formado por três grandes parques cuja capacidade instalada soma 583 megawatts (MW) e deve superar os 2 mil MW em 2018. O Estado também avança na indústria naval – é o segundo polo brasileiro – e se prepara para lançar a Plataforma Gaúcha de Bioquerosene para Aviação. “O Rio Grande do Sul foi reconhecido pela GFCC (sigla em inglês para Federação Global de Conselhos de Competitividade) por ter uma das melhores práticas de estratégia competitiva regional em âmbito mundial”, afirmou.
O diretor de Inovação e Tecnologia da Braskem, Patrick Teyssonneyre, abordou a produção de polietileno derivado do etanol – o “plástico verde”– área em que a empresa química é líder mundial. Uma avaliação do ciclo de vida do produto mostrou que, para cada tonelada produzida, são retiradas 2,5 toneladas de CO2 do ambiente. A segunda onda de inovação da Braskem é a fabricação de polipropileno com o uso de açúcar ou etanol, por meio de biotecnologia. Quarenta pesquisadores trabalham no projeto em um laboratório em Campinas (SP) e já identificaram 120 aplicações potenciais para a tecnologia. As pesquisas na área de extração de gás de folhelho, também conhecido como gás de xisto são hoje mais uma das frentes de negócios da empresa com foco inovador. Um complexo petroquímico será construído nos Estados Unidos em conjunto com a Odebrecht, acionista controladora do grupo.
O presidente da Hitachi South America, Kazuhiro Ikebe, enfatizou a importância dos processo inovadores para a empresa: “Nosso foco é fazer inovação social a partir das perspectivas dos consumidores e buscar soluções em conjunto com eles”. O conglomerado japonês, disse, tem planos para ampliar os investimentos no Brasil, em especial na área de tecnologias de satélite e de big data para o agronegócio. A companhia pretende expandir as operações no território brasileiro, onde tem dez empresas, emprega 1,5 mil trabalhadores e fatura US$ 300 milhões por ano – volume pouco expressivo em comparação com o faturamento global de US$ 93,4 bilhões.