Queda do petróleo já afeta países, empresas e bancos

  • 27/11/2014

Os bancos Barclays e Wells Fargo se defrontam com prejuízos potencialmente grandes sobre um empréstimo de US$ 850 milhões concedido a duas empresas de petróleo e gás. A possível perda é um sinal do impacto da drástica queda do preço do petróleo sobre a economia como um todo.

Detalhes do financiamento surgiram quando a Arábia Saudita sinalizou ontem que não pressionará em favor de uma grande alteração das metas de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), na véspera da reunião decisiva do cartel, marcada para hoje em Viena. Vários países da Opep vêm defendendo uma redução da produção para sustentar os preços, que caíram 30% desde junho, enquanto outros não veem necessidade de mudança.

O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, disse estar “muito confiante” de que a Opep terá uma posição unificada.

As repercussões da queda vertical dos preços estão se espalhando para além do setor energético, ao alcançar as moedas e orçamentos nacionais dos países exportadores de petróleo e as ações das empresas ligadas ao setor. O rublo russo perdeu 27% de seu valor desde meados de junho, a coroa norueguesa caiu 12% e ontem a naira nigeriana alcançou baixa recorde.

As empresas também estão sendo atingidas. As ações da BP, por exemplo, caíram 17% desde meados de junho, e as da Chevron registraram depreciação de 11%.

As ações da Seadrill, uma das maiores proprietárias mundiais de sondas de perfuração, chegaram a cair 18% ontem, após a empresa suspender o pagamento de dividendos. A Seadrill sofre com uma superoferta de sondas, num momento em que os principais produtores reagem à queda do petróleo cancelando projetos.

Agora os bancos também estão sendo afetados. Barclays e Wells devem enfrentar potenciais prejuízos na sua operação de crédito ao setor energético. Os dois bancos encabeçaram um “empréstimo-ponte” de US$ 850 milhões este ano, destinado a ajudar a financiar a fusão entre as empresas americanas Sabine Oil & Gas e Forest Oil.

Os investidores, no entanto, negaram-se a comprar o empréstimo em junho, quando ele foi oferecido pela primeira vez, e a queda acentuada dos preços do petróleo, associada à volatilidade dos mercados de crédito nos meses que se seguiram frustraram novas tentativas de vender ou de sindicalizar o empréstimo, dizem participantes do mercado. O Barclays e o Wells Fargo preferiram não comentar.

Com a incapacidade dos bancos subscritores de repassar o empréstimo a investidores, eles agora se defrontam com o prejuízo causado pela operação, diante da corrosão do valor dos títulos das duas empresas petrolíferas. Os bônus da Sabine foram negociados acima de seu valor de face, por US$ 105,25, em junho, mas caíram, desde então, para US$ 94,25 – o que os situa, inequivocamente, no campo do“crédito de alto risco”.

Dirigentes de bancos concorrentes estimam que, se o Barclays e o Wells Fargo tentassem sindicalizar o empréstimo de US$ 850 milhões agora, os títulos não alcançariam mais que US$ 0,60 por cada dólar de valor de face.

Marty Fridson, diretor de investimento da LLF Advisors, diz que, dos 180 bônus com alto risco de crédito constantes do índice do Bank of America Merrill Lynch de papéis de alto rendimento, 52, ou 28,89% foram emitidos por empresas do setor energético. “O setor energético caiu em desgraça”.

O segmento responde atualmente por 4,6% dos empréstimos alavancados pendentes, em relação aos 3,1% de dez anos atrás, segundo a empresa de dados financeiros S&P Capital IQ. Os bônus das companhias de produtos energéticos correspondem a 15,7% do US$ 1,3 trilhão do mercado de “junk bonds” (bônus de alto risco), segundo dados do Barclays, comparativamente ao percentual de 4,3% computado dez anos atrás.

 

Fonte: Valor Econômico — Tracy Alloway | Financial Times, de Nova York

 

27/11/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: |