Operação pode resultar em retração ou adiamento de inversões que estatal vem executando, com impacto na economia do país e do RJ
Como estão em curso pesados investimentos nos blocos do pré-sal, na Bacia de Santos, os mercados começam a se preocupar com a possibilidade de as revelações da Operação Lava-Jato engessarem a Petrobras, o que teria sérias consequências na economia brasileira, especialmente nos estados onde a cadeia produtiva da indústria petrolífera se faz mais presente. Parte expressiva desses investimentos da Petrobras já avançou da fase exploratória para a de desenvolvimento, com a perfuração de poços produtores, instalação de plataformas e infraestrutura para transporte de um grande volume de óleo e gás. Trata-se de um momento em que os investimentos passam a ser mais financiados pela geração de caixa proveniente dos negócios da companhia.
As plataformas e os equipamentos estão em fase de montagem e não são alvo principal das denúncias investigadas pela Polícia Federal. Ao menos por enquanto, o escândalo vem se concentrando na área de abastecimento, tanto em contratos referentes à construção das novas refinarias (Abreu e Lima, no Nordeste, e Comperj, no Rio de Janeiro) como na reforma e expansão das existentes.
De qualquer forma, a preocupação dos mercados faz sentido, pelo desenrolar dos acontecimentos. As denúncias puseram como suspeitas de coparticipação nos crimes de corrupção várias companhias que executam obras para outras áreas da Petrobras, e não somente na de abastecimento. O esquema criminoso agora denunciado pode ter suas garras e teias desarticuladas dentro da estatal, mas, até por determinação do Tribunal de Contas da União, há contratos sendo revistos.
A indústria do petróleo e gás tem considerável peso na economia fluminense, com forte impacto sobre as receitas do Estado e de vários municípios, por exemplo. Recentemente em Brasília o governador reeleito do RJ, Luiz Fernando Pezão, pediu cautela para que as obras não sejam paralisadas generalizadamente. Para realização dos Jogos Olímpicos de 2016, os governos federal, estadual e municipal firmaram parcerias para investimentos em infraestrutura no Rio, e não há mais tempo de sobra para qualquer paralisação sem que isso ponha em risco os compromissos assumidos. Todo cuidado será pouco nesse momento para que se possa detectar algum sinal de perda de arrecadação que inviabilize tais investimentos.
Mas, por precaução, o governo estadual não deveria deixar de ter um plano B, para ser acionado na hipótese de a Operação Lava-Jato afetar a continuidade dos investimentos da Petrobras, seja pela necessidade de revisão dos contratos ou por dificuldades que a empresa possa vir a ter para captação de recursos nos mercados financeiros. Como assinalado pela própria diretoria da estatal, o dinheiro atualmente em caixa só é suficiente para garantir os compromissos pelos próximos seis meses.
Fonte: O Globo — Opinião