Há uma crise no Brasil. Não é o fim do mundo nem vai levar tudo que foi conquistado ao fundo do poço. Mas é momento de atenção, ressaltam todos com quem tenho conversado sobre esse assunto.
Há o reconhecimento de que a crise tem cinco frentes visíveis:
- Um momento de ajuste fiscal que vai afetar a capacidade de investimento público;
- O início de um novo governo com alianças em formação que provocam certo imobilismo até que existam propostas e definições claras;
- Mudança do cenário macroeconômico mundial com a queda nos preços do petróleo que afeta as decisões de investimento internacional;
- Crise na Petrobras com a redução dos preços do petróleo e os impactos da Operação Lava-Jato que reduz acesso ao mercado de capitais internacionais;
- Falta de percepção geral de que a crise é do Brasil, não apenas de alguns partidos políticos, e necessita de respostas integradas de todos os setores da sociedade.
A construção naval brasileira é um setor que apresenta um desempenho muito positivo e em novembro registrou aumento no número de empregos, que passaram de 81 mil em setembro para 85 mil em novembro de 2014.
A atual crise não afeta grande parte dos contratos de construção naval em andamento. Não afeta o programa de construção de petroleiros, com oito navios entregues e 38 com entrega prevista até 2020. Não afeta a construção de navios de apoio marítimo à produção de petróleo em alto mar, contratos com empresas privadas operadoras das frotas e que prestarão serviços à Petrobras, com entregas previstas até 2020.
O que pode ser afetado é o plano de negócios da Petrobras em relação ao fornecimento de 56 novas plataformas de produção até 2030, considerando a manutenção das metas de produção.
Os contratos atualmente em andamento de construção de 12 plataformas de produção (oito no Estaleiro Rio Grande e quatro no Estaleiro Inhaúma/ Enseada Indústria Naval) devem prosseguir. As plataformas têm programas de produção planejados.
Problemas pontuais
A construção naval tem problemas pontuais que não podem ser atribuídas a crise atual. Por exemplo a crise no Estaleiro Ilha S/A (EISA) é um problema financeiro dos acionistas do estaleiro. A mesma coisa acontece com o estaleiro IESA, no Rio Grande do Sul – é um problema financeiro do acionista. Para ambos os casos uma solução de mercado deve ser encaminhada. O caso da OSX Construção Naval também resulta do problema financeiro do acionista.
O programa de construção de sondas de perfuração contratadas pela Sete Brasil, passa por um momento de definições. O primeiro lote de nove sondas, das 29 previstas, com previsão de entrega em 2015 e 2016 pode resultar em alguns atrasos.
A realidade do mercado
A realidade é que o Brasil tem enormes reservas de petróleo que melhor serviriam se fossem utilizadas. Para isso é necessário restabelecer a capacidade de ação da Petrobras.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Rocha, aponta que o aumento da produção de petróleo no Brasil é uma realidade. O bom resultado foi atingido com trabalho competente da Petrobras e com navios e plataformas de produção construídas em estaleiros brasileiros. Atualmente existem 16 plataformas, cujas entregas já se iniciaram, construídas e em construção em estaleiros locais. Em 2014, seis plataformas construídas no Brasil iniciaram produção de petróleo em alto mar.
Os estaleiros brasileiros estão construindo embarcações para oito segmentos do mercado: rebocadores portuários; comboios fluviais; navios de apoio offshore; navios porta contêineres; navios graneleiros; navios petroleiros; plataformas de produção de petróleo e sondas de perfuração.
Rocha destaca que em dez anos os investimentos realizados pelas empresas criaram um novo setor industrial com grande integração internacional, atraindo recursos financeiros e tecnologia.
O Sinaval propõe a união dos fornecedores da Petrobras a favor das conquistas legítimas alcançadas e que contribuem para o desenvolvimento social e econômico do país. A proposta do Sinaval é um plano ação que deveria ter a adesão dos fornecedores da Petrobras. A meta é a defesa dos interesses legítimos e essenciais da produção de petróleo e expansão do transporte marítimo no Brasil.