Petrobras recorre a Dilma para salvar principal fornecedor do pré-sal

  • 15/12/2014

Assustado com o início das demissões nos grandes estaleiros, o governo pediu pressa ao BNDES na aprovação de um empréstimo de US$ 5 bilhões (R$ 13,3 bilhões) para a Sete Brasil, maior fornecedora da Petrobras no pré-sal.

A discussão sobre o empréstimo, parada há algum tempo, foi destravada na semana passada após interferência de Brasília. A chefe da Petrobras, Graça Foster, acionou a presidente Dilma Rousseff após uma reunião em que o comando da Sete expôs a grave situação da empresa.

A ideia é ter tudo pronto para assinar os contratos até o fim do mês, mas a operação ainda depende da apresentação de algumas garantias.

A Sete foi criada para construir e alugar 28 sondas de perfuração para a Petrobras, um projeto de US$ 25 bilhões (R$ 66,4 bilhões). Surgiu da vontade do governo de usar o pré-sal para estimular a indústria naval. As grandes empreiteiras, mesmo sem experiência no ramo, construíram estaleiros para aproveitar as encomendas bilionárias.

Também embarcaram na empreitada, como sócios da Sete, os bancos Bradesco, BTG Pactual e Santander, além da Petrobras e dos maiores fundos de pensão estatais do país.

A Sete ficou sem dinheiro no meio do caminho e atrasou os pagamentos aos estaleiros contratados, que começaram a dispensar funcionários. Na quinta (11), o Enseada anunciou a demissão de mil trabalhadores na Bahia. Contratado para fazer seis sondas, o estaleiro está sem receber há três meses.

O receio do governo é que essas demissões se alastrem. Tanto que Brasília quer que a Petrobras arque com os custos trabalhistas dos cortes de funcionários que seus fornecedores venham a fazer.

No encontro com a diretoria da Petrobras na semana passada, o presidente da Sete, Luiz Carneiro, disse que os estaleiros nacionais não teriam fôlego para aguentar atrasos nos pagamentos e ameaçavam demitir mais. Entre empregos diretos e indiretos, os projetos da empresa geram cerca de 100 mil vagas.

Lava jato

Os sócios da empresa também fazem pressão para que o governo force os bancos públicos a financiar a Sete. No projeto inicial estavam previstos empréstimos do BNDES e do Banco do Brasil. Só que os bancos, já preocupados com problemas entre os sócios e atrasos no projeto, pisaram no freio de vez depois da Operação Lava Jato.

Boa parte dos estaleiros que trabalham para a Sete pertence às construtoras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras. Pior: o primeiro diretor de operações da companhia foi Pedro Barusco, que confessou ter recebido propina quando era executivo da Petrobras.

Com gastos de US$ 300 milhões por mês, a Sete depende do financiamento do BNDES, que vem solicitando garantias adicionais para liberar o dinheiro. A demora no acerto com a instituição forçou a empresa a recorrer a empréstimos de emergência.

Em outubro, já com o pagamento aos estaleiros em atraso, a Sete pediu socorro ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal. A Caixa liberou R$ 980 milhões, mas o BB vem protelando o pedido de mais R$ 800 milhões.

O banco está pedindo juros altos para aprovar a operação e informou que só pretende liberar os recursos depois que a Sete assinar o contrato com o BNDES. É uma forma de garantir que terá seu dinheiro de volta.

Indústria nacional

As 28 sondas que a Sete Brasil mandou fazer custarão muito mais do que se fossem compradas em estaleiros internacionais. Além da falta de experiência, os fabricantes nacionais precisam construir os equipamentos com uma alta dose de componentes locais, que são mais caros.

A Petrobras vai pagar valores acima do mercado para alugar os equipamentos da Sete por decisão de governo, que usa a estatal para fazer política industrial. Se o fornecedor de sondas para o pré-sal tivesse sido escolhido pelo critério de menor preço, a Sete não teria esse contrato.

Procurados, BNDES, Banco do Brasil, Sete Brasil, Petrobras e o Planalto não quiseram se pronunciar.

 

Fonte: Folha de São Paulo/David Friedlander e Raquel Landin. De São Paulo

 

15/12/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: , , |