RIO DE JANEIRO – Se o Brasil não for capaz de realizar ajustes no arcabouço regulatório e em áreas fiscais, jurídicas e ambientais, será possível observar uma redução dos investimentos de grandes petroleiras no país, alertaram nesta sexta-feira representantes da indústria petrolífera no Rio de Janeiro.
No setor energético, a área de petróleo e gás é a que mais deverá atrair investimentos ao país nos próximos dez anos, com projetados cerca de 800 milhões de reais, o que dá uma ideia do que está em risco para o futuro do segmento no Brasil.
“Só vou conseguir investir no Brasil ou em qualquer outro país se as condições forem propícias, acho que a batalha é por competitividade”, afirmou o vice-presidente de relações públicas da norueguesa Statoil e porta-voz no Brasil, Mauro Andrade.
“A batalha por competitividade é algo que o governo brasileiro pode ter em mente, mas… soluções talvez não estejam sendo tomadas na velocidade desejada”, acrescentou ele, ao participar de debate em seminário na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Andrade avaliou que a presidente Dilma Rousseff deveria aproveitar o novo governo para implementar mudanças necessárias.
O executivo da Statoil destacou, entre outras mudanças, a necessidade de previsibilidade de rodadas de licitações de blocos exploratórios de petróleo e a busca por um aprimoramento dos licenciamentos ambientais.
“O receituário para resolver a maioria dos problemas da indústria de óleo e gás é também o receituário para resolver os problemas de todas as outras indústrias de capital intensivo”, destacou.
Também presente no evento, o secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Antonio Guimarães, afirmou que os licenciamentos ambientais poderiam ser mais rápidos.
“O processo de licenciamento ambiental está ‘n’ vezes mais complexo”, destacou, também questionando a atual política de conteúdo local, que deveria servir efetivamente para estimular a atividade industrial. “É assim como o remédio: pode trazer bem, mas o mesmo pode trazer o mal”, disse Guimarães, que argumentou que a indústria local não conseguiu acompanhar os investimentos no setor e se tornou um gargalo.
Andrade ponderou que os investimentos de grandes petroleiras como a Statoil não se reduzem de uma hora para outra. Ele observou que a produção de petróleo por companhias estrangeiras no Brasil, até 2020, deve crescer de forma expressiva para entre 600 mil e 700 mil barris de petróleo por dia.
Segundo Andrade, essas estimativas têm base em planos de investimentos já traçados e assegurados. Mas o problema mesmo é a permanência do crescimento, e por isso a necessidade de ajustes no setor agora. “Essa é uma indústria que eu preciso tomar decisões hoje que vão afetar meus números de produção, de investimentos em 10 anos”, afirmou. “O Brasil continua do ponto de vista geológico extremamente atrativo, não se achou em nenhum lugar do mundo, nos últimos dez anos, tanta reserva quanto se achou no Brasil. Mas não basta isso”, afirmou.
Segundo ele, há outros locais no mundo ganhando destaque na exploração de petróleo, como Austrália, México, Colômbia, Argentina e leste da África, e o Brasil precisa se preocupar com isso neste momento para não perder competitividade.
Ele ressaltou que o Brasil, antes de 2013, passou cinco anos sem rodada de licitação, e “agora a gente está começando a ver os problemas disso”.
“Teve uma diminuição na área exploratória, consequentemente teve uma redução das atividades exploratórias, cai o número de serviços, cai o número de sísmicas, cai o número de equipes de exploração…”, afirmou.
O professor da UFRJ Edmar Almeida destacou durante o evento que as dificuldades para financiamentos de menores empresas e a ausência de leilões durante um grande período provocou uma redução das atividades exploratórias no Brasil.
Para exemplificar, Almeida apontou que o número de sondas de perfuração em atividade em campos em terra caiu para cerca de 20 unidades em setembro deste ano, ante cerca de 50 em meados de 2012, enquanto as sondas em mar caíram em setembro deste ano para 29 unidades, ante 49 em dezembro de 2011.
O mesmo aconteceu na quantidade de poços perfurados. Em 2013 foram perfurados cerca de 400 poços em terra, enquanto em 2008 haviam sido 700. Já no mar esse número caiu para cerca de 190 em 2013, ante cerca de 230 em 2011.
O diretor de Relações com o Governo e Assuntos Regulatórios da Shell Brasil, Flávio Rodrigues, disse que a última sonda em atividade da petroleira acabou de deixar o país. “Não temos mais atividade (de perfuração) neste momento no Brasil.”
A perfuração de poços da terceira fase de desenvolvimento do Parque das Conchas, na Bacia de Campos, o principal ativo produtor da Shell no país, foi concluída há alguns meses.
Na parcela de blocos em terra especificamente, Almeida destacou que grande parte das atividades em terra são realizadas por empresas brasileiras, como HRT, Petra Energia, Parnaíba Gás Natural (antiga OGX Maranhão) e Ouro Petro.
Após a crise vivida pela Óleo e Gás Participações (ex-OGX), as empresas menores de petróleo brasileiras começaram a enfrentar dificuldades para a atração de investidores.