Quase US$ 1 trilhão de gastos em futuros projetos de petróleo estão ameaçados pela drástica queda dos preços do petróleo para quase US$ 60 o barril, advertiu o Goldman Sachs. O cancelamento desses projetos privará o mundo de 7,5 milhões de barris/dia de nova produção nos próximos dez anos. O volume equivale a 8% da atual demanda global de petróleo.
A avaliação sugere que a superoferta que fez os preços despencarem este ano pode sumir em breve com o adiamento, pelas grandes petrolíferas, de caros projetos de produção, os propulsores do abastecimento futuro de combustível.
O petróleo tipo Brent, a referência internacional, caiu mais de 45% desde meados de junho, com a escalada da produção americana de xisto, a sólida oferta da Opep e a fragilidade da demanda mundial.
A queda dos preços abalou o setor energético, pondo em dúvida alguns dos planos mais ambiciosos das principais petrolíferas e derrubando as ações das empresas do setor. Projetos em difíceis regiões pioneiras, como as águas profundas do Golfo do México, têm como base altos preços do petróleo e podem não ser economicamente viáveis com o petróleo a US$ 61 o barril, nível pelo qual o tipo Brent foi negociado ontem.
O Goldman avaliou 400 campos de petróleo e gás no mundo, muitos dos quais ainda aguardam decisão final de investimento. A análise, tendo como base o preço de US$ 70 o barril, indica que campos que representariam 2,3 milhões de b/d de produção até 2020 se tornaram antieconômicos. Esse número sobe para 7,5 milhões de b/d de produção até 2025. A análise exclui o xisto americano.
O Goldman mostra que, a US$ 70 o barril, as empresas terão de reduzir custos em até 30% — ao obrigar, por exemplo, fornecedoras a adotar grandes cortes de preços, para tornar os projetos lucrativos.
No total, a produção em risco desses campos soma US$ 930 bilhões em investimentos. Executivos de grupos petrolíferos americanos e europeus estão revisando com urgência seus orçamentos.
Vários sinalizaram reservadamente que haverá bilhões de dólares em cortes de gastos só no ano que vem, inclusive de orçamentos de gastos com bens de capital. A medida poderá levar a uma onda de vendas de ativos e a atrasos na exploração em regiões de alto custo, como as areias betuminosas do Canadá, e em áreas maduras, menos atraentes do ponto de vista econômico, como o Mar do Norte.
As grandes petrolíferas estão determinadas a manter os pagamentos de dividendos — que são um dos grandes motivos pelos quais os investidores mantêm suas ações — apesar de a queda da receita do petróleo dificultar a realização desses pagamentos unicamente a partir do fluxo de caixa.
Para tornar os projetos de novo viáveis, elas deverão cortar contratos com os grupos de serviços, renegociando preços e reduzindo a prospecção exploratória.
“Esse ambiente de adiamento de projetos e deflação de custos será extremamente difícil para as prestadoras de serviços petrolíferos, principalmente para empresas intensivas em utilização de capital, como as de perfuração, construção submarina e grupos de levantamento sísmico”, disse Michele dela Vigna, do Goldman.
Dados da consultoria Wood Mackenzie também apontam uma queda acentuada dos gastos. O setor poderá cortar 25% de suas despesas com bens de capital nos próximos cinco anos, não menos que US$ 250 bilhões anuais até 2018. “As empresas terão de reduzir seu orçamento pois projetos que funcionavam a US$ 80 ou US$ 90 o barril são difíceis de justificar aos níveis atuais”, disse Simon Flower, diretor de pesquisa corporativa da Wood Mackenzie.
Fonte: Valor Econômico — Christopher Adams | Financial Times, de Londres