A Sete Brasil está em atraso nos pagamentos com estaleiros aos quais encomendou 29 sondas de perfuração de poços de petróleo que têm investimentos estimados em US$ 25,5 bilhões. O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), presidido por Ariovaldo Rocha, confirmou ao Valor os problemas nos pagamentos: “Há serviços executados pelos estaleiros associados [ao sindicato] referentes a contratos assinados com a Sete Brasil que, embora já tenham sido performados e medidos, não foram pagos nas épocas previstas nos cronogramas.”
O Sinaval não citou números, mas o Valor apurou que os atrasos totalizam US$ 300 milhões. Os pagamentos, referentes a outubro, deveriam ter ocorrido em 27 de novembro, mas não foram feitos. As sondas foram encomendadas aos estaleiros Rio Grande, de Rio Grande (RS); BrasFels, de Angra dos Reis (RJ); Jurong, de Aracruz (ES); Enseada, de Maragojipe (BA), e Atlântico Sul (EAS), de Ipojuca (PE). Fonte disse que os pagamentos de quatro estaleiros (Rio Grande, Enseada, Jurong e EAS) são feitos a cada 30 dias de acordo com medição física dos serviços executados. Já o BrasFels recebe pagamentos em intervalos maiores, de acordo com “eventos”, ou cumprimento de etapas nas obras.
O Sinaval indicou que as dificuldades financeiras na Sete Brasil podem levar os estaleiros a enfrentar uma crise sistêmica. “A irregularidade nos pagamentos [pela Sete] pode acarretar instabilidade nos estaleiros, com o risco de paralisações de obras e prejuízos aos investimentos já realizados e, até mesmo, da perda de milhares de empregos gerados pelas atividades dos estaleiros, tanto na força de trabalho dessas empresas quanto na de seus fornecedores de materiais e equipamentos.” Como não recebem da Sete, os estaleiros estão atrasando pagamento a fornecedores. Em média, um estaleiro pode ter 30 fornecedores ou mais.
O Sinaval também fez um chamado ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, sem citar o nome do banco. “O Sinaval espera que sejam tomadas em caráter de urgência as devidas providências para a regularização desses pagamentos e que os agentes financeiros envolvidos nos financiamentos das obras destinadas à Sete Brasil analisem criteriosamente as consequências dessa irregularidade de pagamentos [pela Sete] e sua repercussão na eficácia dos contratos atuais.”
Esse trecho da nota do Sinaval foi interpretado por fontes do setor como uma pressão sobre o governo para tentar acelerar os desembolsos do BNDES à Sete Brasil. O BNDES aprovou, em janeiro, financiamento de US$ 3,7 bilhões para a construção de nove sondas da Sete Brasil, mas quase um ano depois o banco ainda não contratou o empréstimo, o que depende de garantias. O BNDES não fala.
No mercado, comenta-se que os escândalos envolvendo a Petrobras levaram o BNDES a adotar mais cautela para contratar a operação com a Sete Brasil. A empresa tem como acionistas a Petrobras, os fundos Previ, Petros, Funcef e Valia, os bancos Santander, Bradesco e BTG Pactual, além do FI-FGTS, entre outros. Em novembro, a Sete confirmou que abriu auditoria e investigação internas em documentos e contratos das sondas.
A medida busca apurar eventuais irregularidades nos contratos uma vez que o ex-diretor da Sete Brasil, Pedro Barusco, tornou-se delator na operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Barusco se comprometeu a devolver US$ 97 milhões desviados do período em que foi funcionário da Petrobras. O resultado de pelo menos uma das auditorias será informado em reunião ordinária no dia 17. Enquanto o empréstimo do BNDES não sai — a expectativa de alguns acionistas é que possa ocorrer em fevereiro —, a Sete tenta empréstimo com o Banco do Brasil. Esse empréstimo de curto prazo tem custo mais alto e hoje a capacidade financeira da Sete está no limite. A empresa já teria contratado diversos empréstimos-ponte no total de US$ 4 bilhões, disse fonte. Procurada, a empresa não se pronunciou.
Fonte: Valor Econômico — Francisco Góes e Raphael di Cunto | Do Rio e de Brasília