Enseada renegocia sociedade após Lava-Jato e atrasos da Sete Brasil

  • 26/01/2015

A dificuldade financeira vivida por estaleiros que têm contratos com a Sete Brasil, além dos efeitos diretos da Operação Lava-Jato no caixa de empresas investigadas, levaram os acionistas da Enseada Indústria Naval (Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki) a estudar um rearranjo societário para o estaleiro.

Diferentes ideias são discutidas. Como resultado da negociação, um novo sócio pode ser chamado para fazer um aporte na empresa e dois acionistas — OAS e UTC — podem ser diluídos ou até mesmo sair do projeto. Mas o avanço nas negociações depende de um empréstimo a ser liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à Sete Brasil, o principal cliente da Enseada.

O estaleiro da Enseada, que está sendo construído em Maragojipe (na Bahia), sofreu mudanças no cronograma. O empreendimento tinha previsão original de ser terminado no começo de 2015. No entanto, a própria companhia informa que ele tem atualmente apenas 82% das obras finalizadas. Para a construção, a empresa já assinou no passado contrato para receber R$ 1 bilhão do Fundo de Marinha Mercante (FMM).

Apesar de o estaleiro não estar terminado, foram demitidos mil funcionários das obras entre dezembro e janeiro. Segundo a Enseada, a medida serviu justamente para “readequar” o ajuste do efetivo após o replanejamento da obra. “Apesar de reconhecer o período de dificuldade enfrentando pela indústria naval brasileira, a empresa segue com sua operação industrial na Bahia para fabricação das seis sondas de perfuração para exploração do pré-sal”, informou a Enseada ao ser questionada sobre as demissões.

No passado, a empresa também tinha intenção de conquistar novos contratos. A Enseada encontra dificuldades, principalmente porque não recebe da Sete Brasil. O estaleiro, onde foram feitas as demissões, é justamente aquele onde serão produzidas as encomendas de US$ 4,8 bilhões feitas pela companhia. São seis navios-sonda para o pré-sal. Um dos navios, batizado de Ondina, está em construção e tinha previsão (até há poucos meses) de ser entregue em 2016. O último, chamado de Comandatuba, era previsto para 2020. Quatro destes navios serão operados pela Odebrecht Óleo e Gás. Os outros dois seriam operados pela Etesco /OAS.

Por conta das investigações da Operação Lava-Jato, o BNDES tem segurado repasses de financiamento à Sete Brasil (cujos acionistas são Petros, Previ, Funcef, Valia, Santander, Bradesco, BTG Pactual, Petrobras, EIG Global Energy Partners, Lakeshore, Luce Venture Capital e o fundo FI-FGTS).

O BNDES aprovou, em janeiro do ano passado, financiamento de R$ 8,8 bilhões para a Sete Brasil. E o Valor apurou com fontes à par das negociações que a contratação da operação – passo seguinte no trâmite do BNDES, e anterior às liberações – foi autorizada recentemente em reunião de diretoria. A assinatura da contratação em si, no entanto, ainda não ocorreu. Fontes não confirmam o valor que deve ser contratado. Mesmo que o banco já tenha aprovado a quantia de R$ 8,8 bilhões, ele pode fazer diferentes contratos para liberar o total de recursos. Procurado, o BNDES não se pronunciou.

Procurada, a Sete Brasil informou que tem atualmente 17 sondas em produção nos estaleiros. Uma delas, a Urca, já ultrapassou 85% do status de construção. “Duas delas estão previstas para ser entregues este ano, e as demais a partir de 2016, conforme o cronograma original”, informou a empresa por meio da assessoria de imprensa.

“Em relação ao processo de financiamento, o BNDES aprovou em dezembro de 2013 uma linha de crédito de longo prazo, atualmente destinada a financiar às oito primeiras sondas do portfólio, no valor de US$ 3,1 bilhões. Esse processo está em fase de elaboração das minutas contratuais, etapa complexa e que requer um tempo maior para sua conclusão, e encontra-se em vias de ser liberado”, continua a nota da companhia.

“A Sete Brasil segue atuando também para a obtenção de linhas de financiamento de curto prazo, de modo a suprir as demandas financeiras que exigem desembolsos imediatos”, destacou a empresa na nota.

Outro cliente da Enseada é a Petrobras, que contratou a conversão dos cascos de quatro navios petroleiros para uso da estatal no pré-sal da Bacia de Santos — um investimento de US$ 1,7 bilhão. Nesse caso, no entanto, os relatos são que os pagamentos seguem o fluxo programado e os trabalhos continuam sem maiores dificuldades.

Além da situação da Sete Brasil, os sócios da Enseada são encorajados a pensar em uma solução por causa do caixa das acionistas, que estão sendo investigadas. A OAS, conforme antecipado pelo Valor em dezembro, está alavancada e já deixou de pagar credores. Relatório recente da Fitch Ratings mostra que a empresa tinha R$ 2,4 bilhões em caixa na metade de 2014, e precisaria usar mais do que a metade disso (R$ 1,5 bilhão) para pagar dívidas de curto prazo. Além das obrigações financeiras, as companhias também precisam manter suas operações em andamento — o que reduz o fôlego. No caso da OAS, recuperação judicial e venda de ativos são medidas em análise.

 

Fonte: Valor Econômico — Fábio Pupo e Talita Moreira — colaboraram André Ramalho e Elisa Soares, do Rio.

 

26/01/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |