Por que o preço do petróleo está despencando?

  • 14/01/2015

A indústria do petróleo, com seus ciclos de elevação e queda, parece estar nos estágios iniciais da sua mais recente trajetória de queda. O preço da commodity despencou nos últimos meses, atingindo seu valor mais baixo em seis anos. Por que o preço está caindo tão rápido? E por que agora?

Esta é uma questão complicada, mas pode ser resumida à simples teoria econômica da oferta e demanda. A produção interna americana quase dobrou nos últimos seis anos, reduzindo as importações. Os petróleos saudita, nigeriano e argelino, que antes tinham os Estados Unidos como importador, repentinamente estão disputando os mercados asiáticos e os produtores são obrigados a reduzir o preço. Do lado da demanda, as economias da Europa e dos países em desenvolvimento estão mais frágeis e os veículos mais econômicos. De modo que a demanda por combustível está caindo um pouco.

Quem se beneficia com essa queda de preços?

Qualquer motorista dirá que os preços da gasolina caíram mais de um dólar o galão nos últimos meses. Os preços do diesel, do óleo de aquecimento e do gás natural também diminuíram drasticamente. No conjunto representam uma economia nada desprezível – mais de mil dólares no bolso das famílias no próximo ano. Europeus e consumidores em todo o mundo vão desfrutar de benefícios similares.

Quem perde?

Primeiramente os países e Estados produtores: Venezuela, Irã, Nigéria, Equador, Brasil e Rússia são alguns que sofreram turbulências econômicas e mesmo políticas. Os Estados do Golfo Pérsico provavelmente investirão menos em todo o mundo e poderão cortar sua ajuda a países como o Egito. Nos Estados Unidos, Alasca, Dakota do Norte, Texas, Oklahoma e Louisiana enfrentarão problemas econômicos. Algumas empresas de petróleo de menor porte muito endividadas poderão fechar, pressionando os bancos que emprestaram para elas.

O que ocorreu com a OPEP?

O preço do petróleo, como se verificou no caso de outras commodities, sobe e desce. E no passado a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) cortou com frequência a produção para aumentar os preços. Irã, Venezuela e Argélia vêm pressionando o cartel para agir novamente neste sentido, mas a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e outros aliados do golfo se recusam. Ao mesmo tempo o Iraque está produzindo mais. Segundo as autoridades sauditas, se elas cortarem a produção e os preços subirem perderão uma fatia do mercado e beneficiarão seus concorrentes. Elas gostariam de ver o preço diminuir ainda mais, mas alguns analistas acham que estão apenas blefando.

Existe uma conspiração no sentido de uma queda do preço do petróleo?

Existem muitas teorias de conspiração circulando por aí. Mesmo alguns executivos do setor observam que os sauditas querem atingir a Rússia e o Irã, e os Estados Unidos também têm o mesmo propósito – motivação suficiente para as duas nações produtoras de petróleo empurrarem os preços para baixo. Afinal a queda verificada na década de 80 contribuiu para o colapso da União Soviética. Mas não há evidências apoiando essas teorias e a Arábia Saudita e Estados Unidos raramente cooperam de modo tranquilo. E o governo Obama não está em posição de coordenar o trabalho de centenas de empresas buscando lucros e precisando dar uma resposta aos seus acionistas.

Quando os preços devem se recuperar?

Não em breve. A produção de petróleo continua aumentando nos Estados Unidos e em alguns outros países. Muitos bancos em Wall Street preveem que o preço pode chegar a US$ 40 o barril nos próximos meses. Mas a produção provavelmente começará a declinar no segundo semestre do ano e então os preços começarão a subir. A história do petróleo é uma história de elevação e queda que ocorre regularmente.

 

Fonte: O Estado de São Paulo – Clifford Krauss, The New York Times
14/01/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |