Diante do agravamento da crise na indústria naval provocada pelo escândalo da Petrobras, o governo conseguiu finalizar os últimos detalhes da operação de socorro à Sete Brasil e assina na próxima semana pelo menos três contratos para financiamento de construção de sondas de perfuração de águas profundas.
Segundo um assessor presidencial, a operação vai “tirar a Sete da UTI”, maior fornecedora de sondas da Petrobras na exploração do pré-sal, em dificuldades financeiras e com dívidas em atraso até dezembro passado num total de R$ 800 milhões.
O fechamento da operação veio depois de pressões do Planalto reveladas pela Folha. A presidente Dilma passou a acompanhar de perto as negociações para assinatura dos contratos, depois de convocar no dia 14 os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e do BB, Aldemir Bendine, para destravar as operações, aprovadas desde o início de 2014.
O socorro para a Sete virou prioridade para a presidente diante do risco de quebra não só da empresa como dos estaleiros contratados por ela para construção das sondas, já em fase de produção. A maior parte já está com pelo menos metade concluída.
Será financiada nesta primeira etapa a construção de oito sondas. O BNDES entrará com US$ 3,1 bilhões (R$ 8,3 bilhões), a Caixa, com US$ 1,5 bilhão (R$ 4 bilhões), e o banco UK, que quase saiu da operação, com US$ 200 milhões (US$ 537 milhões).
Um auxiliar da presidente afirma que em um mês todos os oito contratos estarão assinados, sendo que três na próxima semana. A partir da assinatura, a liberação dos recursos começa a ser feita num prazo de 40 dias.
Enquanto o dinheiro do financiamento das sondas não entra no caixa da Sete, o Banco do Brasil vai fazer um empréstimo-ponte de R$ 800 milhões para resolver os problemas mais urgentes da empresa. O BB condicionava a liberação desses recursos à assinatura dos contratos.
Na mesma linha, a Caixa resolveu ampliar o prazo de pagamento de um empréstimo-ponte feito para a Sete, de R$ 400 milhões, até a assinatura dos contratos.
A demora do BNDES e da Caixa em assinar os contratos deveu-se ao temor da cúpula dos bancos de levar calotes, já que diversas empresas investigadas pela Operação Lava Jato estão envolvidas nos projetos de construção de sondas -as negociações só destravaram após pareceres do Banco Central e da AGU darem aval aos contratos, como revelou a Folha.
Além disso, o primeiro diretor de operações da companhia foi Pedro Barusco, que confessou ter recebido propina quando era gerente da estatal e fez um acordo de delação premiada.
A empresa foi criada para construir e alugar 28 sondas de perfuração para a Petrobras, um projeto de US$ 25 bilhões (R$ 67 bilhões). Surgiu da decisão do governo de usar o pré-sal para estimular a indústria naval. Tem como sócios a própria Petrobras, bancos como Bradesco, BTG Pactual e Santander e os maiores fundos de pensão de estatais do país.
Fonte: Folha de São Paulo/ Valdo Cruz, Natuza Nery, de Brasília