Os blocos de exploração de petróleo que a Petrobras decidiu pôr à venda, dentro do programa de desinvestimento de ativos que pretende arrecadar até US$ 13,7 bilhões entre 2015 e 2016, incluem reservas do pré-sal. O plano de venda de ativos foi anunciado em 2 de março. De acordo com estimativas de mercado, a venda dos blocos poderia responder por cerca de 30% do valor total do programa, ou cerca de US$ 4 bilhões.
Segundo o Valor apurou, a empresa decidiu colocar blocos de boa qualidade no pacote para torná-lo mais atraente para os investidores. São alguns lotes à venda, que poderão ser adquiridos individualmente. O processo de venda está começando agora, com a abertura das informações para os investidores interessados.
A coordenação do processo está com o Bank of America, um dos contratados para a venda de ativos. Procurado, o banco não comentou o assunto. Cada instituição recebeu o mandato para buscar compradores para um grupo de ativos, que incluem a BR Distribuidora, ativos de energia na América Latina e, possivelmente, a participação na Braskem. Para esse último, segundo fontes, ainda não houve banco contratado, mas é algo que deve acontecer em breve.
A venda de ativos do pré-sal pode ajudar duplamente a Petrobras a lidar com os problemas de caixa no curto prazo, uma vez que ajudaria a estatal a levantar recursos e reduziria a necessidade de investimentos em projetos futuros.
“A Petrobras tem grande reservatório nas mãos, mas precisa desenvolvê-lo, e tem problema de caixa no curto prazo. Como essas bacias são grandes, ela pode abrir mão de pequena parcela no curto prazo, para superar esses problemas”, diz analista de um grande banco.
A negociação de ativos no pré-sal pode esbarrar, porém, em questões ideológicas do atual governo. Nos últimos anos, se esforçou em garantir, inclusive por lei, o papel de destaque da estatal nos projetos do pré-sal, ao conceder o monopólio da companhia na operação de campos sob regime de partilha.
Caso opte por vender parte de sua participação no pré-sal, a eventual negociação se restringiria às áreas de concessão e à fatia de 10% no campo de Libra, do regime de partilha. Estariam fora da lista áreas de cessão onerosa, como Búzios, e a participação mínima de 30% prevista em lei em Libra.
O ativo mais valioso da petroleira no pré-sal é o bloco BM-S-11, onde estão concentrados os campos de Lula (já produtor), Iracema e Iara. A estatal possui 65% da área, em parceria com a portuguesa Galp Energia (10%) e a Shell / BG (25%).
Lula é o principal campo em fase de produção no pré-sal. A área produz 340 mil barris de óleo equivalente por dia (BOE/dia), o equivalente a 42% da produção de óleo e gás do pré-sal, de fevereiro.
Outro importante ativo é o bloco BM-S-9, que concentra os campos de Sapinhoá (produtor) e Lapa. A petroleira detém 45% do bloco, em sociedade com Repsol Sinopec Brasil (25%) e Shell/BG (30%). Sapinhoá responde por cerca de 20% do total produzido no pré-sal.
Além dos blocos na Bacia de Santos, a Petrobras possui produção expressiva em áreas na Bacia de Campos. Em Marlim Sul e Parque das Baleias, que abrigam poços tanto pré-sal quanto nos pós-sal, a estatal produz 240 mil BOE/dia na camada abaixo do sal. Nesses campos, haveria espaço mais que suficiente para que a petroleira vendesse fatia de sua concessão, já que detém 100% das áreas.
Fora os projetos já em produção, um eventual desinvestimento no pré-sal poderia incluir áreas com descobertas conhecidas do mercado e com previsão de produção nos próximos anos, como os blocos BM-S-8 (Carcará), onde detém 66%; e o bloco BM-S-24 (Júpiter), onde opera com 80%. A carteira de ativos no pré-sal conta com descobertas sem previsão de produção, como o BM-S-50 (Sagitário), onde opera com 60%, e o BM-S-21 (Caramba), onde detém 80%.