GENEBRA – A batalha global por fatias de mercado entre produtores de petróleo está apenas começando, em um ambiente próximo à saturação da oferta, avalia a Agência Internacional de Energia (AIE) em seu relatório mensal, divulgado ontem, quarta-feira.
O preço do barril caiu cerca de 50% desde junho do ano passado, pela combinação de menor demanda e aumento da produção de “shale oil” (óleo não convencional, a partir de xisto) nos Estados Unidos.
Para manter suas fatias de mercado, os membros da Opep, o cartel de produtores liderado pela Arábia Saudita, resolveu manter a produção em alta, elevando a pressão sobre os produtores americanos, que têm custo de exploração mais elevado.
Agora, a AIE constata que, após meses de corte de custos e de baixa na extração, o implacável aumento no suprimento de petróleo nos Estados Unidos parece, enfim, estar diminuindo. Mas diz ser prematuro considerar que os produtores da Opep ganharam a batalha por fatias de mercado. “Na verdade, a batalha está apenas começando”, avalia a agência, sediada em Paris.
Primeiro, porque vários outros produtores, fora do cartel da Opep, mostram bom desempenho. A AIE elevou a projeção desses produtores em 200 mil barris diários, para 830 mil barris por dia.
As companhias de petróleo da Rússia estão lidando “excepcionalmente bem” com a menor cotação do barril de petróleo e as sanções internacionais, graças a um regime tributário que atenua o pagamento de imposto quando o preço cai e o rublo desvaloriza.
A AIE nota também que, apesar de todos seus problemas, a Petrobras é uma história de sucesso. A produção brasileira aumentou 17% no primeiro trimestre, em comparação ao mesmo período de 2014. A China também elevou a produção, assim como Vietnã e Malásia.
Ao mesmo tempo, não há sinais, na Opep, de corte de produção para defender o preço do barril. A AIE alerta que o mercado global de petróleo está quase em vias de saturação, por causa da manutenção da produção da organização em níveis próximos ao seu recorde histórico, na tentativa de ganhar participação de mercado.
Os países do Golfo estão aumentando a produção e investindo agressivamente em futura capacidade de produção. Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos também estão aumentando a exploração de petróleo. Iraque e Líbia, em pleno conflito interno, continuam a explorar mais óleo. No Irã, a produção alcançou o maior volume desde julho de 2012, quando as sanções internacionais entraram em vigor contra o petróleo iraniano.
Para a AIE, mesmo se uma demanda mais elevada que a prevista contribuir para limitar essa situação, o crescimento do consumo mundial não terá nada de excepcional. A agência sinaliza que a quase saturação, no caso do petróleo bruto, parece estar passando para as refinarias – o que pode, por sua vez, anular rapidamente a recente recuperação de preços do barril.
Conforme a agência, a produção mundial supera a demanda em 2 milhões de barris por dia, diante do crescimento da produção nos EUA e da decisão do cartel da Opep de não reduzir sua produção para forçar os produtores americanos, que tem custos mais elevados de extração, a reduzir suas atividades.
Mas a entidade sinaliza que o aperto na exploração de petróleo nos EUA deve ser examinado no contexto atual. Com as persistentes turbulências políticas no Oriente Médio e no norte da África, os riscos sobre os preços não são pequenos no mercado de petróleo, atualmente. Assim, diante do papel central que o petróleo dos EUA tem para o aumento do fornecimento da matéria-prima, uma desaceleração nesse suprimento teria forte impacto no equilíbrio do mercado.