O Brasil registrou neste ano a sua pior colocação no Índice de Competitividade Mundial 2015 (World Competitiveness Yearbook) – ranking elaborado anualmente pelo International Institute for Management Development (IMD). Na edição divulgada nesta quarta-feira, 27, pela escola suíça de negócios, que, no País trabalha em parceria com a Fundação Dom Cabral, o Brasil ocupou o 56º lugar, duas posições abaixo em relação ao ranking do ano passado.
Desde 2010, último ano em que registrou expansão, o País já perdeu nada menos do que dezoito posições. Agora, só está na frente de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela – países em situação econômica, política e internacional muito pior que a brasileira, exibindo conflitos domésticos ou externos de repercussão muito mais abrangente. “Abaixo (no ranking), estão países com uma situação muito mais dramática que a do Brasil. Comparar o Brasil com a Ucrânia é brincadeira”, afirma o professor da escola de negócios suíça IMD, Carlos Primo Braga. No extremo oposto, liderando o ranking, estão Estados Unidos, Hong Kong, Cingapura, Suíça e Canadá, nessa ordem.
A desaceleração da economia foi o principal fator apontado para a queda. Apesar de o País se manter como a sétima maior economia do mundo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,1% no ano passado, ante um expansão de 2,3% da economia mundial, explica parte da perda de posições. A expectativa de uma contração de 1% do PIB neste ano, juntamente com as dificuldades de se controlar o déficit fiscal e uma previsão de inflação de 8,2%, também contribuíram para o desempenho mais fraco do País.
A análise do impacto do ambiente político, institucional e regulatório – tradicionalmente o ponto mais crítico para a competitividade do Brasil – atingiu uma posição ainda mais alarmante. Desde 2011, o País está entre as cinco piores nações neste fator, caracterizado na pesquisa como “Eficiência Política”. Em 2015 ficou em penúltimo lugar, atrás apenas da Argentina. “Sem conseguir implementar as reformas necessárias, o Brasil tem hoje um sistema regulatório muito complexo e um marco trabalhista de pouca flexibilidade, o que faz do País um dos piores lugares do mundo para se fazer negócio”, afirma Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e responsável pela coleta e análise dos dados do ranking no Brasil.
Transparência
Outro motivo para a queda no ranking é a péssima percepção sobre a transparência do governo registrada nas pesquisas de opinião feitas entre março e abril. “No quesito subornos e corrupção, o Brasil figura vergonhosamente na última posição entre os 61 países analisados”, escrevem os pesquisadores no sumário executivo do anuário. Ou seja, na opinião dos entrevistados, o País ganhou uma nota pior que as de Rússia, Cazaquistão, África do Sul e todos os outros 57 países pesquisados no critério da transparência.
Além do desempenho da economia e da eficiência do governo, a pesquisa possui ainda dois pilares de estudo: a eficiência empresarial e, por fim, infraestrutura. O ranking geral abrange 61 países (neste ano entrou a Mongólia), avaliados sob mais de 300 critérios, e uma pesquisa de opinião realizada com seis mil executivos.
Neste ano, o País também sofreu uma queda expressiva na categoria “eficiência empresarial”, que analisa o quanto o ambiente da nação incentivas as empresas a atuar de forma inovadora, rentável e responsável. Dentro dessa categoria, no quesito “produtividade e eficiência”, o País só está à frente de África do Sul e Venezuela, o que indica a dificuldade do Brasil de sustentar crescimentos produtivos de longo prazo. Falta de capacitação dos trabalhadores e pouco investimento em inovação ajudam a explicar o baixo crescimento de produtividade no Brasil. Por fim, no pilar infraestrutura, velho gargalo da produtividade brasileira, a situação foi agravada pela crise hídrica e pelo risco de racionamento.
Para Arruda, da Fundação Dom Cabral, o ranking dá alertas para o País do que deve ser feito no curto e no longo prazo. “Para avançarmos em competitividade, não há como fugir da velha receita de investimentos de longo prazo em educação, logística, ciência e inovação, aliada a reformas institucionais que eliminem burocracias e criem agilidade, flexibilidade e transparência do setor público. E precisamos urgentemente traduzir tudo isso em ganhos reais de produtividade”, diz Arruda.
Prognósticos
Numa tentativa de prever se o Brasil vai cair de novo no ranking do ano que vem, Braga e Arruda demonstram algum otimismo. O motivo, entretanto, não é muito nobre. Os professores veem um “colchão” que protege o País de uma queda maior. “Imagino que não vamos cair, porque tem esse colchão de países em situação mais dramática que o Brasil”, diz Braga, referindo-se às cinco economias menos competitivas que a brasileira. “O Brasil chegou em um ponto limite. Não há como cair mais. Abaixo dele estão países com situação muito pior”, afirma Arruda.
Braga argumenta que não dá para prever se o Brasil poderá ganhar posições. Por um lado, a expectativa macroeconômica “não é boa”. Por outro, as finanças públicas tendem a melhorar. Como herança longeva, permanecem os problemas estruturais, como a infraestrutura básica, de educação, ciência e tecnologia muito aquém do esperado.