Brasil tem 3º maior déficit do mundo na balança de serviços

  • 19/05/2015

O governo mapeou detalhadamente o déficit na balança de serviços para planejar ações de inteligência comercial e diminuir um rombo de US$ 47,2 bilhões nas contas externas. Esse saldo negativo foi o terceiro maior do planeta no ano passado, em uma lista de 20 países, atrás somente da China e da Alemanha. Desde 2009, o vermelho na conta de serviços quase triplicou, já que as importações cresceram 97,3% e as exportações aumentaram 51,7%.

A numeralha faz parte de um novo sistema de contabilidade a ser lançado hoje pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O Siscoserv, que terá divulgação semestral, toma como base o registro obrigatório de informações pelas empresas. Junto com o Banco Central e com a Receita Federal, o ministério vinha trabalhando desde 2006 na estruturação dos dados, já que era preciso estabelecer nomenclaturas para esses serviços.

Do projeto, saiu uma conclusão alarmante: o déficit sobe ano a ano. As maiores despesas brasileiras envolvem o arrendamento mercantil ou operacional de máquinas e equipamentos (principalmente na cadeia de óleo e gás), o frete marítimo e o licenciamento de direitos autorais. Esses três gastos corresponderam a 60% de todas as importações de serviços no ano passado. Na visão do governo, são áreas relacionadas ao processo de desenvolvimento da economia, já que refletem o aumento da exploração de hidrocarbonetos e o crescimento do comércio de bens – o afretamento de navios é amplamente dominado por companhias estrangeiras.

Do lado das exportações, os serviços de consultoria gerencial dominam a pauta. Essa nomenclatura abrange consultorias nas áreas financeira, de recursos humanos, marketing e relações públicas, entre outros. As exportações de serviços de engenharia, que envolvem obras de empreiteiras brasileiras no exterior, ainda não foram devidamente contabilizadas na primeira edição do Siscoserv. A próxima atualização, com números fechados do primeiro semestre de 2015, deverá sair em outubro ou novembro.

“Não tínhamos estatísticas suficientes, com esse nível de detalhamento, para aperfeiçoar a definição e o acompanhamento de políticas públicas para o comércio exterior de serviços”, disse ao Valoro secretário de comércio e serviços do ministério, Marcelo Maia. Sem desconsiderar o tamanho do déficit, ele avalia que o novo sistema torna mais transparente o desafio de reverter esse quadro, principalmente pelo aumento das exportações. “Mas ficava difícil estabelecer onde focar as nossas ações para obter resultados mais efetivos sem o conjunto de números de que dispomos a partir de agora. Era complicado até mesmo apoiar a internacionalização das empresas brasileiras, o que é uma prioridade nossa, sem saber exatamente o que e para onde elas exportam”, afirma.

De acordo com Maia, o setor de serviços será contemplado no Plano Nacional de Exportação, que está em fase final de preparação. Amanhã, em Brasília, um conjunto de 16 associações e entidades empresariais terá um dia inteiro de reuniões com técnicos do ministério para identificar quais as necessidades de medidas de apoio governamental e barreiras enfrentadas no exterior. “Com esse agrupamento de informações, teremos um plano bem definido de alavancagem das exportações de serviços.”

Na prática, segundo o secretário, as novas estatísticas do Siscoserv vão ajudar o governo na formatação de missões comerciais a outros países, detectando empresas que já exportam trabalhando melhor ações de inteligência comercial. As principais informações sobre o comércio exterior de serviços entrarão no sistema em tempo real, mas serão divulgadas ao público externo semestralmente, com três meses de defasagem. Ele explica que a dinâmica dos serviços é diferente do registro de bens e exige mais tempo de compilação.

De acordo com o Siscoserv, os Estados Unidos foram o maior destino das exportações brasileiras de serviços, com vendas de US$ 6,1 bilhões em 2014 – o equivalente a 29,4% do total. Quatro países europeus – Países Baixos, Suíça, Alemanha e Reino Unido – dão sequência à lista. O sistema permite ver que São Paulo representa 60% das exportações.

No campo das importações, os americanos também são a principal fonte de serviços comprados pelo Brasil, com 27,2% – há forte peso de direitos autorais e serviços de propaganda.

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Fonte: Valor Econômico – Daniel Rittner

 

19/05/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |