Construção de plataformas em xeque no RS

  • 20/05/2015

A crise no QGI soma-se à do Estaleiro Rio Grande (ERG), da Ecovix, controlada do grupo Engevix, que foi contratado para construir oito cascos de plataformas, mas não consegue convencer a Caixa Econômica Federal a liberar parcela de financiamento retida e deve começar a demitir nesta semana. A dificuldade de liberação de recursos nos dois casos está ligada a denúncias na Operação Lava-Jato.

Segundo o secretário de desenvolvimento do governo do Rio Grande do Sul, Fábio Branco, que também acompanha o assunto e é de Rio Grande, além do aditivo financeiro está em discussão o prazo para a conclusão das obras. A P-75 teria que entrar em operação em 2016 e a P-77, no ano seguinte, mas o QGI quer que as duas fiquem para 2017. “O projeto todo está atrasado”, comentou.

Conforme Branco, o projeto da QGI é “estratégico” para o Estado, principalmente porque permitirá a recontratação de trabalhadores dispensados depois que o próprio Honório Bicalho concluiu as plataformas P-63, P-55 e P-58, em 2013. Atualmente o estaleiro emprega menos de 300 pessoas, mas a expectativa da Petrobras era que no pico do projeto o número chegaria a 4,4 mil. Gonçalves, do Sindicato dos Metalúrgicos, calcula que hoje há mais de 7 mil desempregados do setor na cidade.

Deve sair nesta semana a decisão da Petrobras sobre o destino das obras das plataformas P-75 e P-77 no estaleiro Honório Bicalho, em Rio Grande (RS), paralisadas desde fevereiro. A estatal reluta em firmar os aditivos exigidos pelo consórcio QGI Brasil (Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás), responsável pelo projeto, e por enquanto a tendência é que o contrato seja rescindido. Com isso, a construção teria de ser relicitada.

Uma fonte ao par da negociação entre QGI e Petrobras disse que as duas partes chegaram a um impasse difícil de ser superado, apesar dos argumentos do consórcio de que as plataformas, quando em operação, vão gerar R$ 20 bilhões em receitas por ano. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, Benito Gonçalves, informou que a última tentativa de acordo será feita em encontro nos próximos dias.

Procurados pelo Valor, a Petrobras e o consórcio não se manifestaram até o fechamento desta edição. No início de fevereiro, quando comunicou à estatal que decidiu suspender a construção e a integração dos módulos da P-75 e P-77, o QGI havia afirmado que o projeto básico fornecido pela contratante teve que ser aperfeiçoado e passou a demandar mais recursos, mas o custo adicional não foi informado.

O contrato original para as obras das duas plataformas foi assinado em setembro de 2013 na sede do governo do Rio Grande do Sul pela então presidente da estatal, Maria das Graças Foster, na presença da presidente Dilma Rousseff. O valor global chegava a US$ 1,6 bilhão, incluindo a preparação e a conversão dos cascos nos estaleiros da Cosco, na China, e Inhaúma, no Rio de Janeiro.

Cada uma das FPSOs (que extraem, armazenam e transferem o petróleo) terá capacidade instalada de 150 mil barris por dia e ambas vão operar nos blocos de cessão onerosa no pré-sal da Bacia de Santos. Pelo menos até a suspensão dos trabalhos no Honório Bicalho a Petrobras vinha liberando os pagamentos periódicos previstos no contrato original.

No Estaleiro Rio Grande o problema é a retenção, pela CEF, de uma parcela de R$ 63 milhões do financiamento de R$ 200 milhões com recursos do Fundo de Marinha Mercante para a construção dos oito cascos. A planta emprega 7 mil pessoas, além de 3 mil terceirizados, mas o grupo Engevix já avisou que sem a liberação do empréstimo só terá fôlego para manter o pessoal até o fim do mês.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, entre 300 e 400 trabalhadores serão dispensados ainda nesta semana e cerca de mil terceirizados sequer receberam o salário de abril.

O primeiro dos oito cascos previstos para o ERG, destinado à P-66, já foi entregue e o segundo, para a P-67, está em fase final. O estaleiro também tem contrato para construir três sondas para a Sete Brasil, que estão em compasso de espera e, conforme o Valor apurou, fazem parte dos recebíveis dados em garantia à Caixa.

Com o envolvimento da empresa na Operação Lava-Jato, porém, o banco estatal considera que estes ativos se tornaram duvidosos e nos últimos dias um dos sócios do grupo, José Antunes Sobrinho, tem se empenhado pessoalmente nas negociações pela liberação dos recursos. Até agora, sem sucesso.

Fonte: Valor Econômico – Sérgio Ruck Bueno
20/05/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: , , , |