A Sete Brasil já encontrou solução para obter R$ 25 bilhões em financiamento, segundo fonte ligada à reestruturação financeira da empresa. Os recursos permitem a construção de 19 sondas. As tratativas para esses financiamentos estão acertadas e incluem recursos de instituições nacionais, como Banco do Brasil, Caixa e Bradesco. Na semana passada, a companhia avançou em conversas com bancos chineses para obter R$ 6 bilhões adicionais, que podem permitir a manutenção da construção de sete sondas com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), conforme fonte ligada à reestruturação da Sete. As obras no estaleiro estão paralisadas desde janeiro e as relações estremecidas.
Além disso, o Estaleiro do Rio Grande (ERG) ficará com a produção de duas, de um total inicial de três sondas. E, por fim, o Enseada Indústria Naval mantém quatro unidades para construir, que mais à frente devem ser vendidas à Odebrecht. A implementação completa do plano deve levar pelo menos mais seis meses.
A primeira questão a ser enfrentada é se a Petrobras, acionista da Sete Brasil direta e indiretamente com 10% do capital e cliente, quer manter essas encomendas.
O corte deste projeto traria um grande prejuízo à Sete, que tem diversos acionistas privados no controle, com destaque para BTG Pactual, Santander e Bradesco, organizadas no FIP Sondas, fundo que tem entre os cotistas Previ, Petros, Funcef e Valia (caixas de previdência de Banco do Brasil, Petrobras, Caixa e Vale) e mais EIG, Luce Venture Capital e Lakeshore.
Credores devem oferecer recursos de até R$ 25 bi à Sete
A solução com o EAS envolve a definição sobre qual o maior interesse nacional, no caso da Sete. De um lado, a manutenção das encomendas assegura empregos e geração de riquezas nas cidades onde os estaleiros estão instalados. A presidente Dilma Rousseff (PT) esteve ontem no EAS, para entrega de navios à Transpetro.
Por outro, a estatal está com as finanças apertadas, diante dos problemas deflagrados pela Operação Lava-Jato do Ministério Público Federal (MPF). Há grande pressão e expectativa para que a estatal reduza seus investimentos.
A disposição de conceder crédito à Sete vem da tentativa de evitar prejuízo a fornecedores desses países contratados para as obras – que sofriam perda com o cancelamento de obras.
As conversas com as instituições chinesas, conforme o Valor apurou, estão sendo auxiliadas pelo grupo chinês Cosco (China Ocean Shipping Company). Conforme o Valorapurou, a Sete tem condições de obter parte relevante dos recursos a um custo de Libor mais 4% a 5% ao ano.
Assim como a Sete Brasil tem interesse em buscar recursos para manter o projeto, o EAS também está disposto a negociar de forma amigável a situação. Após declarar falta de pagamento, o estaleiro anunciou de forma unilateral o fim do contrato para a fabricação de sete sondas e agora enfrenta também uma grave crise financeira, com dívidas de R$ 2,67 bilhões, mais pendências com fornecedores para as sondas.
Apesar da disposição de negociação, e das conversas já existentes entre Sete e EAS, a formalidade entre elas deve seguir dura.
Nos próximos dias, conforme o Valor apurou, a Sete deve responder à carta recebida ontem do EAS. A companhia de sondas entende que o estaleiro tem US$ 600 milhões recebidos adiantados, e não repassados aos fornecedores, e ainda deveria pagar indenização superior a US$ 400 milhões pela rompimento do acordo. Portanto, o saldo líquido entre as partes, na visão da Sete, seria favorável a ela.
O EAS está disposto a retomar a construção das sondas. Mas, segundo fonte ligada à reestruturação do estaleiro, seria necessário rever algumas condições dos contratos inicialmente acertados. O estaleiro alega ter sofrido perdas importantes por conta da paralisação do projeto. Já a Sete Brasil entende que o contrato segue vigente pois até o momento não assinou nenhum termo de encerramento, e não vê espaço para renegociação.
Dentre as instituições dispostas a financiar a empresa de sondas estão o China Development Bank (CDB) e o Japan Bank for International Cooperation (JBIC) – ambos bancos de fomento dos países.
As dificuldades da Sete vieram do suposto envolvimento de contratos no esquema investigado pela Lava-Jato. O projeto seria financiado pelo BNDES, que não liberou os recursos após as denúncias. Isso deflagrou a crise na empresa, com dívida de US$ 3,8 bilhões.