“Aí, para tudo até receber”, afirmou o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Rio Grande, Benito Gonçalves. De acordo com ele, as empreiteiras alegam que não receberam o pagamento da Ecovix, controlada do grupo Engevix que detém 70% do estaleiro, e a empresa diz que não recebeu da Petrobras e aguarda a resposta da Caixa, que é a repassadora de um financiamento total de R$ 200 milhões do Fundo de Marinha Mercante.
O ERG tem cerca de 7 mil empregados diretos e de 2 mil a 3 mil terceirizados, todos executando as mesmas funções no canteiro de obras, disse Gonçalves. “Só muda a cor do macacão”. Conforme o sindicalista, as empreiteiras prometeram fazer o pagamento hoje, mas se o dinheiro não entrar, será feita uma assembleia amanhã com os terceirizados para decidir se eles entram em greve.
A Ecovix tem contrato para construir oito cascos para a Petrobras, em andamento, e três sondas para a Sete Brasil, em compasso de espera. O primeiro casco, para a plataforma P-66, já foi entregue e o segundo, para a P-67, está em fase final. Mas a Caixa está segurando o repasse devido ao envolvimento da Engevix na Operação Lava-Jato. Na quinta-feira, José Antunes Sobrinho, um dos sócios da Engevix, esteve na sede da CEF e pediu ao vice-presidente de governo da instituição, José Carlos Medaglia, para destravar o repasse. Saiu, porém, sem nenhum acordo.
Para o prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), sem o financiamento haverá uma “parada geral” do ERG. Ele tem audiência terça-feira, em Brasília, com os ministros da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, para pedir apoio na liberação e tentará falar com a presidente da CEF, Miriam Belchior. O argumento é que a Ecovix tem garantias suficientes para oferecer. “Os ativos estão lá, um dique-seco, equipamentos de ponta e um pórtico que vale R$ 331 milhões. Eles não são uma miragem”, afirmou.
Diante da falta de acordo com a Caixa Econômica Federal (CEF) sobre a liberação da parcela de R$ 63 milhões do financiamento à construção de cascos para plataformas da Petrobras, retida desde outubro, a Engevix atrasou os salários de abril da metade dos trabalhadores terceirizados do Estaleiro Rio Grande (ERG), no Rio Grande do Sul. Os empregados diretos da empresa receberam na quarta-feira, mas se hoje não sair o restante do pagamento dos funcionários das empreiteiras subcontratadas, eles devem entrar em greve.
Conforme apurou o Valor, a Caixa alega que o financiamento do estaleiro é um “project finance” que considera as encomendas da Sete Brasil, mas como a empresa vive uma situação de absoluta incerteza, as garantias de recebíveis dadas pela Ecovix – base do modelo – tornaram-se duvidosas. A Engevix argumenta que as encomendas de cascos de plataformas sustentam a operação do estaleiro, mas não convenceu o banco estatal.
Sem a liberação dos R$ 63 milhões, segundo fontes ligadas à Engevix, o grupo não consegue fechar um empréstimo de US$ 230 milhões que está em negociação com bancos chineses. Os asiáticos querem um sinal inequívoco de que as próprias instituições financeiras no Brasil tiraram a empresa da “lista negra” por causa dos desdobramentos da Lava-Jato. As discussões com a CEF vão continuar nas próximas semanas, mas a empresa já alertou que só tem fôlego para evitar demissões até o fim deste mês. Caso não saia um acordo, o grupo ameaça dispensar os 7 mil trabalhadores diretos de uma vez, além dos terceirizados.
Segundo o prefeito de Rio Grande, a crise da Ecovix agrava o drama do polo naval no sul do Rio Grande do Sul. O estaleiro EBR, da Toyo Setal, está com o cronograma de implantação atrasado em São José do Norte e o Honório Bicalho, do consórcio QGI (Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás) paralisou em fevereiro a construção dos módulos para a P-75 e a P-77 em Rio Grande devido à negativa da Petrobras em celebrar aditivos ao contrato.