A Sete Brasil, empresa criada para viabilizar a construção de sondas para explorar o pré-sal, vai reduzir quase pela metade as encomendas de unidades a cinco estaleiros. Do cronograma original de 29 sondas, restarão apenas 16. O problema é que a Sete Brasil já pagou antecipadamente cerca de US$ 1,4 bilhão em parcelas referentes às 13 sondas canceladas. O cálculo considera quanto cada estaleiro recebeu, o valor das sondas e a revisão de encomendas. No mercado, há dúvida sobre quem vai arcar com o prejuízo. Sem recursos, a Sete Brasil é alvo da Operação Lava-Jato da Polícia Federal (PF), que cita o pagamento de “comissões” entre a empresa e representantes de alguns estaleiros.
A notícia do corte das encomendas foi antecipada ontem pelo colunista Ancelmo Gois em seu blog no site do GLOBO. A Sete Brasil informou que a redução no número de sondas será analisada por uma assembleia de acionistas, convocada para a “próxima quinta-feira para deliberar sobre a apresentação do Plano de Reestruturação aos credores, que está programada para a próxima sexta-feira”. A Sete Brasil, que tem entre seus acionistas a Petrobras, foi criada em 2010 para construir as unidades no país e alugá-las para a Petrobras.
Plano de negócios da Petrobras
Assim, a redução no número de sondas será refletida no novo Plano de Negócios da estatal para os anos de 2015 a 2019, que deverá ficar entre US$ 129 bilhões e US$ 141 bilhões, redução de até 41% em relação ao plano anterior (2014-2018), de US$ 220,6 bilhões. A previsão era de que as primeiras 28 sondas seriam entregues entre meados deste ano e o início de 2020. Por isso, especialistas avaliam que a Petrobras pode sofrer redução nas metas de produção de petróleo para os próximos anos.
Segundo uma fonte, a Sete deverá manter inalteradas as encomendas de seis sondas para o Estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e de sete sondas para o Estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo. Segundo essa fonte, os contratos com os dois estaleiros foram mantidos porque há uma relação mais aceitável entre o avanço físico das obras e o cronograma financeiro em comparação com os demais estaleiros.
Por outro lado, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca, em Pernambuco, deverá ter suas encomendas reduzidas de sete para apenas uma sonda. O mesmo ocorre com o Estaleiro Paraguaçu, da Enseada Indústria Naval, em Maragojipe, na Bahia, que poderá ter redução de seis para uma unidade. Já o Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, também poderá ficar com apenas uma sonda em vez das três unidades, conforme o previsto anteriormente.
No caso dos estaleiros que, agora, vão construir apenas uma sonda, as perdas da Sete Brasil ficam evidentes. Segundo o balanço financeiro da empresa referente ao ano de 2014, o EAS já recebeu cerca de US$ 1,727 bilhão pela construção das sete sondas até dezembro do ano passado. Cada unidade custa cerca de US$ 662,4 milhões. Ou seja, o estaleiro recebeu mais do que o valor de uma sonda e agora construirá apenas uma unidade. O mesmo ocorreu com o Paraguaçu, que recebeu US$ 1,112 bilhão pelas seis unidades. Cada sonda tem um contrato de US$ 798,5 milhões. O Rio Grande, por sua vez, recebeu US$ 806 milhões pelas três unidades. Cada sonda tem valor de US$ 778 milhões.
— Quem vai arcar com o prejuízo? Os estaleiros já receberam muito mais do que o valor de apenas uma sonda — disse essa fonte, que não quis se identificar.
Em entrevista ao GLOBO, no fim de abril, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, havia antecipado a informação de que haveria uma redução nas encomendas da Sete. Segundo ele, não haveria “a necessidade a médio prazo, ou dentro daquele prazo que estava estimado, de ter as 28 sondas”. Ele destacou que “talvez um número menor atenda essa situação e dê ponto de equilíbrio para a Sete Brasil”.
Na ocasião, Bendine disse que foi feito um memorando de entendimentos para se redesenhar o modelo das sondas. Esse trabalho envolveu a reorganização das SPEs (empresas proprietárias das sondas, que têm a participação da Sete Brasil, da Petrobras e de empresas privadas). Segundo o presidente da estatal, seria dada preferência a unidades com obras mais adiantadas. Duas sondas têm entrega prevista para 2015: a primeira, da Jurong, chamada de Arpoador, para julho, e outra da Brasfels, batizada de Urca, para o fim do ano.
Pagamento suspenso desde novembro
Os problemas financeiros da Sete Brasil ganharam força no fim do ano passado, quando a empresa não obteve a primeira parcela do empréstimo do BNDES, que já havia sido aprovado. A expectativa era receber US$ 5 bilhões. Ao todo, a Sete receberia US$ 21 bilhões, divididos em três fases. Sem os recursos, a companhia — que passou a fazer empréstimos de curto prazo na tentativa de contornar o agravamento de suas finanças — suspendeu o pagamento aos cinco estaleiros em novembro do ano passado. Ao todo, já foram demitidos mais de 24 mil trabalhadores.
Uma das situações mais graves ocorre com o Estaleiro Paraguaçu, na Bahia, que teve de fechar as portas em fevereiro sem a conclusão das obras.
Em março, o banco Standard Chartered Bank, que fez um dos empréstimos de curto prazo para Sete, entrou com pedido de execução de garantias por falta de pagamento. Das sondas previstas, 28 haviam sido contratadas pela Petrobras e a última unidade seria oferecida pela Sete ao mercado nacional ou internacional.
Procurada, a Petrobras não comentou o assunto. A Sete Brasil, que confirmou a redução de encomendas, não explicou como vai equacionar o valor pago em encomendas canceladas.
Números
16 sondas:
É o número de unidades que serão usadas para explorar o pré-sal, contra as 29 do plano anterior
Us$ 1,4 bilhão:
Esse é o valor antecipado pela Sete Brasil a três estaleiros que tiveram 13 sondas canceladas no plano de reestruturação
Us$ 21 bilhões:
Era quanto o BNDES iria emprestar à Sete Brasil antes da Operação Lava-Jato
Fonte: O Globo – Bruno Rosa e Ramona Ordonez