Governo teme o destino de setores com alta ineficiência

  • 29/06/2015

BRASÍLIA – A busca pela produtividade deixará vítimas pelo caminho. Indústria e governo sabem que, para o país entrar de vez no mercado internacional e ser competitivo, alguns setores serão praticamente extintos. Só sobreviverão as empresas eficientes. Além de setores que balançaram com a crise de 2009, como as indústrias calçadista, moveleira e de couro, para o governo, há outros com nível de ineficiência elevado como os setores automotivo, petroquímico, eletro intensivo e a construção naval.

São setores com problemas estruturais, que em algum momento, têm que ser enfrentados. É óbvio que se a gente continuar retardando o ajuste que tem de ser feito, vamos manter capital e trabalhadores presos a essas companhias. Eu não falo de setores inteiros, falo de empresas, porque não são todas que são ineficientes. O problema não é o que você produz, é como você produz, avaliou um técnico do governo.

Para exportar ou evitar que os importados roubem a demanda no mercado interno, as empresas devem estar inseridas em cadeias globais de produção. A tendência global é que os países passem a produzir mais componentes ou insumos, enquanto a China, provavelmente, fará a montagem final.

Um exemplo de como a cada dia fica mais difícil enfrentar a concorrência mundial está no setor químico. Produzir no Brasil ficou caro demais. Para analistas, é melhor transferir a fábrica para os EUA, porque o custo é menor, já que lá a energia é mais barata. E com uma alta de mais de 40% prevista para este ano na conta de luz, ficará ainda menos vantajoso manter a produção aqui.

Foco no mercado interno

As empresas que sobreviverem em setores ineficientes, que não conseguirem ser enquadradas em cadeias globais, terão que se voltar para o mercado interno, avalia o gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. Ele cita como exemplo o setor do vestuário: Temos uma boa produtividade aqui com o algodão, mas não adianta competir com os chineses e fazer camisetas brancas. A saída é o produto diferenciado.

Para Fonseca, o Brasil perdeu a primeira onda de globalização. Com isso, deixou de pegar um pedaço da cadeia mundial. Agora, pode perder a segunda, porque ainda tem problemas estruturais como os altos custos internos e a burocracia. Além disso, ele lembra que questões que pareciam controladas, como inflação, desemprego, descontrole dos gastos públicos, reapareceram no cenário. Quando em 2013, o empresário sentiu a falta de mão de obra, achava a educação dos trabalhadores uma prioridade. Agora, isso não é mais. É controle de inflação e de gastos, concluiu Fonseca.

Fonte: O Globo – Martha Beck e Gabriela Valente

 

29/06/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |