Lava-Jato paralisa programa Progredir de apoio a fornecedores

  • 01/06/2015

Rio de Janeiro (RJ) – A crise desencadeada pela Operação Lava Jato praticamente paralisou o Progredir, um programa da Petrobras para agilizar e ampliar a oferta de serviços e reduzir o custo de financiamentos de capital para fornecedores, de acordo com dados obtidos pela Reuters com uma fonte da empresa e avaliações de especialistas.

Por meio do programa, empresas da cadeia de suprimentos da Petrobras podem obter empréstimos junto a bancos parceiros, tendo como garantia os contratos de fornecimento de bens e serviços assinados com a companhia. Neste ano até abril, o programa realizou apenas 33 operações de financiamento, somando 150 milhões de reais, montante ínfimo quando comparado com anos anteriores, segundo a fonte da empresa.

Criado em junho de 2011, o Progredir havia possibilitado até dezembro do ano passado quase 2 mil operações, com um total de 9,39 bilhões de reais em financiamentos, segundo a fonte, que forneceu as informações na condição de anonimato.

“Hoje, enquanto a Petrobras não se ajustar, não é uma boa garantia, porque muitos contratos com a Petrobras foram cancelados, quem entrou lá atrás com o contrato como garantia, perdeu”, comentou o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e diretor da consultoria DZ Negócios com Energia, David Zylbersztajn, ao ser consultado pela Reuters.

“Enquanto não houver segurança de performance dos contratos, dificilmente um contrato com a Petrobras vai servir como garantia”, completou. O Progredir era motivo de orgulho para a Petrobras, que periodicamente divulgava resultados alcançados. Atualmente, a empresa tem evitado falar sobre o tema com a imprensa.

Em um comunicado de junho de 2013, antes da eclosão do escândalo de corrupção de desvio de dinheiro em contratos de fornecedores com a Petrobras, a empresa anunciou que por meio do Progredir a redução do custo dos empréstimos para os fornecedores da Petrobras variava de 20 a 50 por cento.

Naquela época, a cada cem empresas que solicitavam recursos, 85 conseguiam fechar a operação, de acordo com a empresa. Procurada pela Reuters, a assessoria de imprensa da Petrobras informou que não forneceria informações atualizadas.

Ao todo, 11 bancos, dentre eles os maiores do país, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú-Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC, são financiadores de fornecedores da Petrobras por meio do Progredir.

Perspectivas de recuperação

Entretanto, a expectativa na empresa é que o Progredir volte a crescer num ritmo mais acelerado, devido à perspectiva de retomada da economia a partir do segundo semestre e de contratações para fazer frente ao novo Plano de Negócios da estatal 2015-2019, cuja publicação está prevista para acontecer em junho, segundo a fonte.

“Nossa perspectiva é ascendente”, disse a fonte.

Para o ano, a meta da Petrobras é superar 10 bilhões de reais em operações acumuladas desde 2011. Ou seja, a expectativa é de que se realizem mais cerca de 500 milhões de reais em transações este ano, além dos 150 milhões já fechados até abril.

“O ano para nós começou agora, com três ou quatro meses de atraso. Conseguimos divulgar nosso balanço, vem aí o Planejamento Estratégico e esperamos melhorar o programa”, declarou a fonte. O consultor e ex-integrante da diretoria da ANP John Forman concorda que o programa e o cenário para novos financiamentos para o setor de petróleo deverá ter uma melhora.

Para ele, a paralisia do Progredir aconteceu devido a ausência de novos contratos com a Petrobras e não porque a empresa deixou de ser uma boa garantia para os bancos.

“Os contratos com a Petrobras nunca foram questionados”, afirmou Forman. “A contratação de novos projetos foi reprimida. Na medida em que você tiver o programa estratégico aprovado e divulgado, aí você retoma sua fase de contratos.”

Em uma outra modalidade de apoio a fornecedores, o Progredir Antecipação de Faturas, o montante de empréstimos concedidos também avançou lentamente.

Nessa modalidade, equivalente ao adiantamento de recebíveis de contratos de empresas com a estatal, foram 1.902 operações neste ano até agora, somando um total de 550 milhões de reais, ante 17.498 transações, ou 4,78 bilhões de reais, de 2013, quando começou a operar, até o fim do mês passado.

Fonte: Reuters – Macaé Offshore
01/06/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |